Da Veja
Passados quase dez anos desde que a Cooperativa Habitacional
dos Bancários de São Paulo (Bancoop) quebrou, e seis desde que a OAS começou a
assumir alguns de seus empreendimentos, compradores de 376 imóveis até hoje não
ouviram o tilintar das chaves do apartamento. Quando a cooperativa quebrou, em 2006,
deixou quinze obras inacabadas. Oito foram repassadas para a OAS. Outras duas
foram transferidas para construtoras menores - a MSM e a Tarjab, que concluíram
os empreendimentos no prazo. Já no lote da OAS, três empreendimentos nunca
ficaram prontos. Localizados em diferentes bairros de São Paulo, eles hoje se
encontram abandonados. No Residencial Casa Verde, na Zona Norte da capital, há
apenas um grande bloco de concreto onde deveria estar a garagem, e mais nada. A
vegetação tomou conta do lugar. Os únicos funcionários que aparecem de tempos
em tempos são faxineiros encarregados de dar fim a tudo o que possa se
transformar em foco de criação do Aedes aegypti. No Liberty, no centro de São
Paulo, a obra avançou um pouco mais antes de também parar. O esqueleto da
construção foi erguido, mas ainda não tem nem elevador. A situação não é melhor
no Villas da Penha II, na Zona Leste: embora algumas poucas casas projetadas
tenham saído do papel, continuam sem portas nem janelas.
A OAS, em recuperação judicial desde que foi tragada pelo
escândalo de corrupção na Petrobras, simplesmente diz que não tem dinheiro para
terminar o que começou. Ainda há um quarto prédio inacabado, porque quem não
quer que a empresa siga com a obra são os próprios ex-cooperados da Bancoop.
Eles brigam na Justiça para que a OAS perca o direito sobre o prédio, por
discordarem das condições estabelecidas para a retomada da construção. Ao todo,
chega perto de 500 o número de ex-cooperados da Bancoop que, nas mãos da OAS,
nunca receberam seu apartamento ou brigam na Justiça para não perdê-lo. É uma
situação bem diferente da do ex-presidente Lula e seu hoje famoso tríplex do
Guarujá, caprichosamente reformado e mobiliado pela empreiteira investigada na
Lava-Jato.
A Bancoop foi criada em 1996 com a promessa de oferecer a
seus associados imóveis a um custo 40% menor que o do mercado. Em sua maior
parte, os cooperados eram filiados ou parentes de filiados ao Sindicato dos
Bancários, por sua vez, ligado ao PT. Em 2006, a Bancoop fechou, deixando um rastro
de prédios inacabados e centenas de famílias na ruína. Em 2010, ao varrer os
subterrâneos da entidade, o Ministério Público descobriu o que a levara a
quebrar. As investigações da contabilidade da cooperativa revelaram práticas
estarrecedoras. Extratos bancários indicavam volumes milionários de saques em
dinheiro feitos por meio de cheques emitidos pela Bancoop a si mesma ou ao seu
banco. Outros cheques mostravam de forma mais clara os seus destinatários:
dirigentes da cooperativa, os cofres do diretório nacional do PT e até um
ex-segurança do então presidente Lula, Freud Godoy, já conhecido por seu
envolvimento no "escândalo dos aloprados". A conclusão do MP à época
foi que dirigentes da entidade, além de encher os próprios bolsos, haviam usado
o dinheiro dos cooperados para financiar campanhas eleitorais de candidatos do
PT, repassando valores para empresas de fachada que faziam "doações
oficiais" aos seus comitês eleitorais.
Entre os diretores da Bancoop denunciados pelo MP à Justiça
estava João Vaccari Neto. O ex-tesoureiro do PT, agora réu no processo do
petrolão e preso desde abril, responde no caso da cooperativa por estelionato,
formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Afirma o
promotor José Carlos Blat, responsável pela investigação: "A Bancoop foi o
embrião dos grandes esquemas criminosos que vieram em seguida, como o mensalão
e o petrolão".
Agora, uma nova apuração do MP, também conduzida por Blat,
verifica se houve ilegalidade no repasse das obras da Bancoop para a OAS e se
isso acarretou prejuízo para os mutuários. Na semana passada, VEJA ouviu os
relatos de cooperados que afirmam ter sido coagidos pela empreiteira a aceitar
termos duríssimos em troca da manutenção de seus contratos. Alguns perderam com
eles as economias de toda uma vida. Outros ainda lutam para um dia ao menos
poder colocar os pés naquilo que foi um sonho. Nenhum deles relata ter sido
convidado a vistoriar seu imóvel na companhia do presidente da OAS.
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