O novo ministro da Ciência e Tecnologia Celso Pansera
(PMDB-RJ), que chegou a ser chamado por Alberto Youssef de "pau
mandado" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é dono de um
restaurante em Caxias (RJ) chamado Barganha.
Em entrevista ao Estado em julho, ele disse que o vazamento
do depoimento do doleiro fazendo acusações contra ele na época era uma
tentativa de intimidá-lo e interferir nos trabalhos da CPI. "Tomei como
recado e como ameaça física a mim", afirmou ao Estado em julho em Duque de
Caxias (Baixada Fluminense), sua base eleitoral.
"Eu me senti intimidado. Não tem sentido, um cara com o
poderio que ele tem, se sentir intimidado por ação de um parlamentar. Ele
tentou interferir no trabalho da CPI, como quem diz: 'cuidado, sei quem é você.
Pau mandado é expressão chula, desagradável. Típica de submundo mesmo."
Nascido em São Valentim (RS), Pansera é um dos seis filhos
de agricultores. Diz ter tido infância pobre - a TV só chegou à casa da família
quando tinha 15 anos. Na escola, destacou-se na militância estudantil e
elegeu-se secretário-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE). Aos 26 anos,
veio para o Rio. Foi filiado ao PT, que
deixou em 1992 para aderir ao grupo que fundou o PSTU. Chegou a dirigente do
partido, conhecido pelo radicalismo de esquerda, do qual se desligou em 2001
por considerar "erro histórico" não apoiar a eleição de Lula.
Pansera é dono de um restaurante em Caxias, o Barganha.
"Achei o nome no dicionário. É um self-service." Ele também dá aulas
voluntárias de Português em curso vestibular para carentes.
Quando o PSTU ganhou a direção do Sindicato dos Bancários em
Caxias, do qual foi assessor, passou a militar na Baixada. Em 1998, trabalhou
para a reeleição do então deputado federal do PSB Alexandre Cardoso, hoje
prefeito da cidade. "Essa proximidade era estranha e incômoda. Isso abriu
um fosso do ponto de vista ideológico e programático que acabou com a saída
dele do PSTU", disse Cyro Garcia, presidente do partido no Rio.
"Rompemos politicamente e hoje ele faz parte de um partido burguês,
sustentáculo de governo avesso aos interesses dos trabalhadores, mas nossas relações
são amistosas e cordiais".
Cardoso e Pansera deixaram os socialistas quando Eduardo
Campos lançou-se pré-candidato a presidente, em 2013, e Pansera foi para o PMDB
de Eduardo Cunha. Segundo ele, a primeira vez em que se encontrou com o atual
presidente da Câmara foi numa reunião do diretório no final daquele mesmo ano.
"A relação de Celso com Cunha nunca foi subalterna. Ele é um estrategista,
que sempre pautou pela atuação na esquerda e defende a permanência no governo
Dilma", disse o padrinho político.
Na Câmara, divergiu de Cunha ao votar contra a redução da
maioridade penal. "Tenho relação franca com ele. Dizem que ele ligou para
deputados para que mudassem o voto na questão da maioridade penal. Para mim,
nunca. Não abro mão das minhas posições de respeito às liberdades individuais,
do direito das pessoas de se autodeterminarem, de serem donas do seu
corpo." Sobre casamento gay, diz que "as pessoas têm o direito de
fazer sua opção". Sobre aborto, acha que o conceito da lei atual "é
bem razoável".
No PMDB desde 2013, foi eleito com 58.534 votos - a primeira
vez que se candidatou. A campanha arrecadou R$ 1,2 milhão. Declarou à Justiça
Eleitoral ter R$ 575 mil em bens - o bar, um carro Sorento, um apartamento em
Caxias e R$ 276 mil no banco.
Pressão. O deputado fluminense protocolou duas vezes na CPI
requerimentos pedindo a quebra do sigilo bancário da ex-mulher e de duas filhas
do doleiro Alberto Youssef, pediu a convocação do delator Julio Camargo e
também de sua advogada, Beatriz Catta Preta, que recentemente deixou a defesa
de todos seus clientes, nove delatores, da Lava Jato.
Em audiência na Justiça Federal no Paraná no dia 16, Youssef
acusou um parlamentar - sem citar o nome - de ser "pau mandado" do
presidente da Câmara e usar a CPI numa tentativa de tentar intimidá-lo.
"Quando ele disse aquilo, recebi como um recado para
mim. Mas fiquei na minha e estava torcendo para a imprensa não tocar para
frente. Mas aí tive que assumir o assunto quando colocaram minha foto. Ele tem
os agentes dele se movimentando por aí", diz Pansera.
Também como prova de que não é um fiel servidor a Cunha, ele
diz ser contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o rompimento do
PMDB com o governo, como defende Cunha. Mas apesar de tantas evidências, ele
reconhece que fama de pau mandado pegou. "Fico bem incomodado com isso. O
pessoal me sacaneia no WhatsApp direto. Ficam me chamando de pau mandando. É
quase irritante".
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