Nesse Dia da Consciência Negra o blog Sou Chocolate e Não
Desisto faz homenagem a grande escritora Carolina Maria de Jesus. Negra e moradora de
favela, Carolina foi catadora de papel, mãe e escritora. O seu diário foi
transformado em livro, o Quarto de Despejo – diário de uma
favelada, se tornou um
best-seller, sendo traduzido para 13 idiomas e fazendo uma denúncia
sócio-política sobre a vida do negro na favela.
O sucesso estrondoso de Quarto de despejo, o livro, motivou
Quarto de despejo, o disco. Em 1961, Carolina Maria de Jesus gravou um LP com
doze composições, todas de sua autoria. Clique aqui e ouça as 12 faixas.
Carolina Maria de Jesus nasceu em Minas Gerais, em 1914,
numa comunidade rural onde seus pais eram meeiros. Filha ilegítima de um homem
que já era casado, foi tratada como pária durante toda a infância, e sua
personalidade agressiva não fez nada para aliviar a situação.
Quando chegou à idade de sete anos, a mãe de Carolina
forçou-a a frequentar a escola depois que a esposa de um rico fazendeiro pagou
as despesas para Carolina, bem como outras pobres crianças negras no bairro.
No entanto, ela parou de frequentar a escola pelo segundo
ano, mas aprendeu a ler e escrever. Ela mal sabia na época, essas coisas
desempenhariam um papel muito importante na sua vida adulta.
A mãe de Carolina tinha dois filhos ilegítimos, o que
ocasionou sua expulsão da Igreja Católica enquanto ela ainda era jovem. No
entanto, ao longo de sua vida, ela foi uma católica devota, mesmo nunca tendo
sido readmitida na Igreja Católica. Em seu diário, ela muitas vezes fez
referências bíblicas, e à Deus.
Em 1937 sua mãe morreu e ela foi forçada a migrar para a
metrópole de São Paulo. Carolina fez sua própria casa, usando madeira, lata,
papelão, e qualquer outra coisa que pudesse encontrar. Ela iria sair todas as
noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a
família.
Quando ela encontrava revistas e cadernos antigos, guardava
para escrever dentro Ela começou a escrever sobre seu dia-a-dia, sobre como foi
morar na favela. Isto irritava seus vizinhos, que não eram alfabetizados, e por
isso se sentiam desconfortáveis por vê-la sempre escrevendo, ainda mais sobre
eles.
Teve vários casos amorosos quando jovens, embora tenha se
recusado a casar-se, por ter visto muita violência doméstica na favela. Ela
preferiu permanecer independente. Todos os seus três filhos tinham pais
diferentes, um dos quais era um homem rico e branco.
Em seu diário, ela detalha o cotidiano de favelados e, sem
rodeios, descreve os fatos políticos e sociais que ordem as suas vidas. Ela
escreve sobre como a pobreza e o desespero pode levar as pessoas de alta
autoridade moral a comprometer seus princípios, honra, e a si mesmos
simplesmente para conseguir comida para si e suas famílias. Não há nenhuma
chance de economizar dinheiro, pois quaisquer ganhos extras devem ir
imediatamente para pagar dívidas.
O Diário de Carolina Maria de Jesus foi publicado em agosto
de 1960. Ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, em abril de 1958.
Dantas estava cobrindo a abertura de um pequeno parque municipal. Imediatamente
após a cerimônia uma gangue de rua chegou e reivindicou a área, perseguindo as
crianças. Dantas viu Carolina de pé na beira do playground gritando "Saia,
ou eu vou colocar você em meu livro!" Os intrusos partiram. Dantas
perguntou o que ela queria dizer sobre seu livro. Ela se mostrou tímida no
início, mas levou-o para seu barraco e mostrou-lhe tudo. Ele pediu uma amostra
pequena e correu no jornal. A história de Carolina "eletrizou a
cidade" e, em 1960, Quarto de Despejo, foi publicado.
A tiragem inicial de dez mil exemplares se esgotou em uma
semana (a wikipédia gringa diz que foras trinta mil cópias vendidas nos
primeiros 3 dias). Embora escrito na linguagem simples e deselegante de uma
favelada, seu diário foi traduzido para treze idiomas e tornou-se um
best-seller na América do Norte e Europa.
Mas não foi somente fama e publicidade que Carolina ganhou
com a publicação de seu diário, mas desprezo e hostilidade de seus vizinhos.
"Você escreveu coisas ruins sobre mim, você fez pior do que eu fiz",
gritou um vizinho bêbado. A chamavam de prostituta negra, que tinha se tornado
rica por escrever sobre a favela, mas recusou-se a compartilhar do dinheiro.
Junto com as palavras dos vizinhos cruéis, as pessoas
jogavam pedras e penicos cheios nela e em seus filhos. As pessoas também
estavam com raiva porque ela se mudou para uma casa de tijolos nos subúrbios
com os ganhos iniciais do seu diário. "Vizinhos se juntaram ao redor do
caminhão e não deixá-la partir. "Você acha que são de classe alta agora,
não você", eles gritavam.
Os vizinhos locais desprezavam mesmo que a alta realização
de seu diário aumentou o conhecimento dessas favelas ao redor do mundo. Para
vizinhos locais Carolina esta publicação foi uma contusão de seu modo de vida.
Quarto de despejo – diário de uma favelada: "Eu durmo. E tive um sonho maravilhoso.
Sonhei que eu era um anjo. Meu vestido era amplo. Mangas longas cor de rosa. Eu
ia da terra para o céu. E pegava as estrelas na mão para contempla-las.
Conversar com as estrelas. Elas organizaram um espetáculo para homenagear- me.
Dançavam ao meu redor e formavam um risco luminoso. Quando despertei pensei: eu
sou tão pobre. Não posso. Ir a um espetáculo, por isso Deus me envia estes
sonhos deslumbrantes para minh'alma dolorida. Ao Deus que me protege, envio
meus agradecimentos".
Leia Viva a Benedita da Silva
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