A presidente Dilma Rousseff começou seu segundo governo com
mais uma exibição desta sua estranha habilidade em escolher, entre todas as
opções possíveis, sempre aquela que é a pior. Nem foi preciso esperar pelo
discurso de posse, mais um fenômeno na arte de anunciar o bem e fazer o mal que
tanto atrai a presidente. Bastava, logo de cara, ver os seus ministros. Pelo
manual mais elementar do bom-senso, deveriam ser os melhores entre os melhores.
Mas Dilma é Dilma. Nomeou os piores que encontrou à disposição no momento, mais
uma prodigiosa manada de nulidades, com apenas duas exceções, Joaquim Levy para
o Ministério da Fazenda e Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura — e
mesmo aí conseguiu se meter em confusão, pois ambos já estão jurados de morte
pelo PT e terão de gastar boa parte do seu horário de trabalho simplesmente
tentando sobreviver. É típico da presidente: em 39 possibilidades, o número dos
cargos que tinha a preencher, acertou duas. Obstinação? Como Dilma jamais
explicará ao público nenhuma das escolhas que fez, fica realmente parecendo que
estamos diante de um caso de ideia fixa. Em resumo: o ministério do seu segundo
mandato é um hino à perseverança no erro.
O primeiro governo de Dilma foi um espetáculo praticamente
sem intervalos de corrupção, incompetência coletiva e culto à farsa. O Brasil
teve um crescimento miserável nos últimos quatro anos, fracasso para o qual não
há desculpa. O melhor investimento possível, na média de 2011 para cá, foi o
dólar, marca de todas as economias derrotadas; é o que há, em matéria de
subdesenvolvimento. A presidente se irrita quando os fatos indicam que o Brasil
é um país vira-lata — mas como governante ela insiste em fazer tudo o que pode
para garantir que continuemos exatamente assim. Sua última contribuição é esse
ministério. É como se Dilma, a exemplo do tenor vaiado que ameaça a plateia
(“Esperem só o barítono”), estivesse dizendo: “Vocês acham que o meu primeiro
governo foi ruim? Esperem só o segundo”.
Vai-se ver a lista de novos ministros e quem está lá?
Ninguém menos que Jader Barbalho, por exemplo. O nomeado é seu filho, mas nem
Dilma acredita nisso; o ministro é Jader mesmo, ex-presidiário por denúncia de
corrupção e gigante na história da treva política nacional. É a opção
deliberada pelo deboche. Fica pior no Ministério da Educação, responsável por
lidar com o problema estratégico número 1 do Brasil. Entre os 200 milhões de
brasileiros hoje vivos, é impossível, pela lei das probabilidades, que não haja
profissionais com competência para tirar a educação brasileira da miséria em
que está enterrada. Mas Dilma nomeia o ex-governador Cid Gomes, do Ceará, um
espetacular zé-ninguém na área.
O que fez esse Gomes, em toda a sua vida, que o tornasse
capaz de ser promovido ao posto de maior autoridade na educação brasileira? O
que ele sabe, além de pedir verba, gastar dinheiro e nomear amigos? O ponto de
maior destaque em sua biografia é ter fretado um jatinho, quando governador,
para um passeio com a sogra pela Europa. É o grande nome de Dilma para comandar
a “Pátria Educadora”. Mais funesto ainda é o caso do Ministério do Esporte. Às
vésperas da Olimpíada do Rio de Janeiro, Dilma veio com um pastor evangélico,
um certo George Hilton, de um certo PRB; ninguém, até agora, tinha ouvido falar
nem de um nem de outro. Quando se ouviu, foi para saber que o homem responde a
catorze processos na Justiça e foi pego carregando caixas com 600 000 reais em
dinheiro vivo, anos atrás, no Aeroporto da Pampulha.
Se isso não é insultar o público, o que seria? O Ministério
dos Transportes (orçamento: 20 bilhões de reais) foi doado a um cidadão que até
outro dia morava na Penitenciária da Papuda, cumprindo sentença por corrupção –
o ex-deputado Valdemar “Boy” Costa, que colocou no cargo Antonio Rodrigues, réu
em ação penal por improbidade. Ressuscitou para a Cultura um perdedor
comprovado, Juca Ferreira. “A população brasileira não tem ideia dos desmandos
que esse senhor promoveu à frente da cultura brasileira”, disse dele a senadora
Marta Suplicy, do PT — sim, Marta, não a “mídia de direita”.
A presidente Dilma, há muitos anos, fez uma viagem para fora
do Brasil, e provavelmente para fora do planeta Terra, ao confinar a si própria
na cápsula segura do Planalto. Quando a polícia estourar a próxima central de
roubalheira em seu governo, dirá que ficou “estarrecida” — e continuará
convicta de que não tem culpa de nada. Ao permitir a entrada franca do crime
organizado em seu ministério, Dilma, mais uma vez, torna muito difícil a
posição de quem se esforça para ter alguma simpatia por ela.
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