Da IstoÉ
Dois grandes desafios pairam sobre o Rio de Janeiro: viver
sem petróleo, já que o preço do barril despencou de US$ 100 para cerca de US$
30, e sobreviver após a Olimpíada, em agosto, quando muitas obras terão acabado
e poderá haver desemprego em massa. Já amargando as consequências das perdas
com o petróleo, que respondia por 70% da geração de riqueza do Estado, o
governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) tenta alternativas à chamada “óleo
dependência” do Rio.
Uma delas é a Lei de Responsabilidade Fiscal, enviada este
mês à Assembleia Legislativa. Para isso, terá que vencer a resistência de um
companheiro de partido, que bateu pesado contra o governo na semana passada.
Jorge Picciani, presidente da Alerj, qualificou a administração estadual como
“muito fraca e sem direção.” Para responder, Pezão seguiu um ensinamento
estampado na página de um livro que mantém sobre sua mesa de trabalho:
“Torne-se uma pessoa capaz de aceitar os reveses com um sorriso”, assinada por
Mokiti Okada, líder espiritual japonês e criador da Igreja Messiânica, que ele
frequenta.
“Recebo as críticas como um aconselhamento”, disse. Para
combater o desemprego pós-Olimpíada, ele acelera dois projetos de fôlego -
saneamento em todas as 28 favelas da capital e água para toda a baixada
fluminense. Nesta entrevista à ISTOÉ, Pezão revelou que a presidente Dilma
Rousseff (PT) se comprometeu a convocar, este mês ainda, uma reunião com todos
os governadores para decidir medidas de apoio aos Estados e se mostra o maior
cabo eleitoral do prefeito carioca e colega de partido Eduardo Paes. “A
sucessão presidencial em 2018 terá que passar por ele”, afirma.
ISTOÉ - Como fica o Rio sem
petróleo?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Estou atrás de dinheiro. Claro que não
dá para tirar uma riqueza dessa de uma hora para outra sem alterar muito o
orçamento. Se as perdas impactam o Brasil, imagina o Estado onde fica a
Petrobras. Tudo o que está no entorno deste segmento sofre em cascata. As
outras petroleiras, os fornecedores, as fábricas de sondas, os rebocadores, os
estaleiros, os centros de pesquisas ... Não se acaba com uma dependência dessa
de uma hora para outra. E este não é um problema do Rio. A Rússia e a Arábia
Saudita, quem diria, estão com problemas e fecharam acordo para congelar a
produção de petróleo. A Venezuela está praticamente quebrada. 86% do petróleo
do Brasil chegou a ser retirado do Rio, isso dá a dimensão do tamanho do nosso
desafio. Mas estamos trabalhando as saídas: nos tornamos o segundo pólo
automotivo, o segundo pólo siderúrgico.
Temos alguns anos para nos prepararmos. Esse é o maior legado que o governo
pode deixar: viver sem o petróleo. Se ele melhorar um dia, melhora para todo
mundo. Mas agora é a hora da difícil travessia.
ISTOÉ - O Senado vai votar brevemente as novas regras de
exploração do pré-sal. O que significam as mudanças para o Rio?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Significam mais atividade econômica. A
Petrobras, hoje, está sem poder fazer investimento. Se puder ter parceria para
investir, para nós é a garantia de que haverá mais emprego, mais empresas e
dinheiro circulando.
ISTOÉ - O sr. encaminhou
um projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal para a Alerj com medidas
difíceis de serem aprovadas. Não é muito arriscado contar com isso para
recuperar o Estado?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Apresentamos essa lei para tentar
compartilhar com os poderes os déficits que existem em nosso orçamento. Não é
fácil retirar dinheiro, sempre dá chiadeira, mas é necessário para não
precisarmos cortar mais na saúde, educação, segurança, áreas vitais. Com esta
lei, não precisaremos cortar tanto, vai no déficit estrutural do Estado. Não
tenho a utopia de que todas as medidas serão implementadas este ano, acho que
serão ao longo do tempo. Só com a previdência, temos um déficit programado de
R$ 12 bilhões este ano. Nossa proposta é cobrir o déficit do Rioprevidência com
cotas proporcional de todos os poderes.
ISTOÉ - Qual é a expectativa de aprovação, ainda mais depois
das criticas feitas pelo presidente da assembleia, Jorge Picciani, à sua
gestão?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Sempre pautei minha vida pelo diálogo.
Recebo as críticas com muita tranquilidade, como um aconselhamento. O
presidente Picciani e o Parlamento têm sido parceiros importantes no
enfrentamento da crise financeira. Se chegamos até aqui, foi devido à parceria
com eles, além do Tribunal de Justiça e do Ministério Público. Respeito e
admiro o presidente do meu partido e me tornei governador graças à união e trabalho
de todos.
ISTOÉ - Por que o Rio é o único estado brasileiro que
colabora para aposentadoria dos
servidores do MP, do Legislativo e do Judiciário?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Foram leis aprovadas quando os poderes
estavam perto de seus limites, eles estourariam sem a ajuda. Mas agora é
inevitável, a receita está caindo, todos terão que tomar medidas, vamos ver o
que impacta menos cada um. Vai ser uma discussão dentro do parlamento.
