A inflação está acima de 6% desde março, mas só com o
fechamento das urnas parece ter virado problema para o Banco Central. É isso o
que demonstra o aumento dos juros em 0,25 ponto, três dias depois das eleições,
e o aumento do passo para 0,5 ponto na decisão de ontem do Copom. A presidente
Dilma tomou posse com juros em 10,75%. Chegará ao segundo mandato com a taxa em
11,75%.
A última vez que o IPCA esteve no centro da meta de inflação
foi em agosto de 2010. De lá para cá, o índice esteve acima do limite máximo de
tolerância, 6,5%, por 14 meses. Permanece acima desse teto desde agosto, e em
outubro, último dado disponível, marcava 6,59%. Durante toda a campanha
eleitoral, o governo e o Banco Central colocaram panos quentes sobre a questão.
A oposição e os economistas que alertavam para os seus riscos eram os
pessimistas.
De uma hora para outra, o BC passou a ficar preocupado com a
alta do dólar e as consequências do seu enorme programa de swap cambial, que já
passa de US$ 100 bilhões em contratos em aberto. Para não vender reservas — um
dado usado como bandeira durante as eleições — a autoridade monetária usou os
swaps, que carregam em si um risco fiscal. O BC aposta na baixa da moeda
americana, mas se ela subir, terá que liquidar a diferença em reais.
O que muita gente dizia, durante todo esse tempo, era que o
forte déficit em conta-corrente, na casa de 4% do PIB, era incompatível com o
real valorizado. Agora, a forte pressão sobre a nossa moeda força o BC a subir
juros e atrair mais capital especulativo para o país.
A alta dos preços agrícolas ameaça se tornar um novo choque.
Ontem mesmo, o BC divulgou o seu índice de commodities, que apontou alta de
3,14% nos preços agropecuários em novembro. Nos últimos três meses, a alta
acumulada em itens como carne bovina, trigo, açúcar, milho, entre outros, chega
a 13,27%. Soma-se a isso o aumento do preço da gasolina, a escalada da energia
elétrica e de outros preços administrados, e percebe-se que o cenário para a
inflação é desconfortável.
Uma economia que terá crescimento zero em 2014, inflação de
6,5% e juros de 11,75%, só pode estar em forte desequilíbrio. Essa era a
realidade do debate econômico, que foi minimizada durante a campanha, com a
conivência do Banco Central.
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