sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

AGORA PREOCUPA

Do blog da Mirian Leitão
A inflação está acima de 6% desde março, mas só com o fechamento das urnas parece ter virado problema para o Banco Central. É isso o que demonstra o aumento dos juros em 0,25 ponto, três dias depois das eleições, e o aumento do passo para 0,5 ponto na decisão de ontem do Copom. A presidente Dilma tomou posse com juros em 10,75%. Chegará ao segundo mandato com a taxa em 11,75%.
A última vez que o IPCA esteve no centro da meta de inflação foi em agosto de 2010. De lá para cá, o índice esteve acima do limite máximo de tolerância, 6,5%, por 14 meses. Permanece acima desse teto desde agosto, e em outubro, último dado disponível, marcava 6,59%. Durante toda a campanha eleitoral, o governo e o Banco Central colocaram panos quentes sobre a questão. A oposição e os economistas que alertavam para os seus riscos eram os pessimistas.
De uma hora para outra, o BC passou a ficar preocupado com a alta do dólar e as consequências do seu enorme programa de swap cambial, que já passa de US$ 100 bilhões em contratos em aberto. Para não vender reservas — um dado usado como bandeira durante as eleições — a autoridade monetária usou os swaps, que carregam em si um risco fiscal. O BC aposta na baixa da moeda americana, mas se ela subir, terá que liquidar a diferença em reais.
O que muita gente dizia, durante todo esse tempo, era que o forte déficit em conta-corrente, na casa de 4% do PIB, era incompatível com o real valorizado. Agora, a forte pressão sobre a nossa moeda força o BC a subir juros e atrair mais capital especulativo para o país.
A alta dos preços agrícolas ameaça se tornar um novo choque. Ontem mesmo, o BC divulgou o seu índice de commodities, que apontou alta de 3,14% nos preços agropecuários em novembro. Nos últimos três meses, a alta acumulada em itens como carne bovina, trigo, açúcar, milho, entre outros, chega a 13,27%. Soma-se a isso o aumento do preço da gasolina, a escalada da energia elétrica e de outros preços administrados, e percebe-se que o cenário para a inflação é desconfortável.
Uma economia que terá crescimento zero em 2014, inflação de 6,5% e juros de 11,75%, só pode estar em forte desequilíbrio. Essa era a realidade do debate econômico, que foi minimizada durante a campanha, com a conivência do Banco Central.
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