O Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas decidiu cassar o
mandato do governador José Melo (Pros) e de seu vice Henrique Oliveira (SDD) em
sessão realizada nesta segunda-feira (25).
Por cinco votos a um, os juízes aceitaram as denúncias de
compra de voto pela campanha de reeleição de José Melo, A acusação foi
protocolada pelo seu adversário direto à época, o hoje ministro Eduardo Braga
(Minas e Energia).
A decisão tem efeito suspensivo, o que garante a permanência
de Melo no governo até o julgamento de recurso pelo TSE (Tribunal Superior
Eleitoral). Melo foi acusado de se beneficiar de um esquema de compra de votos
com dinheiro público obtido a partir de um contrato do governo com uma empresa
de segurança durante a Copa do Mundo de 2014.
O julgamento foi retomando neste ano após cinco juízes já
terem decidido pela perda do cargo do governador em sessão do último dia 16 de
dezembro. A análise foi interrompida por pedido de vista do juiz Márcio
Meirelles. Em seu voto nesta segunda, Meirelles afirmou não ter encontrado
provas suficientes que justificassem a "pena capital da perda do
mandato".
Em 2015, a coligação liderada por Eduardo Braga, a
"Renovação e Experiência", denunciou José Melo por compra de votos e
abuso de poder político. Durante o segundo turno da campanha eleitoral, a
Polícia Federal apreendeu quase R$ 12 mil em um comitê de campanha de Melo, em
Manaus.
Além do dinheiro, a polícia também encontrou notas de
recibos que comprovariam o pagamento de benefícios em troca de votos. Segundo a
denúncia, eleitores de Melo receberam óculos, reforma de túmulos, pagamento de
festas de formatura e transporte para cidades do interior do Amazonas.
Os advogados de Eduardo Braga afirmam que o dinheiro usado
para a compra de votos partiu de um contrato fraudulento entre o governo do
Amazonas e uma empresa para realizar serviços de monitoramento eletrônico para
atuar na organização da Copa em Manaus.
Segundo a denúncia, o Estado repassou R$ 1 milhão para a
Agência Nacional de Segurança e Defesa, entidade fantasma com sede em Brasília
e presidida por Nair Blair, presa pela Polícia Federal no mesmo comitê onde os
quase R$ 12 mil foram apreendidos.
Antes do repasse de R$ 1 milhão do governo José Melo, a
agência de segurança não apresentava nenhuma movimentação financeira em sua
conta. O dinheiro, de acordo com a denúncia, foi repassado para a agência
semanas após o fim dos quatro jogos da primeira fase da Copa que aconteceram em
Manaus. A Folha não localizou o advogado de Nair Blair.
De acordo com o advogado de Eduardo Braga, Daniel Nogueira,
dois saques foram feitos das contas da empresa dias antes do primeiro turno. Já
a defesa do governador nega todas as acusações. "Este contrato não tem
nenhum tipo de ligação com a campanha [eleitoral de 2014], não há nenhuma
conotação eleitoral com o contrato. Não houve abuso de poder político e
tampouco compra de votos", diz Yuri Dantas, advogado de José Melo.
Dantas afirma que vai esperar a publicação da decisão para
decidir se entra com embargos de declaração no TRE ou um recurso ordinário
junto ao TSE. Para o advogado, ambos os recursos têm efeito suspensivo sobre a
decisão, assegurando a permanência de Melo no governo.
POSSE DE EDUARDO BRAGA
O advogado de Eduardo Braga diz acreditar que, se mantida a
cassação pelo TSE, a Corte pode decidir pela posse do ministro de Minas e
Energia no governo do Amazonas, mesmo com a minirreforma eleitoral sancionada
pela presidente Dilma Rousseff que prevê a realização de uma nova disputa em
casos de cassação.
"Há uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral dizendo
que este dispositivo do segundo colocado na minirreforma não se aplica nas
eleições que já tenham ocorrido. Por mais que haja um posicionamento
doutrinário questionando este entendimento, eu prefiro acreditar na posição
jurisprudencial do TSE", diz Daniel Nogueira.
Da Folha de S.Paulo, com colaboração de Fábio Pontes, de
Manaus.
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