José Carlos Marques, ISTOÉ
No derradeiro ato da saga de destruição deixada por Dilma o
País ainda terá de assistir ao seu repisar de delírios. Nesta segunda, 29, ela
vai ao Parlamento para dar, de novo, sua versão colorizada dos fatos. A
mandatária afastada fala em golpe, mas estará na tribuna do Senado para
discursar livremente, sem coações ou perseguições, em sessão dirigida pelo
presidente do Supremo Tribunal, compondo lado a lado com os demais chefes dos
três poderes – após esgotadas inúmeras fases de apelações e arguições de seus
defensores.
Tudo dentro dos ritos da lei e do estado democrático de
direito. Um contrassenso bizarro que nessas circunstâncias ela cogite levantar
a bandeira de golpe. Mas para Dilma não importa. Vale a versão, não os fatos. A
detentora de um dos maiores índices de rejeição de que se tem notícia na
história vai reclamar que 81 parlamentares daquela casa congressual não têm o
direito de lhe tirar do cargo outorgado por 54 milhões de eleitores em um
colégio de 110 milhões de brasileiros.
Deixará de lado, propositalmente, a evidência de que esse
apoio virou pó. Foi dilapidado por ela logo após assumir, através de um
estelionato eleitoral escancarado. Mas para Dilma não importa. Vale a versão,
não os fatos. A ex-chefe da Nação vai dizer que não cometeu crime algum –
“Estão me condenando por algo fantástico, que é um não crime”, já reclamou a
uma plateia de militantes e deve voltar a repetir na plenária-, como se a
prática das pedaladas, pelas quais é julgada, não estivessem tipificadas na
Constituição como crimes de responsabilidade fiscal. Mas para Dilma não
importa. Vale a versão, não os fatos.
A presidente que já foi retirada há mais de 100 dias do
poder irá propor um plebiscito por eleições antecipadas, mesmo sabendo que não
existe tempo hábil para isso antes do escrutínio de 2018 e que, no seu íntimo,
guarde a convicção de que não levará adiante a ideia, até porque seu próprio
partido PT rechaçou a possibilidade. Mas para Dilma não importa. Vale a versão,
não os fatos.
A comandante do Executivo que tratava os subordinados como
meros capachos, tiranizando a relação – independente das alianças políticas
estratégicas que eles representavam na base de seu governo -, agora tenta
intimidá-los, insinuando a pecha de traidores a muitos deles. É que vários
desses antigos colaboradores, como oito ex-ministros, estarão na votação final,
na condição de juízes do processo que deve condená-la, e já se mostraram
favoráveis ao seu afastamento.
Mais do que ninguém, sabem o que ocorreu de errado
intramuros do Planalto. Foram eles os traídos por um projeto de poder
esquizofrênico, e não o contrário. Mas para Dilma não importa. Vale a versão,
não os fatos. Ao antigo vice e companheiro de chapa, Michel Temer, ela reserva
a pecha de “usurpador golpista”, muito embora seja dele, por direito, a
atribuição de substituí-la, de acordo com os preceitos legais. Mas para Dilma
não importa. Vale a versão, não os fatos.
Independente de suas fanfarrices, o impeachment deve se
materializar. Pela esmagadora vontade dos cidadãos, que escolhe seus representantes,
e diante das evidências de malfeitos em profusão, os senhores senadores estão
no dever de depô-la, encerrando uma tenebrosa etapa de 13 anos de desmandos
petistas que arruinaram com a economia e a hombridade nacionais.
Afinal, a permanecer na toada de esbórnia administrativa sem
limites que Dilma, Lula & Cia. vinham impondo à sociedade e ao aparato
público em especial – na qual as manipulações contábeis eram apenas um detalhe
–, o Brasil logo estaria devastado, sem chances de salvação. Na exposição de
justificativas, nessa segunda, 29, Dilma pode (como almeja) construir uma
narrativa de saída, colocando-se no papel de vítima.
As imprecações que vai cometer, como é de seu feitio,
precisam ser analisadas à luz desse contexto. Tal encenação, no entanto, não
pode lhe livrar do ostracismo ou até mesmo da cadeia mais adiante, dentro de um
desfecho tão esperado como inevitável. Seria o epílogo ideal, sem ressalvas, do
mais irresponsável e aflitivo mandato presidencial de nossa história, cujo
legado todos querem esquecer.
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