Um clima de fim de feira varre o país de ponta a ponta
apenas dois meses após a posse da presidente Dilma Rousseff para o seu segundo
mandato. Feirantes e fregueses estão igualmente insatisfeitos e cabisbaixos,
alternando sentimentos de revolta e desesperança.
Esta é a realidade. Não adianta desligar a televisão e
deixar de ler jornais nem ficar blasfemando pelas redes sociais. Estamos todos
no mesmo barco e temos que continuar remando para pagar nossas contas e botar
comida na mesa.
Nunca antes na história da humanidade um governo se
desmanchou tão rápido antes mesmo de ter começado. Para onde vamos, Dilma? Cada
vez mais gente acha que já chegamos ao fundo do poço, mas tenho minhas dúvidas
se este poço tem fundo.
"O que já está ruim sempre pode piorar", escrevi
aqui mesmo no dia 5 de fevereiro, uma quinta-feira, às 10 horas da manhã, na
abertura do texto "Governo Dilma-2 caminha para a autodestruição".
"Pelo ranger da carruagem desgovernada, a oposição nem
precisa perder muito tempo com CPIs e pareceres para detonar o impeachment da
presidente da República, que continua recolhida e calada em seus palácios, sem
mostrar qualquer reação. O governo Dilma-2 está se acabando sozinho num
inimaginável processo de autodestruição".
Pelas bobagens que tem falado nas suas raras aparições
públicas, completamente sem noção do que se passa no país, melhor faria a
presidente se continuasse em silêncio, já que não tem mais nada para dizer.
Três semanas somente se passaram e os fatos, infelizmente,
confirmaram minhas piores previsões. Profetas de boteco ou sabichões acadêmicos,
qualquer um poderia prever que a tendência era tudo só piorar ainda mais.
Basta ver algumas manchetes deste último dia de fevereiro
para constatar o descalabro econômico em que nos metemos. Cada uma delas já
seria preocupante, mas o conjunto da obra chega a ser assustador:
"Dilma sobe tributo em 150% e empresas preveem
demissões".
"País elimina 82 mil empregos em janeiro, pior
resultado desde 2009".
"Conta da Eletropaulo sobe 40% em março".
"Bloqueio de caminheiros deixa animais sem ração _ Na
região sul, aves são sacrificadas em granjas, porcos ficam sem alimento e preço
do leite deve subir".
"Indicadores do ano apontam todos para a
recessão".
"Estudo da indústria calcula impacto de racionamento no
PIB _ Queda de 10% no abastecimento de gás, energia e água levaria a perda de
R$ 28,8 bi".
As imagens mostram estradas que continuam bloqueadas por
caminheiros, depois de mais de uma semana de protestos, agentes da Força
Nacional armados até os dentes avançando sobre os manifestantes, produtores
despejando nas ruas toneladas de latões de leite que ficaram sem transporte. O
que ainda falta?
Enquanto isso, parece que as principais lideranças políticas
do país ainda não se deram conta da gravidade do momento que vivemos, com a
ameaça de uma ruptura institucional.
De um lado, o ex-presidente Lula, convoca o "exército
do Stédile" e é atacado pelo Clube Militar por "incitar o
confronto"; de outro, os principais caciques tucanos, FHC à frente, fazem
gracinhas e se divertem no Facebook. Estão todos brincando com fogo sentados
sobre um barril de pólvora. É difícil saber o que é pior: o governo ou a
oposição. Não temos para onde correr.
A esta altura, só os mais celerados oposicionistas defendem
o impeachment de Dilma e pregam abertamente o golpe paraguaio, ainda defendido
por alguns dos seus aliados na mídia, que teria um final imprevisível.
O governo Dilma-2 está cavando a sua própria cova desde que
resolveu esnobar o PMDB, e não adianta Lula ficar pensando em 2018 porque, do
jeito que vamos, o país não aguenta até 2018.
Nem Dilma, em seus piores pesadelos, poderia imaginar este
cenário de terra arrasada _ ou não teria se candidatado à reeleição, da qual já
deve estar profundamente arrependida.
Vida que segue.
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