Em troca de mensagens por um aplicativo de
telefone, os senadores petistas Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA)
mostraram-se consternados mesmo depois de terem votado pela manutenção do
colega de partido e líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (MS), preso
após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Paim e Pinheiro foram os únicos
da bancada que contrariaram a orientação da bancada e defenderam que Delcídio
deveria permanecer em detenção preventiva durante votação ontem à noite no
plenário do Senado.
"Foi duro, mas foi acertada a nossa posição",
disse Walter. "De fato, está doendo até agora", respondeu Paim, ao
acrescentar à mensagem um coração partido. Por 59 votos a favor, 13 contra e
uma abstenção, os senadores entenderam numa votação aberta que Delcídio tem de
permanecer preso. Ele é suspeito de tentar evitar que o ex-diretor da Petrobrás
Nestor Cerveró o implicasse numa delação premiada da Operação Lava Jato.
Nesta quinta-feira, 26, Paim disse que, diante das
evidências reveladas pela documentação encaminhada pelo Supremo ao Senado,
"não tinha alternativa" se não a manutenção da pena do colega de
bancada. "Ninguém aqui contestou o dossiê, infelizmente é lamentável o
documento que chegou aqui, ficamos constrangidos e perplexos", disse o
senador, ao destacar que a Casa não queria criar obstáculos para que o Supremo
realizasse as investigações.
Paim, que também defendeu a votação aberta para decidir o
futuro do colega, definiu o clima no Senado como de "tristeza e
constrangimento". Um dos raros senadores na Casa hoje, o senador sugeriu
que Delcídio se licencie por 120 dias do mandato de senador para se defender.
"Por mais duro que a gente seja numa hora dessas, é legítimo o direito
dele de defesa", disse.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ainda não
apareceu na Casa nesta quinta e está em conversas com aliados para discutir o
que fazer com o caso envolvendo o petista - ele poderia mandar, por conta
própria, um pedido para o Conselho de Ética, como acaba de sugerir o PSDB.
Desfiliação. Paim disse que pedirá até o final do ano a
desfiliação do PT, mas afirmou que só vai decidir um novo partido em 2016.
Disse que o caso envolvendo Delcídio não influenciou sua decisão.
Um ex-petista, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), também
votou pela manutenção da prisão do colega e, sobre o espírito da Casa disse que
"não é bom, mas é um sensação de dever cumprido". Ele defendeu que o
Senado aprecie logo o futuro de Delcídio. "Acho que está claro que ali
houve um grave ato de quebra de decoro".
Cristovam acredita, contudo, ser difícil resolver o caso até
o fim deste ano e teme que a demora possa favorecer Delcídio. "Vai passar
o Natal, o Carnaval, espero que não termine esmorecendo o sentimento",
disse. "A gente tem que fazer o mais rápido possível, respeitando os
ritos".
Em discurso no plenário, a senadora Ana Amélia (PP-RS), que
também votou por manter o colega preso, ressaltou a força das instituições,
numa comparação com a Venezuela. "Nós tivemos ontem uma sessão histórica,
podemos ir para a casa com a certeza do dever cumprido e que contribuímos com o
nosso voto para que as instituições saíssem fortalecidas, especialmente o
Senado da República", destacou.
Do jornal O Estado de S.Paulo
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