Da ISTOÉ
Em 1989, no auge do poder do narcotráfico, o candidato à
Presidência da Colômbia Luís Carlos Galán foi assassinado a tiros durante um
comício no município do Soacha, próximo à capital Bogotá. O crime chocou o
mundo. Quase 30 anos depois, cenas desse tipo de barbárie se repetiram, desta
vez no Brasil, durante a campanha das eleições municipais. De acordo com o
Tribunal Superior Eleitoral, somente até 26 de agosto foram registrados vinte
homicídios envolvendo candidatos e pré-candidatos a cargos eletivos neste ano.
Os assassinatos ocorreram em dez estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará,
Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte, Acre, Rondônia, Rio Grande do Sul e
Goiás).
Foi uma das campanhas eleitorais mais violentas da história
nacional. O mais recente assassinato ocorreu na quarta-feira 28. O candidato do
PTB à Prefeitura de Itumbiara, em Goiás, José Gomes da Rocha, foi morto a tiros
durante um comício. Ele estava acompanhado do vice-governador José Eliton
(PSDB), que acabou atingido, mas sobreviveu. O atentado aconteceu durante uma
carreata. Zé Gomes, como era chamado por seus eleitores, estava na carroceria
de uma caminhonete, acompanhado de José Eliton e do deputado federal Jovair
Arantes (PTB).
O atirador Gilberto Ferreira do Amaral se aproximou de carro
da multidão que cercava o veículo dos políticos. Aparentando frieza, Gilberto
parou o automóvel e atravessou a rua em direção ao grupo. Ao chegar perto,
puxou a arma e disparou treze vezes. Um tiro atingiu em cheio Zé Gomes, que
morreu na hora. Outros disparos mataram o policial militar Vanilson Pereira. O
quarto atingido foi o advogado da Prefeitura de Itumbiara, Célio Rezende. Ele e
o vice-governador José Eliton foram levados para o hospital – ambos estão fora
de perigo.
Gilberto Ferreira tentou fugir, mas acabou baleado e morreu.
Ele tinha 53 anos e trabalhava de motorista para a Prefeitura de Itumbiara.
Ferreira havia entrado com um processo na Justiça cobrando da administração do
município o pagamento de horas extras referentes aos anos de 2009 e 2013. Na
ocasião, o prefeito era Zé Gomes.
O crime de Itumbiara provocou reação do TSE. O presidente do tribunal, Gilmar Mendes,
acionou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para que a Polícia Federal
entrasse nas investigações. O próprio Moraes foi ao hospital onde o
vice-governador José Eliton, alvejado no abdômen, está internado. “Trata-se de
um episódio chocante”, classificou Mendes.
No mesmo dia do assassinato de Zé Gomes, delegacias
policiais de quatro estados registraram outros atentados a candidatos. Na
madrugada de quarta, o candidato a vereador em Nova Iguaçu (RJ), Luiz Carlos
Magno da Silva (PTC), teve sua casa alvejada por tiros. Em Minas Novas (MG),
dois homens em uma motocicleta abriram fogo contra o carro do prefeito e
candidato à reeleição da cidade, Gilberto Gomes da Silva (PPS). Ninguém ficou
ferido. No município de Araçoiaba da Serra (SP), uma bomba arremessada contra a
casa do candidato a prefeito Dirlei Salas (PV) destruiu o muro. Na cidade de
Santa Cecília (SC), João Rodoger de Medeiros (PSD), que concorre ao cargo de prefeito
de Santa Cecília (SC), sofreu uma tentativa de assassinato.
PEDÁGIO ELEITORAL
Dois dias antes, no Rio de Janeiro, o candidato a vereador
no Rio de Janeiro pelo PP Marcos Falcon morreu assassinado. Foi morto a tiros
por dois homens encapuzados que invadiram seu comitê de campanha, na zona norte
da capital fluminense. Subtenente da Polícia Militar, Falcon era presidente da
Portela e havia sofrido outros atentados.
Os casos estão sob investigação policial. Pelo modo com que
foram cometidos, supõe-se que sejam crimes políticos. Trata-se, portanto, de
uma situação que precisa ser enfrentada com urgência para que não se observe
daqui por diante a escalada da brutalidade. Cada um dos atentados macula o
processo democrático brasileiro e joga sobre o País uma sombra de medo que não
pode ser aceita.
É escandalosa e muito grave também a denúncia de que, no Rio
de Janeiro, milicianos cobravam até R$ 120 mil de candidatos para permitir que
eles fizessem incursões por áreas dominadas por poder paralelo, que funciona à
margem do Estado. Os bandidos – escondidos sob a farda da polícia – já comandam
várias regiões cariocas, controlando o comércio, o transporte, o direito de ir
e vir dos moradores. Agora, infiltram-se na política, truncando o processo
eleitoral ao decidir quem pode entrar ou não nas regiões sob seu controle. É o
crime organizado afrontando o estado democrático de direito.
Áudios atribuídos a sobrinho de candidato a prefeito
atestaria financiamento: “Vem PCC. O jogo do bicho está patrocinando tudo. Se
eles gastarem R$ 10 milhões nós gastamos vinte”.
O Ministério Público Federal investiga a influência do PCC
nas eleições municipais do Ceará, revelada por ISTOÉ em sua edição 2432, de 15
de julho. Em Mombaça, no interior do Estado, procuradores tiveram acesso a
áudios atribuídos ao sobrinho do candidato a prefeito Dudu Eleotério (PP), onde
ele sugere que o PCC e o jogo do bicho estariam prontos para gastar R$ 20
milhões a fim de eleger seu tio. “O Dudu vai para as cabeças (…)Quando você
tiver em Mombaça vou te explicar tudo (…) Eles não querem assim, dinheiro
contra dinheiro? Então vai ser assim agora. Vem PCC !!!”, afirma ele para
acrescentar em seguida. “O jogo do bicho está patrocinando tudo. Se eles
gastarem R$ 10 milhões nós gastamos vinte para ganhar”. O CEO da principal
facção criminosa do País, Alejandro Camacho, irmão de Marcola, tem fortes
vínculos com Mombaça. Não à toa, na cidade ele é tratado como Junior Mombaça.
No processo, o MPF identifica o deputado estadual Naumi
Amorim(PMB) – líder nas pesquisas a prefeito de Caucaia – como um dos suspeitos
de ter usado sua amizade com o governador Camilo Santana para transferir um dos
principais líderes do PCC, Francisco da Silva, vulgo Rafael Xilito, de um
presídio para uma penitenciária em Pacatuba, onde em tese disporia de mais
regalias.
Nos próximos dias, o MPF aprofundará as investigações sobre
outro personagem conhecido da região: o empresário e candidato a prefeito de
Morada Nova, Wanderley Nogueira (PT), ligado ao ex-líder do governo Dilma na
Câmara, deputado José Guimarães.
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