Por Delfim Netto, Folha de S.Paulo
À medida que se aproximava a necessidade de apresentar ao
Congresso a proposta orçamentária para 2015, aumentava o conhecimento da
verdadeira situação fiscal a qual chegamos depois do laxismo de 2014. É, agora,
cada vez mais difícil convencer os cidadãos em geral, e o mercado em
particular, que o governo ainda controla da situação.
Como ele não conseguiu recuperar a confiança da sociedade, o
"ajuste fiscal" não foi acompanhado pela necessária volta da
esperança de crescimento do setor privado.
A validade da hipótese que sustenta a ideia que o anúncio de
um "forte ajuste fiscal pelo corte das despesas" pode promover o
crescimento depende de um pequeno detalhe: a credibilidade do governo deve ser
tamanha, que diante de seu simples anúncio, o setor privado se antecipa e
mobiliza as suas forças. A vista dos recursos que serão liberados pelo
ineficiente setor-governo abre-lhe a "expectativa" de crescimento, o
que reacende o seu "espírito animal".
Isso amplia os investimentos e, logo depois, o crescimento.
Infelizmente, isso é mais uma das patranhas que os economistas gostam de contar
para si mesmos. Ela levou ao exagero a "expectativa racional" dos
pobres agentes, até torná-la apenas um elegante jogo lógico de sucesso nas
reuniões litero-musicais.
O que está acontecendo não tem nada a ver com o ilustre
ministro Levy nem mesmo com o seu programa de "ajuste". Aliás, não há
indicação segura de que o dispêndio do governo tenha caído. A recessão (que
talvez leve a um encolhimento do PIB da ordem de 2,5% em 2015) já estava
anunciada na estagnação de 2014.
A queda de 0,7% do PIB no 1º semestre de 2015, contra o
último de 2014, ocorreu quando o "ajuste" não havia sido posto em
prática. E para a queda de 1,9% do PIB no segundo trimestre, a contribuição do
"ajuste" foi negativa. O encolhimento do PIB vem destruindo –pela
redução da receita– o já precário equilíbrio das unidades federativas, cujo
grau de endividamento cresce. Elas também querem aumento de impostos, o do
ICMS!
Mas, então, o que falhou? Foi a falta do reconhecimento
imediato e explícito de Dilma que subestimara, sistematicamente, as
dificuldades causadas pelo enorme voluntarismo da sua administração e que, por
isso, iria mudar.
Quem tinha que convencer a sociedade que mudou o seu
entendimento sobre os problemas econômicos não era o ministro da Fazenda
"sombra", mas o titular verdadeiro, isto é, ela mesma. Essa era a
condição necessária, (ainda que não suficiente) para criar as condições mínimas
de credibilidade do governo que, gostem ou não seus opositores, foi eleito
legitimamente.
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