Artigo de Maria Lucia Victor Barbosa
Nada acontece de repente. Tudo é processo. Por isto recordo
um fato mal avaliado por analistas políticos e até mesmo desprezado e
criticado: as manifestações ocorridas em junho de 2013 em todo Brasil.
Foi algo impressionante e o estopim foi um movimento de
poucos jovens inebriados por um esquerdismo mais folclórico do que fundamentado
teoricamente. Eles pediam passe livre apesar de andarem de carro. O que daí
decorreu nada teve a ver com ônibus de graça, não era liderado por partidos
políticos e não possuía característica ideológica. As multidões foram às ruas
para manifestar insatisfação com o governo em múltiplos aspectos.
Em seguida, em meio às manifestações pacíficas apareceram os
Black Block, horda composta por bandidos, arruaceiros e a garotada que destrói
tudo em nome da esquerda, que ataca símbolos do capitalismo como agências de
bancos. Aposto que a moçada, como o ditador da Coreia do Norte, adoram ir à
Disneylândia ou fazer compras e estudar nos Estados Unidos. Em todo caso,
diante da violência plantada estrategicamente as manifestações recuaram. Seria,
porém, ingenuidade supor que a insatisfação popular diminuiu.
Outro fato significativo foi a estrondosa vaia e o
xingamento que a presidente Rousseff recebeu na abertura da Copa. Um vexame
pior do que a vaia sofrida por Lula nos jogos Pan-americanos. Esporadicamente
ela continuou sendo vaiada em lugares aonde ia levar suas “bondades” de campanha.
E veio a campanha. A situação econômica péssima com o Brasil
quebrado pela senhora presidente, enquanto eclodia o escândalo da Petrobras,
mãe de todos os escândalos já havidos no Brasil depois do mensalão. Mesmo
assim, João Santana, o Goebells do PT, avisou que Rousseff ganharia de lavada
no primeiro turno, pois os anões tenderiam ao canibalismo.
Tal não aconteceu e veio o segundo turno entre Dilma
Rousseff e Aécio Neves, depois da destruição moral da candidata Marina Silva.
Os canhões petistas, então, se voltaram contra Aécio e foi um festival de
acusações, de infâmias, de mentiras. Segundo o PT, Aécio acabaria com a bolsa
esmola, os direitos trabalhistas, poria no ministério da Fazenda um monstro
chamado Armínio Fraga, jogaria o povo na miséria. Nunca antes nesse país houve
uma campanha tão sórdida, tão suja, tão abjeta. Desesperado o PT fez o diabo
para não perder o bonde do poder.
Rousseff ganhou por pouco. Por pouco Aécio perdeu em Minas.
Lula perdeu feio em São Paulo, seu berço político, assim com Rousseff em Porto
Alegre e em Brasília. O PT diminui a bancada na Câmara, perdeu governos em
Estados importantes.
Há, porém, um fato importante ainda não comentado. De modo
inédito em campanhas as pessoas tomaram posição de forma clara e se instalou
com firmeza o petismo e o antipetismo. Há uma probabilidade do sentimento
antipetista se acentuar diante da inflação crescente, da queda da renda, do
desemprego que começa a mostrar suas garras, das contradições do governo
Rousseff que já cortou benefícios previdenciários e trabalhistas fazendo o que
acusava levianamente seus adversários de fazer caso ganhassem.
Finalmente, depois de muitos adiamentos o ministério foi
composto. Não passa de um balcão de negociação de votos no Congresso. Longe do
mérito e da competência muitos dos nomeados têm folha corrida e não curriculum.
O grosso dos agraciados ignora o que fazer no cargo e terá apenas por missão
executar o que sua mestra mandar. No meio da chusma aliada uma exceção com base
no mérito: Joaquim Levy, originário do governo Fernando Henrique Cardoso, que
será o Armínio Fraga da Dilma. Levy tentará tirar a economia do buraco e,
assim, preparar a volta de Lula em 2018 numa situação econômica menos caótica.
Este, como sempre empoleirado no palanque já se compõe com uma “frente de
esquerda” que lhe dará total apoio. No seu próximo governo, provavelmente, o
baderneiro Guilherme Boulos, líder do MTST, será um ministro importante ou
comandará os conselhos populares.
E veio a posse. Havia militares e militantes. Estes buscados
em vários Estados e trazidos em muitos ônibus. Um sanduíche, um refrigerante e
as bandeiras vermelhas se agitaram à passagem da reeleita. O povo praticamente
esteve ausente da patuscada.
Menção especial deve ser feita ao discurso de posse que
impressionou pelo cinismo e pela empulhação. Uma ficção de mau gosto sobre o
paraíso Brasil, obra do PT onde a pobreza acabou e o pleno emprego deixa a
todos imersos em felicidade. Uma dádiva que devemos agradecer de joelhos ao
criador e a criatura. Falou-se em misteriosos inimigos externos, em combate à
corrupção, etc., até que o delírio oratório culminou no slogan: “Brasil, pátria
educadora”. Educadora com Cid Gomes? Parece piada de salão, como diria o
mensaleiro Delúbio Soares. Infelizmente, nunca fomos tão parecidos com uma
republiqueta das bananas.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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