Está cada vez mais perigoso protestar pelas ruas da cidade.
Ao menos, esta foi minha impressão na manhã desta quinta (3) durante a
manifestação dos estudantes pela avenida Faria Lima, na zona oeste de São
Paulo.
Bomba, xingamentos e ira de pedestres e motoristas,
incomodados com o trânsito parado. Esses foram os desafios dos alunos que
protestavam contra a reorganização da rede estadual de ensino do Estado.
Era pouco antes das 9h quando ouvi o primeiro estrondo e
estava no 8º andar de um prédio comercial a metros dali. O barulho era de uma
bomba de gás lacrimogêneo que a Polícia Militar havia atirado contra os
estudantes que bloqueavam a importante avenida, sentados em cadeiras escolares.
Não houve diálogo. Os PMs chegaram jogando a bomba na
direção deles, me contaram quando desci para fazer a reportagem.
A molecada correu para o outro lado da avenida. Por alguns
momentos, houve silêncio. Estudantes e policiais se encaravam à distância.
Enquanto isso, trabalhadores desavisados chegavam aos prédios comerciais como
se nada estivesse acontecendo.
Quando o semáforo fechou, a molecada voltou a fechar o
cruzamento.
Não demorou para outras bombas ecoarem. A gritaria foi geral
e todo mundo, inclusive eu, começou a correr. Estudantes, transeuntes, fotógrafos
e jornalistas se misturaram e escaparam para uma viela.
Rapidamente o clima de terror se instalou naquele trecho
esfumaçado da Faria Lima, uma região de escritórios bastante conhecida na
capital paulista. Os comerciantes fecharam suas portas.
Mas os estudantes de cabelos e roupas coloridas já estavam
preparados: eles continuaram andando e até ajudando a jornalista aqui a se
safar dos desagradáveis efeitos do gás lacrimogêneo.
Os olhos e a garganta ficam em brasa (efeito do gás
lacrimogêneo). Uma colega me salvou ao me dar uma camisa para cobrir o rosto.
Logo depois, um estudante me pediu para abrir as mãos e pingou gotas de leite
de magnésio. "Coloca nos olhos e nas narinas", ele me ensinou. Eu,
tonta, questionei: "Posso beber? Minha garganta...". Ele já me
rebateu: "Melhor não". Aceitei a dica.
O cortejo continuava. Tenso. Clima que só mudava quando eles
conseguiam parar algum trecho da avenida. Aí era uma festa: "Aqui não tem
arrego!", gritavam.
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