Pode-se dizer tudo do lulopetista militante, menos que não
tenha disciplina e fé de sectário religioso. Nenhum fato da vida real abala
suas convicções — vide as revelações devastadoras surgidas na Lava-Jato sobre
seu líder e companheiros. Agora, por exemplo, o PT dá demonstra- ções de que
deseja virar a página do impeachment o mais rápido possível, mas sua bancada no
Senado atua com virulência em defesa de Dilma.
Isso, apesar das provas fartas e sólidas de que a presidente
cometeu crimes de responsabilidade na manipulação do Orçamento, passíveis de
punição por impeachment. Há quem diga que o real objetivo, agora, é marcar
posição para o ciclo oposicionista em que permanecerá o partido, com o
afastamento definitivo da presidente. Não por acaso, profissionais de cinema
estariam produzindo um documentário sobre o impeachment, por certo a ser usado
à exaustão com fins de propaganda política, por um PT vitimizado.
A bancada continua a aplicar, nesta fase final do processo,
a tática de ganhar tempo — como faz desde o início —, agora pela
desqualificação das testemunhas da acusação. Tudo também para não discutir o
tema central do processo: a acusação, bem fundamentada, de que a presidente
cometeu crimes de responsabilidade.
No início da madrugada de ontem, por exemplo, José Eduardo
Cardozo, advogado de Dilma, traçou o criativo roteiro de uma fantasiosa
conspirata feita no TCU pelo procurador do Tribunal de Contas Júlio Marcelo de
Oliveira e o auditor Antônio Carlos Costa D’Ávila Carvalho Júnior, para induzir
os ministros do tribunal a rejeitar as contas da presidente. Chegou ao ponto de
dizer que a crise foi provocada por pareceres dos auditores, arrolados pela
acusação como testemunhas.
Devido aos ataques do PT, Júlio Marcelo virou “informante”.
Mas falou o que se esperava dele, sem problemas. Ora, Cardozo faz pouco-caso do
discernimento da população, principalmente dos já mais de 12 milhões de
desempregados, devido aos graves erros de política econômica de Dilma. Esquece
que analistas brasileiros e estrangeiros, das agências de avaliação de risco,
já alertavam para problemas fiscais na economia brasileira desde no mínimo
2013.
A imprensa profissional registrou tudo. Seguiu a mesma linha
diversionista o convite da defesa ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos
ícones do “desenvolvimentismo”, para, ontem, servir também ao estratagema de se
evitarem questões fundamentais postas no impeachment. Belluzzo, por sua escola
de pensamento, desgosta de preocupações “neoliberais” com o equilíbrio fiscal,
portanto não considera que Dilma incorreu em crimes ao atropelar a Lei de
Responsabilidade. Até porque não gosta da lei.
Cumpriu, na sessão, o papel de vocalizador de críticas a um
necessário cuidado com a estabilização fiscal. Tanto que não respondeu a
perguntas objetivas feitas pela advogada, e uma dos signatários do pedido de
impeachment, Janaína Paschoal, sobre as denúncias feitas à presidente.
Confessou que não leu o processo.
Tem-se a impressão de que a bancada petista aproveita mesmo
o tempo para proselitismo com vistas ao futuro. Sintomaticamente, a maioria
pelo impedimento, depois de mais um show de batebocas e destemperos, preferiu
não levantar questões às testemunhas levadas pela defesa. É perda de tempo.
Cumpre-se a tabela, como no futebol.
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