As empresas do casal Santana prestaram serviços na campanha
à reeleição de Lula, em 2006, e nas disputas vencidas por Dilma Rousseff, em
2010 e 2014. Nas três eleições, eles receberam, em contas oficiais, cerca de R$
110 milhões. Monica diz ter registrado numa agenda, não apreendida pela PF,
detalhes de encontros em hotéis e restaurantes para obter recursos adicionais,
entregues em malas de dinheiro por interlocutores de executivos indicados pelos
três petistas.
TABELA INCLUIRIA DIRCEU
A mulher de Santana também diz ser capaz de ajudar a PF a
esclarecer informações da planilha nomeada “posição-italiano”, apreendida na
caixa de e-mail do então diretor da Odebrecht Fernando Migliaccio. O italiano
citado como referência para os pagamentos da tabela seria Antonio Palocci. O
documento é considerado um prova contundente sobre o pagamento de propina a
agentes políticos pela empreiteira. Migliaccio era lotado no Setor de Operações
Estruturadas da Odebrecht, área responsável por operacionalizar repasses
ilegais no Brasil e no exterior.
A tabela traz a indicação de fontes para pagamentos e siglas
de destinatários, como o casal Santana e o ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu. Em depoimento prestado logo após ser presa, em fevereiro, Monica foi
perguntada se sabia dizer quem era o “italiano”; na época, disse que não.
A relação de proximidade com Migliaccio, o autor da tabela,
já era admitida por Monica neste mesmo depoimento. Na ocasião, reconheceu ter
sido orientada a procurar Migliaccio para receber colaborações não contabilizadas
de campanhas feitas no exterior. E confirmou ter mantido contato com ele entre
2011 e 2014. Em março, a ex-secretária da Odebrecht Maria Lúcia Guimarães
Tavares reforçou o vínculo do dirigente da empreiteira com Monica. Segundo ela,
a mulher de Santana indicava a ele e a outros dirigentes suas contas para
receber pagamentos ilegais.
A tabela traz um balanço de como foram repassados, entre
2008 e 2012, cerca de R$ 200 milhões a projetos como as eleições municipais de
2008, a disputa presidencial em El Salvador e valores pagos a JD, que a PF
acredita ser Dirceu, e Santana. A planilha termina indicando haver, em 2012, um
saldo de R$ 79 milhões. A curto prazo, R$ 6 milhões estariam comprometidos com
“Itália” e R$ 23 milhões com o “amigo”, não identificado na tabela. Os demais
R$ 50 milhões iriam para o “pós-Itália”.
Em nota ao GLOBO, Palocci nega “com veemência” as acusações,
“feitas contra ele por uma pessoa submetida ao constrangimento da prisão”. O
ex-ministro afirmou não ter participado da arrecadação de campanhas em 2006,
2010 ou 2014 e “jamais” ter indicado “a qualquer pessoa meios pelos quais
pudessem ser arrecadadas contribuições ilegais”. Vaccari também negou a
acusação.
Palocci disse que não tem “qualquer relação com a tabela” de
Migliaccio. Segundo a nota, o petista “vê com muita estranheza que seja
atribuído a si o codinome ‘italiano’, já que este apelido foi vinculado a
várias outras pessoas em materiais apreendidos pela PF”. O ex-presidente da
Odebrecht Marcelo Odebrecht também cita um “italiano” em e-mails a executivos,
mas não é possível saber se é o mesmo citado por Migliaccio.
Palocci já é investigado na Lava-Jato desde junho de 2015,
em inquérito que apura denúncia de que ele teria pedido ao ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto Costa R$ 2 milhões para a campanha de Dilma, em 2010.
Seu nome foi citado pelo doleiro Alberto Youssef e pelo operador Fernando
Baiano. Este mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou pedido da defesa de
Palocci para anular as duas delações.
Do O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário