Hubert Alquéres, Blog do Noblat
Lula deve estar esfregando as mãos de felicidade com a troca
de chumbo entre tucanos e peemedebistas. Sabe, por experiência própria, o
quanto o fogo amigo é desagregador. O caudilho vislumbra, na divisão da base de
sustentação do governo Michel Temer, a possibilidade de se reposicionar no
tabuleiro, com vistas a retornar ao poder em 2018.
Até aí, tudo de bem. É do jogo. Assim como foi do jogo a
antiga oposição explorar as contradições internas do lulopetismo para
viabilizar o impeachment.
Surpreendente mesmo é a ingenuidade de políticos tarimbados
do PMDB e PSDB que caíram na arapuca, sem nenhuma alusão ao pássaro símbolo da
socialdemocracia. Reconheça-se, a batalha de Itararé teve início por meio de um
terceiro, Rodrigo Maia, presidente da Câmara de Deputados e parlamentar do DEM.
No afã de demonstrar sua gratidão, o filho do ex-prefeito
carioca Cesar Maia deu declarações sobre uma possível candidatura à reeleição
de Michel Temer, intenção, registre-se, imediatamente desmentida pelo
presidente em exercício.
Maia colocou o carro na frente dos bois. Até porque a disputa
presidencial não está na ordem do dia.
Mas em vez de baixar as armas, macacos velhos dos dois
principais partidos da base governista dispararam torpedos uns contra os
outros. O mais grave, colocaram no meio do fogo o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, obrigando o próprio presidente a sair em defesa do seu auxiliar e a
escalar seus generais a fazerem o mesmo.
A antecipação de uma batalha que só acontecerá em 2018 é um
desserviço ao país. A transição não se encerra com o impeachment, nem com o fim
da interinidade do presidente da República. Aliás, diga-se, ela começará
verdadeiramente a partir desse momento, embora muitos passos já tenham sido
dados pós o afastamento de Dilma Rousseff.
Na economia, começa-se a enxergar uma luz no fim do túnel,
ainda que ela seja extremamente tênue, com o aumento da confiança dos
empresários. Pode ser que a “recessão em formato de U” tenha se estabilizado no
fundo e “aos poucos começa a se recuperar”, como escreveu a colunista Miriam
Leitão, em O Globo.
E internacionalmente vivemos um momento de calmaria, como
registrou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Ou seja, como destacou
o economista Marcos Lisboa, abre-se uma “janela de oportunidade” para o governo
Temer levar adiante o ajuste fiscal necessário e iniciar a retomada das
reformas estruturantes abandonadas nos anos de lulopetismo.
Para que isso aconteça, é imprescindível a credibilidade e
força da atual equipe econômica que terá de viabilizar o ajuste fiscal de
acordo com as condições que lhe são dadas. E elas nem sempre são o espelho fiel
do que se aprende nos manuais acadêmicos.
Do governo cobra-se, sobretudo, firmeza na perseguição do
objetivo do saneamento das contas públicas e coragem para enfrentar os gargalos
que corroem a capacidade de investimento do Estado, penalizam o conjunto dos brasileiros
e mantem intocados interesses corporativos.
As contradições no interior dos partidos que compõem essa
base deveriam, portanto, ser resolvidas pela via do diálogo, do respeito mútuo.
O duelo travado nas páginas e manchetes de jornais em nada ajuda na superação
de divergências que, até certo ponto e grau, são compreensíveis de existir em
um campo político heterogêneo.
O momento não comporta ilusão. Se a atual equipe econômica
fracassar, todos serão cobrados em 2018. E Lula estará lá, com a boca de
jacaré, ou de jararaca, aberta.
As eleições municipais já são por si mesmo um fator de risco
à coesão das forças pró-reformas. Podem comprometer a aliança do bloco
governista, se não houver maturidade de suas lideranças nas disputas
locais. Adicionar problemas em uma
situação já suficientemente delicada contraria a lógica.
É da política que todos os partidos procurem acumular forças
em 2016, para se posicionarem no tabuleiro de 2018. Mas não podem sacrificar o país para fazer
valer seus interesses particulares. O alerta vale para todos. Para quem é
ministro, presidente de partido, peemedebista, tucano, demista ou qualquer
outro.
Convém à artilharia governista mirar no que é necessário
para o país e não atirar na sua própria tropa.
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