sábado, 22 de outubro de 2016

A INTOLERÂNCIA DE CRIVELLA

RIO - O candidato do PRB à prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, afirmou, em pregação em 2012, que a homossexualidade pode ter origem no sofrimento do bebê ainda no útero da mãe. Segundo ele, gays merecem compreensão porque podem ser fruto de aborto malsucedido.
O vídeo, divulgado no YouTube, que foi retirado do ar nesta sexta-feira, 21, contrasta com as explicações que Crivella tem dado para o livro Evangelizando a África, publicado quando ele tinha 42 anos, em que se refere à homossexualidade como "mal terrível". O senador tem dito que era "um rapazinho intolerante", quando escreveu o livro, e que não voltou a cometer os mesmos erros.
A gente aprende com o tempo”, disse Crivella, que, nos últimos dias, tem repetido em sua propaganda eleitoral que mudou de opinião e passou a defender a tolerância e os direitos para todos.
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella fez as declarações no Cenáculo da Fé, templo no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste, em outubro de 2012. A postagem localizada pelo Estado, intitulada “Como ser de Deus – Bispo Marcelo Crivella”, é de junho de 2014.
“Vocês já repararam como os homossexuais são devotados as suas mães? Já repararam como os homens que se relacionam com outros homens têm verdadeira idolatria pela imagem da sua mãezinha querida? ‘Mamãe, mamãe, mamãe, minha mãezinha, minha mãezinha’. Você vê como uma criança pode sofrer no útero da mãe.”
E continua: “De tal maneira é a vida, que muitas vezes a gente acusa pessoas, às vezes acusam e tratam tão mal um homossexual sem saber os dramas que ele vive, as angústias que ele sofre, os seus problemas. Às vezes se diz: ‘fulano é um pau que nasce torto, e não tem jeito’. Às vezes, a mãe tentou um aborto”.
A mesma lógica se aplica, segundo Crivella, a “muita gente da favela, meninos envolvidos no tráfico, nas drogas”, que nasceriam “já desesperados”. “Imagina você estar no útero da sua mãe e a sua mãe, por uma série de problemas, tentar te matar, não conseguir. Como depois você vai encarar o mundo? É difícil”.
Crivella diz ainda que mulheres das Filipinas criam filhos como se fossem meninas para ter quem cuide delas na velhice. “O menino tinha calcinha, sutiã, passava batom na boca, tinha trancinha no cabelo. Não é esquisito?”. E contou ainda história de uma jovem que garante para as amigas que o novo namorado não é gay. “E ela falou assim: ‘não é, não. Porque eu já fui a casa dele e não tem nenhum porta-retrato da mãe’”, disse Crivella, provocando risos dos fieis.
No vídeo, Crivella ironiza indiretamente católicos pela forma como rezam o terço, ao falar da beleza da oração Pai Nosso. “O sujeito vai e se confessa. ‘Qual o seu pecado?’. ‘Eu roubei a galinha do meu vizinho’ (...). ‘Reza dez Pais Nossos’ (gesticula como se fosse o terço) ‘Pai Nosso, Pai Nosso, Pai Nosso...’ Aí vai uma outra desajuizada e fala: ‘eu roubei o marido da minha vizinha’. ‘Então, vai rezar 500 pai nossos, sua pecadora.’ ‘Pai Nosso, Pai Nosso, Pai Nosso. Ai, meu Deus, Perdi a conta. Vou começar tudo de novo.’, encerrou Crivella, provocando mais risos na plateia.
O vídeo “Como ser de Deus” chegou a ser postado pelo canal do YouTube Amigos do Crivella, que compartilha discursos do senador no Congresso e encontros políticos, e reproduzido em sites ligados à Igreja Universal. Mas foi excluído por este canal e voltou a ser publicado em 2014.
Tolerância. O candidato do PRB a prefeito do Rio, Marcelo Crivella, afirmou em nota que a frase sobre homossexuais foi pinçada em um “momento eleitoral” e “mais uma vez tenta carimbar no candidato uma visão de intolerância que não corresponde à sua vida pública. Tampouco representa o sentido da longa explanação de onde as palavras foram retiradas com objetivo político. Nela, a fraternidade, a compreensão e a tolerância são defendidos.”
O texto destaca que o senador afirma no discurso: "Às vezes, você acusa e trata tão mal um homossexual sem saber os dramas que ele vive, as angústias que ele sofre, os seus problemas". Também recorda que adiante ele diz que "precisamos nascer de Deus" e complementa: “Para nascer de Deus, a gente precisa de uma boa mãe. E a boa mãe é a igreja. Se é uma igreja fanática, emotiva, preocupada, com problemas, ela vai dar a luz a filhos também com problemas. (...) Deus é lógico, (está) no bom senso, nas coisas sensatas, razoáveis, sem radicalismos, sem dramas, sem desequilíbrios que tem sintomas graves na vida social, na existência das pessoas.”
A nota afirma ainda que “não é a primeira vez em que, na reta final das eleições, os adversários tentam explorar a religiosidade do candidato Marcelo Crivella com o objetivo de desgastá-lo diante de parte da opinião pública. Os eleitores já perceberam.”
Sem comentários. Questionado por jornalistas sobre a repercussão dos vídeos, na manhã desta sexta-feira, 21 Crivella disse que "só comentaria assuntos municipais". Ele participou de um encontro com instituições e lideranças ligadas a pessoas com deficiência, no Hotel Windsor Guanabara, no Centro, com o adversário no primeiro turno e agora aliado, Carlos Osório (PSDB).
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