A ser coerente com a narrativa do seu discurso de defesa no
Senado, Dilma Rousseff deveria percorrer o país de ponta a ponta, logo após a
consumação do impeachment, e usar o palanque eleitoral do seu partido como
trincheira de denúncia e resistência ao que ela e sua trupe chamam de golpe.
Isto tem possibilidade zero de acontecer.
Predomina no Partido dos Trabalhadores um clima de salve-se
quem puder, ou de, em tempos de Murici, cada um cuida de si. Diferentemente de
2012, quando Lula e Dilma foram os carros-chefes da propaganda petista, a atual
leva de candidatos a prefeito não quer os dois nos seus palanques,
principalmente uma soberana escorraçada do trono, com imagem tão ou mais
desgastada do que a da própria legenda.
Daqui para a frente a relação Dilma-PT tende a ser como
aquele verso de uma música imortalizada por Caetano e Maysa: “podemos ser
amigos simplesmente, coisas de amor nunca mais”.
Se é que houve amor entre os dois alguns dia; se é que não
ficaram profundos ressentimentos, como revelou o ex-marido de Dilma, Carlos
Araújo, normalmente uma pessoa discreta e reservada, ao blog Socialista morena:
“O PT está tentando fugir de sua responsabilidade, é
vergonhoso isso. Quer atribuir a Dilma todos os problemas dele. Tudo que houve
com ele, parece que não houve, é só por causa da Dilma que está mal. Quando a
questão é inversa: o PT está mal pelos atos que cometeu, não puniu ninguém, não
tomou atitudes, providências em relação aos bandidos que tinha dentro do
partido, na direção do partido. Uma bandidagem. Tem que fazer um mea culpa e
levar às últimas consequências, explicar para a sociedade, deve explicações
para a sociedade. E, diante disso, trataram a Dilma muito mal, desde que
começou esse rolo aí, sempre trataram mal”.
O desamor é mútuo. Em seu discurso no Senado, Dilma não
citou o Partido dos Trabalhadores. Fez autoelogio, endeusou Lula, mas ao PT,
nada. Quando fez referência, foi para dizer que “meu partido errou ao não
apoiar a Lei da Responsabilidade Fiscal”. No mais, o Partido dos Trabalhadores
foi o grande ausente na sua peça de oratória.
A estrela, símbolo do partido, sumiu nos programas
televisivos dos principais candidatos petistas. Ou apareceu de forma tão
minúscula, tão acanhada, como na propaganda do candidato a reeleição em São
Paulo, Fernando Haddad, que para enxergá-la é necessária uma lupa. Aquela
estrela vermelha imensa da logomarca de Haddad de 2012 escafedeu-se em 2016, virou
um pontinho na tela de TV. Na logomarca de Raul Pont, candidato a prefeito de
Porto Alegre e da ala esquerda do PT, a estrelinha também tomou chá de sumiço.
O vermelho desbotou, sumiu do mapa. Em alguns casos “azulou”, como nas peças
publicitárias do ex-deputado e atual prefeito de São José dos Campos, Carlinhos
Almeida, que aderiu ao azul e amarelo, mais parecendo um tucano. Aquele mar
vermelho não aparece nas bandeiras, deu lugar a uma proliferação de cores
nas campanhas petistas.
Quem entrou na clandestinidade mesmo foi a sigla PT, banida
da TV e das peças publicitárias. Qual é o partido de Haddad, de Raul Pont, de
Reginaldo Lopes, candidato em BH, dos candidatos Carlinhos, Donizete Braga, de
Mauá, e de Edinho Silva, candidato em Araraquara? Ninguém sabe!
Suas propagandas só informam que o número deles é 13. Um dos
homens forte do governo Dilma, Edinho Silva omitiu até que foi seu ministro, na
descrição de sua trajetória política.
É vexatório e emblemático do oceano de dificuldades no qual
está submerso o Partido dos Trabalhadores. Vai disputar as eleições municipais
com menor número de candidatos a prefeito, praticamente sem alianças ao centro,
e tendo como grande parceiro o PC do B, seu seguidista desde sempre. Mais grave: sem um discurso efetivo, capaz de
calar fundo no coração dos eleitores e de resgatar o brilho de uma estrela
opaca.
A direção do PT gostaria imensamente de virar a página,
marchar no rumo da refundação de um partido que perdeu o seu charme e está
envolvido em suas próprias contradições, ou no mar de lama que criou. Nem mesmo
Lula é mais unanimidade. Sua presença só
é bem-vinda em palanques dos grotões do país. Em São Paulo e em outros grandes
centros eleitorais virou uma mala sem alça, um andor difícil de carregar.
Imaginem então a Dilma. O discurso do “contra o golpe” não
dá votos, razão pela qual só foi assumido por Jandira Feghali, do PC do B do
Rio de Janeiro, ou por Raul Pont, que enfrenta em Porto Alegre uma dura
concorrência pela esquerda, a da candidatura de Luciana Genro, do PSOL.
Nesse emaranhado de dificuldades, os candidatos petistas
apelam para o mandraquismo, como se os eleitores fossem bobos e caíssem em
truques de mágica.
Somem com a estrela. Correm o risco de sumirem das urnas.
Hubert Alquéres, é
professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola
Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de
Educação do Governo do Estado de São Paulo.
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