Por Sandro Vaia, via Blog do Noblat
É possível que esteja acontecendo alguma coisa que a nossa
vista não alcança.
Mas os fatos se avolumam diante de nossos olhos e ainda
assim existe um exército disciplinado tentando nos convencer de que os fatos
não são exatamente fatos. São apenas uma versão distorcida dos fatos, fabricada
por nosso superego reacionário e elitista que não se conforma com a ascensão
social das classes mais pobres.
Esse truque semântico é um truque pobre, mas pode ter lá a
sua eficácia dentro do um universo onde o raciocínio raso se transforma em
palavra de ordem e em farol e guia de alguém que anda à procura de um farol e
de um guia para justificar a falta de substância e de propósito investidos na
defesa do indefensável.
Temos hoje o que é talvez um dos piores governos da história
da República,há evidências gritantes de um esquema de corrupção que parece
construído para sustentar não os desvios de caráter da ganância individual mas os alicerces de um
projeto de perpetuação do poder, e mesmo assim a desconversa institucionalizada
tenta convencer-nos de que todos são iguais.
Tudo o que é malfeito hoje é versão copiada dos malfeitos de
ontem.
Um fato extraordinariamente significativo para ilustrar a
diferença entre o “todos são iguais” e o esquema organizado de controle do poder
é o caso do Postalis, o fundo de pensão dos empregados dos Correios, onde
detectou-se um déficit de 5,2 bilhões de dólares, que terá que ser coberto por
aportes adicionais dos funcionários durante pelo menos 15 anos para equilibrar
as contas e garantir o pagamento das aposentadorias adicionais de quem resolveu
apostar uma velhice tranquila nele.
O que você pode dizer de um fundo de pensão estatal que é
controlado pelos partidos que dividem o governo, o PT e o PMDB? Que o dinheiro
foi desviado? Não se sabe, não há provas. O que o Tribunal de Contas da União
diz é que no portfólio do Fundo havia títulos da dívida pública da Venezuela e
da Argentina. E havia também ações da empresa do Eike Batista. Gestão temerária?
Quem é que no pleno domínio de suas faculdades mentais pega
as economias de uma multidão de 71 mil trabalhadores e investe em títulos
podres como esses? Só há duas explicações possíveis: má fé ou incompetência
absurda.
Qualquer das duas hipóteses caracteriza dolo: ou alguém
roubou ou alguém foi muito incompetente a ponto de jogar o dinheiro alheio no
lixo. Seja qual for a explicação, ela não absolve ninguém.
Contra todas as evidências, os exércitos retardatários de
Thomas Traumann, o secretário de Comunicação Social do governo de Dilma, devidamente
defenestrado pelo vazamento de seu “documento secreto”, insistem em ignorar a
realidade e tentam levar a sua contradança para o terreno da fantasia da luta
do bem contra o mal.
A negação da realidade é um sintoma mais um menos agudo de
uma patologia que, em seus casos mais graves, pode ser definida como uma
espécie de esquizofrenia, uma doença sem cura que procura adaptar à realidade
aos sonhos e delírios do paciente.
No livro “O Cérebro Político” do neurologista
norte-americano Drew Westen, existe uma tentativa de explicação científica para
essa espécie de negação da realidade, que foi medida em várias experiências
feitas em laboratório através de ressonância magnética.
As experiências de Westen mostram que se a realidade não se
adapta às verdades que seu cérebro rejeita, ele cria uma realidade paralela à
qual seu cérebro se adapta. Ou seja: você cria sua própria realidade e passa a
viver dentro dela.
Através desse mecanismo você passa a acreditar em suas
próprias mentiras. Não é legal?
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