Para cada lado que Dilma se volte, encontra um adversário,
até um inimigo. Raras vezes um governante enfrentou situação assim. Faltando
quase quatro anos para o fim de seu mandato, a pergunta é se vai aguentar, se
vai mudar ou se vai sair.
Madame comprou briga com os presidentes da Câmara e do Senado.
Renan Calheiros e Eduardo Cunha dispõem de meios para tornar a vida e a
administração dela um inferno. Importa menos se a recíproca for verdadeira, mas
a verdade é que os comandantes do Congresso estão em guerra aberta e declarada
contra Dilma.
Da devolução da medida provisória da desoneração das folhas
de pagamento à ausência num jantar no Alvorada e à recusa de atender telefonema
da presidente, Renan demonstra uma intransigência óbvia quando declara aos
jornalistas estar farto da desconsideração do Planalto para com o Senado. Cunha
já deixou clara a disposição de rejeitar projetos do governo. O grave é que
ambos contam com o apoio maciço das respectivas bancadas, com gente até do PT.
Quanto aos partidos, os da oposição deitam e rolam sem
qualquer aceno de entendimento com Dilma, mas salta aos olhos que ela perdeu o
PMDB e penduricalhos de sua base na votação de qualquer iniciativa do ajuste
econômico. Nesse particular, não conta com o PT inteiro e só por milagre
deixará de ser derrotada.
O empresariado rejeita até mesmo as medidas que poderiam
favorecê-lo. Imagine-se a reação diante da extinção da desoneração das folhas
de pagamento e do anunciado imposto sobre grandes fortunas. Paulo Skaf acaba de
pôr a Fiesp em armas e as empreiteiras, se não receberem alguns bilhões do
BNDES, ampliarão denuncias premiadas e poderão envolver mais companheiros e até
seus mentores.
As centrais sindicais, inclusive a CUT, levantaram-se contra
a redução de direitos trabalhistas proposta dias atrás, já ocuparam e mais ocuparão
os páteos das indústrias para defender o salário desemprego e as pensões das
viúvas. Se convocados para apoiar o governo, não aparecerão.
Dos estudantes nem haverá que falar. O desemprego os atinge
na moleira e a manifestação prevista para o dia 15 em todo o país não deixará
ninguém mentir. Será essencialmente um protesto contra Dilma. A previsão é de
milhões de pessoas na rua, nas capitais e principais cidades.
O Procurador Geral da República não quer conversa com a
presidente desde que se negou a antecipar-lhe a lista de envolvidos no
escândalo da Petrobras. O conceito de persona non grata vale para os dois
lados.
No Supremo Tribunal Federal, aumenta o número de ministros
que não poupam Dilma por deixar de indicar, desde julho do ano passado, o sucessor
de Joaquim Barbosa. Ela vem sendo acusada de desídia e de manobras pouco éticas
para permanecer desfalcada uma das Turmas da corte. Se espera contar com os
ministros que nomeou, fica a hipótese cada vez mais remota.
Mesmo no seu quintal, a chefe do governo não parece à
vontade. Ministros se engalfinham, assim como ministros saltam de banda,
deixando claro não se conformarem com as recentes mudanças na estratégia
oficial, que era e não é mais de beneficiar os trabalhadores e os pobres.
A última paulada nos assalariados menos favorecidos foi o
corte no subsídio de luz para cinco milhões de famílias. Nem o vice-presidente
Michel Temer pode concordar com tamanha maldade. Se comparecer a conciliábulos
palacianos, será para ficar calado.
Falta referir outro personagem, dentro da casa da Dilma, que
ao contrário de suas aparições públicas, mais a vem censurando nas últimas
semanas: o Lula. Nem é preciso demonstrar o desgaste de um afastamento que, faz
pouco, tornou-se ostensivo.
Em suma, a presidente encontra-se cada vez mais sozinha. Se
a poeira não baixar, ninguém garante que mantenha o poder até 2018. Está
abandonada por todos. Ou terá sido ela que os abandonou?
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