Impeachment? Bobagem! “Eu não vou cair, isso aí é moleza”',
afirma Dilma. A oposição? “É um tanto golpista”. Menos o PMDB que é “ótimo”.
Não, ela não se sente no volume morto, como observou Lula
outro dia. Lula pode dizer o que quiser sobre o que quiser, que Dilma não se
incomoda. Reconhece-lhe o direito.
Dilma concedeu entrevista exclusiva a Maria Cristina Frias,
Valdo Cruz e Natuza Nery publicada, hoje, na Folha de S. Paulo. Seguem trechos
da entrevista:
- Respeito muito o presidente Lula. Ele tem todo o direito
de dizer onde ele está e onde acha que eu estou. Mas não me sinto no volume
morto não. Estou lutando incansavelmente para superar um momento bastante
difícil na vida do país.
- Outro dia postaram que eu tinha tentado o suicídio, que
estava traumatizadíssima. Não aposta nisso, gente. Foi cem mil vezes pior ser
presa e torturada.
- [Dilma descartou a renúncia] Eu não sou culpada. Se
tivesse culpa no cartório, me sentiria muito mal. Eu não tenho nenhuma. Nem do
ponto de vista moral, nem do ponto de vista político.
- Falam coisas do arco da velha de mim. Óbvio que não [tenho
nada a ver com o petrolão]. Mas não estou falando que paguei conta nenhuma
também. O Brasil merece que a gente apure coisas irregulares. Não vejo isso
como pagar conta. É outro approach. Muda o país para melhor. Ponto.
Os jornalistas perguntaram a Dilma o que ela achou da prisão
dos presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andre Gutierrez. Resposta:
- Olha, não costumo analisar ação do Judiciário. Agora, acho
estranho. Eu gostaria de maior fundamento para a prisão preventiva de pessoas
conhecidas. Acho estranho só.
- Eu não vou terminar [o mandato dela] por quê? Para tirar
um presidente da República, tem que explicar por que vai tirar. Confundiram
seus desejos com a realidade, ou tem uma base real? Não acredito que tenha uma
base real.
As duas últimas perguntas da entrevista:
- Parece que está todo mundo querendo derrubar a sra.
- O que você quer que eu faça? Eu não vou cair. Eu não vou,
eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão
dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha
tentar. Se tem uma coisa que eu não tenho medo é disso. Não conte que eu vou
ficar nervosa, com medo. Não me aterrorizam.
- E se mexerem na sua biografia?
- Ô, querida, e vão mexer como? Vão reescrever? Vão provar
que algum dia peguei um tostão? Vão? Quero ver algum deles provar. Todo mundo
neste país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem quem é corrompido.
Comento: o ponto forte da entrevista é a disposição revelada
por Dilma de lutar pelo próprio mandato. Lutar com todas as forças. Desafiando,
inclusive, adversários para que tentem derrubá-la.
Ela não dá pistas sobre como reagiria. E tudo o que diz pode
ser mais retórica do que qualquer outra coisa.
Um processo de impeachment só vai adiante quando se ampara
em provas de ilícitos. Por enquanto faltam provas. Mas isso não quer dizer que
elas não possam aparecer.
Dilma manda com a entrevista um duro recado para Lula: o
petrolão não foi obra dela. Portanto, só pode ter sido obra dele. E ela não se
mexerá para atrapalhar investigações e possíveis julgamentos.
Arte: Antonio Lucena
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