Da IstoÉ
Um exército de militantes com cargos públicos se organiza
para elevar o tom da Propaganda eleitoral de Dilma e evitar um revés na urnas.
Até o ex-presidente Lula entra na briga com um discurso mais radicalizado
A eventual reeleição de Dilma Rousseff para a Presidência
marcaria um recorde na história da República: nunca um partido político terá
ficado por tanto tempo no poder. Nem mesmo os 21 anos da ditadura militar, com
suas divisões internas e troca de grupos de comando, podem ser vistos com um
período de direção partidária única, como seriam os 16 anos da era petista. O
estilo da ação e a longevidade do PT no Palácio do Planalto claramente já
deixaram marcas na máquina administrativa e política do governo. Ao longo de 12
anos, o número de cargos de confiança, por exemplo, saltou de 17 mil para 22
mil. Este universo de servidores, frequentemente nomeados por critérios
políticos, criou uma estrutura de petistas aguerridos e abnegados, cujos
salários e encargos fiscais consomem mais de R$ 200 bilhões por ano. Isso não é
coisa para se desleixar. O risco de não ganhar as eleições já deixa esses
servidores-militantes em desespero. A perda de poder em Brasília – ou, vá lá,
da chance de praticarem seus ideais – assusta tanto quanto a perda dos cargos
comissionados e a perspectiva de terem de a retornar a seus estados de origem
para buscarem novos empregos. Hoje, os DAS (cargos de Direção e Assessoramento
Superior) podem passar de R$ 20 mil mensais.
Este clima de tensão entre os servidores-militantes
contaminou a campanha eleitoral e pode explicar boa parte do tom da propaganda
petista, que passou a adotar o jogo bruto, com ataques exagerados aos
adversários e alguma falta de discernimento entre o público e o privado. No
início do mês, uma reunião na sede do partido, em São Paulo, se transformou em
uma acalorada discussão sobre a participação mais efetiva dos funcionários
públicos na eleição. No encontro, líderes do PT cobraram mais empenho de
servidores comissionados e os exortaram a ir às ruas em favor da reeleição de
Dilma Rousseff. O recado estava implícito. Quem não se mexer, tem o emprego
ameaçado. Assim, o PT tem organizado caminhadas pelo País, a exemplo da que
ocorreu em Brasília no último dia 13, em que grande parte dos cerca de quatro
mil participantes era de funcionários públicos. Atos em prol da candidata do
PT, como a reunião com artistas brasileiros, no último dia 15, viraram palcos
quase exclusivos de ataques a adversários. Dilma aproveitou a oportunidade
para, em tom agressivo, repetir diversas vezes que as propostas de Marina
Silva, candidata do PSB, apresentariam riscos ao País. No mesmo dia, o exército
de internautas petistas divulgava nas redes sociais críticas da classe
artística à segunda colocada nas pesquisas.
Na semana passada, uma manifestação de homenagem a Petrobras
capitaneada pelo ex-presidente Lula ilustrou bem o atual momento da campanha.
Suado e descabelado, Lula esbravejou ao pedir apoio dos militantes. Disse que é
preciso proteger a estatal contra Marina Silva, afirmando que ela não conhece e
não dá importância às riquezas do pré-sal. Antes do evento, em uma reunião
rápida com o líder do Movimento dos Sem Terra, José Pedro Stédile, Lula
conclamou o antigo aliado a se engajar na campanha. A resposta veio rápida. Em
entrevista, na segunda-feira 15, Stédile prometeu realizar invasões e fazer
protestos diários, caso Marina vença a eleição. No comitê da candidata do PSB,
a ameaça virou piada. “Entendo o temor deles, que vão ficar sem empregos”,
respondeu o coordenador do comitê financeiro do PSB, Márcio França.
Mas o comportamento da campanha de Dilma está longe de ser
uma distração eleitoral. De olho num embate no segundo turno das eleições, os
petistas voltaram a jogar pesado no horário eleitoral gratuito. Na TV, um
locutor apareceu dizendo que, se eleita, Marina Silva vai tirar R$ 1,3 trilhão
da Educação e extinguir o pré-sal. A peça publicitária foi exibida dias depois
do polêmico vídeo que mostrava uma família com a comida saindo no prato, como
conseqüência da proposta de autonomia do Banco Central apresentada por Marina.
Diante dos ataques, a candidata do PSB entrou com três representações no TSE
contra a veiculação das propagandas do PT. No documento, argumentou que sua
imagem fora duramente atingida pela candidata adversária, que teria apresentado
um dado fraudulento com o propósito de incutir o medo nos eleitores. O mérito
ainda não foi julgado, mas conta com o parecer favorável do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, que viu intenção deliberada dos petistas de criarem
“artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou
passionais”, o que é vedado por lei. Para ironizar também o candidato do PSDB,
Aécio Neves, que tem dito que o sonho dos brasileiros é morar no País retratado
pela propaganda ilusória de Dilma, os petistas levaram ao ar um personagem
denominado Pessimildo, um boneco rabugento que faz troça dos críticos do
governo e foi inspirado em figuras conhecidas da televisão com o objetivo de
satirizar todas as críticas feitas à petista. A principal linha do discurso do
personagem é responder ponto a ponto os programas eleitorais dos adversários.
Enquanto a campanha do PT foca-se no ataque pessoal aos
adversários, crises internas afetam a própria candidata do partido. No final da
última semana, a presidenta Dilma pediu a suspensão da divulgação de seu
programa de governo após impasse com alas do PT que defendem idéias contrárias
à posição do Planalto. A intenção inicial dos petistas era a de incluir no
texto propostas com grande apelo eleitoral e que pudessem atrair categorias
diversas de eleitores, como o fim do fator previdenciário e a redução da jornada
de trabalho. Dilma, entretanto, resiste em defendê-las. Apesar de não declarar
publicamente, o governo evita há pelo menos quatro anos que a proposta do fim
do fator previdenciário seja votada no Congresso. O Planalto enfrenta pressão
das centrais sindicais, mas nunca se comprometeu com a ideia da redução da
jornada de trabalho. Ao saber por assessores das propostas para trabalho e
emprego, Dilma pediu o adiamento da divulgação do programa.
Enquanto a campanha montada pelos marqueteiros adere ao
radicalismo e reflete parte do desespero de gente agarrada ao poder, Dilma
Rousseff segue tentando transparecer tranquilidade e segurança. Na vantajosa
posição de atual presidenta, ela usa o Palácio da Alvorada como comitê de
campanha sem que a Justiça Eleitoral faça sequer uma advertência. Em uma única
semana, recebeu estudantes, reitores de universidades e concedeu duas
entrevistas como candidata sentada na cadeira presidencial. O cenário é
alentador para os milhares apadrinhados que tratam a estrutura pública como se
fosse privada do partido e consideram positivo mostrar uma Dilma forte e em
posição de superioridade em relação aos demais concorrentes.
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