ISTOÉ - A sociedade participa como?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Discutindo, sabendo o que está
acontecendo. Por exemplo, 95% dos royalties do petróleo eram para financiar a
previdência pública, que é um peso hoje não só para o Rio mas para o Brasil todo.
Todos os estados estão com muito problema de previdência. Mostrar que hoje as
pessoas têm expectativa de vida maior, muitas têm aposentadorias especiais. Não
sou contra o policial se aposentar com 48 anos, mas como financiar isso? A
sociedade precisa se envolver na discussão.
ISTOÉ - O que será afetado nas áreas de saúde, educação e
segurança com a falta da arrecadação do petróleo? Como vai ser este ano?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Estamos nos programando para não fazer
tanto corte, indo com cautela. Uma coisa é você ter uma receita de 100 com 25%
para educação e 13% para a saúde, por exemplo. Outra é ter uma receita de 50 e
manter os mesmos percentuais, ainda mais com custos fixos, principalmente de
pessoal. Tenho que me adequar à receita que tenho. Em 2015, voltamos ao custeio de 2009. Estou cortando mais esse
ano, me adequando mais ainda à falta de receita. Queria muito continuar com o
mesmo tamanho, mas não tenho mais o mesmo preço do barril do petróleo, de US$
115. Educação, Saúde e Segurança são políticas básicas, mas não está fácil. O
Eduardo (Paes, prefeito do Rio) pegou dois hospitais públicos para manter e me
deu um alívio grande, de quase R$ 500 milhões.
ISTOÉ - O sr. está muito próximo do prefeito Eduardo Paes.
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Nos damos muito bem. Ele será um nome
natural para a sucessão presidencial. Como candidato majoritário ou compondo
chapa, mas a sucessão vai passar por ele, que estará mais fortemente
credenciado depois da Olimpíada, é uma liderança nova. E está na hora de o Rio
ocupar este espaço.
ISTOÉ - A presidente Dilma vai dar alguma ajuda ao Rio nesse
momento?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Estou na expectativa, tenho conversado
permanentemente com ela e o ministro Nelson Barbosa (Fazenda), demonstrando a
dificuldade que temos de pagar os serviços com a receita em queda, vendo
possibilidades com o Tesouro Nacional, o que podemos renegociar. Ela está para
fazer uma reunião com os governadores neste mês ainda. O ministro está levando
uma série de medidas para ela analisar, e também compromissos a serem assumidos
pelos governadores. Ele já disse que os estados têm que fazer o dever de casa
com uma lei de responsabilidade fiscal estadual para cada um com compromissos,
enxugar a máquina, melhorar a gestão. O que pedimos é renegociação da dívida,
novos empréstimos para fazer essa travessia e gerar empregos. Todos estamos
angustiados com a paralisação da economia.
ISTOÉ - Quais as iniciativas no Rio para evitar o desemprego
após a Olimpíada?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Não paro de pensar nisso, quero gerar
emprego para depois da Olimpíada, quando terminar o metrô imagina como vai
ficar o desemprego. Vou lançar um programa nos primeiros dias de março de
tratamento de todo o esgoto das 28 favelas do Rio, contratando mão de obra das
próprias comunidades. Vamos atender 500 mil pessoas. Tem empresas do exterior
interessadas em participar desse projeto, de Israel e da Rússia. A outra saída
para evitar o desemprego é a obra de água na Baixada Fluminense e São Gonçalo,
que já estamos fazendo. Vai gerar mais de 20 mil empregos. Os recursos, da
ordem de R$ 3,6 bilhões já estão garantidos através da Cedae e de financiamento
da Caixa Econômica. A obra de esgoto vai ser muito mais, e contaremos com o
Tesouro Nacional, linhas de crédito da Caixa, muitos querem ajudar. E acabamos
de inaugurar, semana passada, o novo porto na cidade de São João da Barra,
cidade que está bombando! Todo financiado pela iniciativa privada, custou R$
610 milhões e vai gerar 25 mil empregos a partir de 2017. Já tem mais de 8 mil
pessoas trabalhando lá.
ISTOÉ - Como ficam as UPPs sem dinheiro?
LUIZ FERNANDO PEZÃO - Claro que poderiam estar melhor, mas
apesar dos problemas, o ano passado foi a melhor série histórica da segurança
no Rio, e isso se deve às UPPs. A Maré, um complexo de 140 mil habitantes, três
facções, milícia, será ocupada pela UPP em março. Não representa risco algum
para a Olimpíada (por ficar entre o aeroporto e a cidade). As Forças Armadas já
estão lá.
ISTOÉ – Como está a relação do PMDB com a presidente Dilma
após tantos conflitos?
Pezão – Eu não tenho conflito com a presidente, ajudei a
elegê-la. Entre ela e o Michel (Temer, vice presidente) está tudo tranquilo.
Apoio a reeleição dele para a presidência do partido. Claro que tem que ouvir a
bancada do Rio, que é a maior do PMDB na Câmara. O Michel virá ao Rio mês que
vem para conversarmos.
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