Da ISTOÉ
Ao colocarem em vigor novas regras, as autoridades
eleitorais esperavam ter um respiro nos velhos hábitos da política brasileira.
Enganaram-se. A redução do tempo de rádio e televisão e o fim do financiamento
empresarial não aplacaram práticas responsáveis por contaminar, ainda nas
urnas, o nível e os costumes da política. Nem a insatisfação com os partidos,
após o Petrolão, fez as legendas aumentarem a rigidez na escolha dos
candidatos. Pelo contrário. Siglas de diferentes matizes colocaram novamente as
ideologias e projetos em segundo plano. Dobraram a aposta em um vale-tudo por
votos que mistura o jocoso com o oportunismo. Não se constrangem em impulsionar
o desempenho nas urnas com celebridades, como os humoristas Marquito, sósias e
personagens pitorescos. O PSDB mineiro, por exemplo, deixou uma postulante a
vereadora em Contagem aderir ao nome de “Paula Tejano”. Sabe que ela não se
destacará pelas promessas, mas por uma brincadeira adolescente. É similar ao
que ocorre em Aracaju. Lá o nanico PHS dá palanque para que o motoboy André da
Fonseca incorpore o personagem Chapolin e repita, fantasiado, bordões da série.
Já, em Santos, o PP tenta pegar carona na Lava Jato. Fez de José Afonso
Pinheiro, o zelador do tríplex do ex-presidente Lula no Guarujá, uma arma para
ganhar cadeiras no legislativo.
Surfar em escândalos ou na popularidade de personalidades se
tornou uma estratégia costumeira que empobrece a política. No auge do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 105 candidatos usavam o seu apelido em
2012. Um número que despencou com as denúncias contra o lulopetismo. E é graças
a uma destas acusações que o PP de Santos, litoral paulista, lançou a
candidatura de José Afonso Pinheiro. Trata-se, como ele frisa nos santinhos, do
zelador do tríplex do Guarujá. Seus depoimentos complicaram a situação de Lula
e da ex-primeira-dama Marisa Letícia com a Justiça. José Afonso afirmou que os
dois vistoriaram a reforma do apartamento, que dizem não ser donos. Tamanha
sinceridade fez com que fosse demitido no começo do ano. “Voltei para Santos,
onde minha mulher trabalha como doméstica”, conta. As reportagens sobre o caso
fizeram partidos o convidarem para ingressar na política. “Eu escolhi o PP,
porque foi o primeiro que me chamou para conversar e gostei do pessoal”,
afirma. Ex-campeão amador de boxe, sua plataforma se baseia na ajuda a projetos
sociais. Os votos, espera conquistar principalmente de porteiros e zeladores.
Para isto, passa o dia visitando edifícios. Invariavelmente, é questionado
sobre o contato com Lula e Marisa Letícia.
Trocadilhos
Se faltam ideologias, sobram brincadeiras. Candidatos usam
trocadilhos e nomes inusitados para chamar a atenção. É o caso da autônoma Ana
Paula Teodoro Mendonça (PSDB). Ela assumiu a identidade política de Ana “Paula
Tejano” para concorrer a vereadora na cidade de Contagem, Minas Gerais. A
cacofonia dos últimos dois nomes dá margens para inúmeras brincadeiras. “O
pessoal acha graça. Acredito que ajuda (na eleição)”, conta a candidata, que
quer trabalhar contra a homofobia e pelos animais. “Agora, se tem maldade, é na
cabeça dos outros.” Ana Paula diz que trocou nas urnas o sobrenome Teodoro pelo
Tejano por ser o jeito que a conhecem há tempos. A brincadeira teria começado
entre os amigos na adolescência e pegou. Farão companhia para ela nestas
eleições outros candidatos inusitados, como “Helio Quebra Bunda”em Cachoeira
(BA), “Xereca” em Mongaguá (SP), “Nojo” em Parnaíba (MS) e “Vin Diesel
Curitibano” na capital paranaense.
Em muitos casos, os nomes pitorescos afrontam a lei. Uma
resolução TSE estabelece limites aos candidatos. É necessário que a alcunha
escolhida “não atente contra o pudor e não seja ridículo ou irreverente”. A
esteticista Risolene de Lima Macedo (PPL) acredita que seja o seu caso. Com o
nome “Riso Sempre Riso”, ela concorre a uma vaga de vereadora em Igarassu,
Pernambuco. “O meu nome (Risolene) leva a Riso. Todo mundo aqui me conhece
desde criança assim”, afirma. “Nunca me viram triste”, garante. Na Câmara, ela
pretende lutar pelo sorriso das crianças. Seu principal projeto é que o
município ofereça dentistas nas escolas públicas. Com políticos como esses,
fica díficil acreditar nos partidos. Se as brincadeiras trarão votos, só as
urnas dirão. Mas, com certeza, não trazem credibilidade para a política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário