Amigo "há 15 anos" do senador mineiro Aécio Neves,
com quem diz compartilhar saídas "de noite e de dia", o ex-astro da
Seleção Ronaldo decidiu declarar seu apoio ao projeto presidencial do tucano. A
preferência política, revelada em entrevista publicada ontem pelo jornal Valor
Econômico, causou forte reação nas redes sociais e entre os adversários do
PSDB, principalmente os petistas.
"Confio nele (Aécio) e acho que é uma ótima opção para
mudar nosso país", afirmou Ronaldo na entrevista concedida na sexta-feira.
No mesmo dia, o ex-jogador e hoje empresário que vive em Londres havia dito à
agência Reuters que sentia "vergonha" dos atrasos nas obras da Copa.
Ronaldo é conselheiro do Comitê Organizador Local (COL), entidade privada
ligada à Fifa responsável pela realização do Mundial no País.
Nas entrevistas, o ex-jogador defendeu a realização da Copa
e a Fifa, ambos alvo de protestos desde junho do ano passado. "Os culpados
são os governos que prometeram e criaram essa expectativa para o povo. É uma
oportunidade perdida", avaliou Ronaldo. "A gente tinha tudo para
aproveitar esta grande chance e fazer tudo acontecer, entregar todos os
investimentos prometidos ao povo e fazer uma grande festa."
Repercussão. Acostumado a ser assunto no fim de semana e nas
manhãs de segunda-feira, quando torcedores travam calorosos debates sobre os
jogos do fim de semana e os gols da rodada, Ronaldo repetiu a dose ontem, mas
no debate político.
"(Ronaldo age) como alguém que tenta se dissociar na
reta final para evitar qualquer tipo de desgaste", afirmou o secretário
nacional de Comunicação do PT, vereador paulistano José Américo Dias, em
resposta às críticas sobre as obras para a Copa. Para o petista, que participava
de uma reunião partidária em Brasília, Ronaldo está "preparando o
terreno" para o pré-candidato tucano, embora seja
"corresponsável" pelo evento em função do cargo no COL.
No sábado, a presidente Dilma Rousseff já havia aproveitado
um evento público para rebater a crítica do ex-jogador. "Tenho certeza de
que o nosso país fará a Copa das Copas. Tenho certeza da nossa capacidade.
Tenho certeza do que fizemos, tenho orgulho das nossas realizações",
afirmou. "Não temos do que nos envergonhar e não temos complexo de
vira-latas."
A afirmação refletia o quanto a petista havia se incomodado
com o tiro de Ronaldo contra as obras da Copa. Ontem, Dilma tirou o pé e evitou
prolongar a polêmica. Ao ser questionada por jornalistas se estaria
"brava" com Ronaldo, disse apenas "não" e seguiu o curso.
Outro adversário de Aécio na disputa de outubro, o
pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, limitou-se a considerar
"normal" o apoio de Ronaldo ao tucano. "Qualquer cidadão tem
direito, na democracia, de fazer sua escolha", disse o ex-governador de
Pernambuco, no "Cafés da Manhã Estadão Corpora", realizado ontem em
São Paulo (mais informações na pág. A8).
'Patrulha'. Em defesa do amigo, Aécio afirmou que Ronaldo de
fato está "à disposição" da campanha presidencial tucana, mas que
ainda não há nada definido sobre o papel do ex-camisa 9. "Ronaldo deu uma
opinião como cidadão. Ele e outras pessoas que manifestam apoio são
imediatamente patrulhadas", disse ontem, quando também esteve em agenda em
São Paulo.
As declarações ultrapassaram as quatro linhas da disputa
eleitoral, ou melhor, também repercutiram entre outro craque em unir futebol e
política. Ex-centroavante como Ronaldo, mas dono da camisa 11, o hoje deputado
Romário (PSB-RJ) não aprovou as críticas do ex-parceiro de seleção - os dois
estavam na equipe que conquistou o tetra nos Estados Unidos, 20 anos atrás.
"Tenho a minha bandeira e as minhas colocações. Não mudo de lado,
dependendo da forma que acontece o jogo", afirmou Romário no Rio, ao ser
questionado sobre o assunto.
O jogador Gilberto Silva, pentacampeão com Ronaldo em 2002,
não quis comentar o assunto após deixar ontem o Palácio do Planalto, onde
participou de reunião do Bom Senso Futebol Clube com a presidente.
Conteúdo do jornal O Estado de S.Paulo
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