Da Época
Num encontro recente com os principais chefes do PMDB, o
ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, novo líder da oposição ao
governo petista de Dilma Rousseff, comparou a presidente a uma adolescente
mimada. Na analogia, Lula se apresenta no papel de pai preocupado. O petista,
como é de seu hábito, sempre aparece nesse tipo de metáfora como figura
sensata, arguta, sábia. Desempenha a função do pai – do bom pai. “Ela (Dilma)
faz bobagem, você senta para conversar e dizer por que aquilo foi errado. Ela
concorda, claro”, disse Lula. “Mas não demora, logo no dia seguinte, ela vem e
faz tudo de novo. Te chamam na delegacia para buscar a filha pelo mesmo
motivo.” Todos eram homens, e riram. A culpa pelas desgraças do país não é da
Geni. É de Dilma.
A historinha de Lula, compartilhada num momento de
intimidade política, revela quanto Lula tem, de fato, de argúcia – e quanto
Dilma tem de impopularidade. Conforme a aprovação da presidente aproxima-se do
chão (10%), como mostrou o Datafolha na semana passada, mais à vontade ficam os
políticos para fazer troça da petista. Até ministros próximos de Dilma, que
conseguem trabalhar há anos com ela, apesar das broncas mal-educadas que
recebem cotidianamente, não escondem mais o desapreço pela presidente. “A Dilma
conseguiu implodir as relações com os movimentos sociais, com o Congresso e com
o PIB”, diz um desses ministros, que é do PT. “O segundo governo acabou antes
de começar. Estamos administrando o fracasso e os problemas do primeiro
mandato. Resta apenas o ajuste fiscal para o país não quebrar.”
Ninguém discorda que Dilma é uma presidente estranha. Num
momento de crise profunda no país que ela governa, só aparece em público para
pedalar pelas ruas de Brasília. Os políticos mais antigos lembram-se das
corridas matinais de Collor nas proximidades da Casa da Dinda, quando o governo
dele desmoronava. Transmite o mesmo tipo de alienação. Na semana passada, num
discurso que entrará para os arquivos da Presidência da República, Dilma
“saudou a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil”. Estava no lançamento
dos Jogos Indígenas. Falou de improviso. Inventou expressões como “mulheres
sapiens” e pôs-se a elogiar a bola usada pelos índios. “É uma bola que eu acho
um exemplo, é extremamente leve. Já testei e ela quica”, disse Dilma. Um
ministro que presenciou o discurso não acreditou no que via. “Dava vontade de
sair correndo e tirar o microfone dela”, diz ele, ainda rindo da cena.
O esporte do momento em Brasília, como fez Lula, é
ridicularizar Dilma. Mas será ela a verdadeira responsável pela crise que
acomete o Brasil em 2015? Ninguém discorda de que a presidente tem responsabilidade
– e muita – pela crise econômica. Mas os fatos políticos dos últimos meses, e
em especial das últimas semanas, demonstram que a crise prolongada – política,
social, criminal e econômica – é sintoma da ruína de uma era, uma era definida
não por Dilma, mas por quem a concebeu politicamente: Lula, o pai. Trata-se de
uma era em que o PT exerceu o poder por meio do fisiologismo do mensalão e do
petrolão, abandonando, a partir do governo Dilma, a razoabilidade econômica e a
conciliação política.
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