RIO - O candidato do PRB à prefeitura do Rio, Marcelo
Crivella, afirmou, em pregação em 2012, que a homossexualidade pode ter origem
no sofrimento do bebê ainda no útero da mãe. Segundo ele, gays merecem
compreensão porque podem ser fruto de aborto malsucedido.
O vídeo, divulgado no YouTube, que foi retirado do ar nesta
sexta-feira, 21, contrasta com as explicações que Crivella tem dado para o
livro Evangelizando a África, publicado quando ele tinha 42 anos, em que se
refere à homossexualidade como "mal terrível". O senador tem dito que
era "um rapazinho intolerante", quando escreveu o livro, e que não
voltou a cometer os mesmos erros.
A gente aprende com o tempo”, disse Crivella, que, nos
últimos dias, tem repetido em sua propaganda eleitoral que mudou de opinião e
passou a defender a tolerância e os direitos para todos.
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus,
Crivella fez as declarações no Cenáculo da Fé, templo no Recreio dos
Bandeirantes, na zona oeste, em outubro de 2012. A postagem localizada pelo
Estado, intitulada “Como ser de Deus – Bispo Marcelo Crivella”, é de junho de
2014.
“Vocês já repararam como os homossexuais são devotados as
suas mães? Já repararam como os homens que se relacionam com outros homens têm
verdadeira idolatria pela imagem da sua mãezinha querida? ‘Mamãe, mamãe, mamãe,
minha mãezinha, minha mãezinha’. Você vê como uma criança pode sofrer no útero
da mãe.”
E continua: “De tal maneira é a vida, que muitas vezes a
gente acusa pessoas, às vezes acusam e tratam tão mal um homossexual sem saber
os dramas que ele vive, as angústias que ele sofre, os seus problemas. Às vezes
se diz: ‘fulano é um pau que nasce torto, e não tem jeito’. Às vezes, a mãe
tentou um aborto”.
A mesma lógica se aplica, segundo Crivella, a “muita gente
da favela, meninos envolvidos no tráfico, nas drogas”, que nasceriam “já
desesperados”. “Imagina você estar no útero da sua mãe e a sua mãe, por uma
série de problemas, tentar te matar, não conseguir. Como depois você vai
encarar o mundo? É difícil”.
Crivella diz ainda que mulheres das Filipinas criam filhos
como se fossem meninas para ter quem cuide delas na velhice. “O menino tinha calcinha,
sutiã, passava batom na boca, tinha trancinha no cabelo. Não é esquisito?”. E
contou ainda história de uma jovem que garante para as amigas que o novo
namorado não é gay. “E ela falou assim: ‘não é, não. Porque eu já fui a casa
dele e não tem nenhum porta-retrato da mãe’”, disse Crivella, provocando risos
dos fieis.
No vídeo, Crivella ironiza indiretamente católicos pela
forma como rezam o terço, ao falar da beleza da oração Pai Nosso. “O sujeito
vai e se confessa. ‘Qual o seu pecado?’. ‘Eu roubei a galinha do meu vizinho’
(...). ‘Reza dez Pais Nossos’ (gesticula como se fosse o terço) ‘Pai Nosso, Pai
Nosso, Pai Nosso...’ Aí vai uma outra desajuizada e fala: ‘eu roubei o marido
da minha vizinha’. ‘Então, vai rezar 500 pai nossos, sua pecadora.’ ‘Pai Nosso,
Pai Nosso, Pai Nosso. Ai, meu Deus, Perdi a conta. Vou começar tudo de novo.’,
encerrou Crivella, provocando mais risos na plateia.
O vídeo “Como ser de Deus” chegou a ser postado pelo canal
do YouTube Amigos do Crivella, que compartilha discursos do senador no
Congresso e encontros políticos, e reproduzido em sites ligados à Igreja
Universal. Mas foi excluído por este canal e voltou a ser publicado em 2014.
Tolerância. O candidato do PRB a prefeito do Rio, Marcelo
Crivella, afirmou em nota que a frase sobre homossexuais foi pinçada em um
“momento eleitoral” e “mais uma vez tenta carimbar no candidato uma visão de
intolerância que não corresponde à sua vida pública. Tampouco representa o
sentido da longa explanação de onde as palavras foram retiradas com objetivo
político. Nela, a fraternidade, a compreensão e a tolerância são defendidos.”
O texto destaca que o senador afirma no discurso: "Às
vezes, você acusa e trata tão mal um homossexual sem saber os dramas que ele
vive, as angústias que ele sofre, os seus problemas". Também recorda que
adiante ele diz que "precisamos nascer de Deus" e complementa: “Para
nascer de Deus, a gente precisa de uma boa mãe. E a boa mãe é a igreja. Se é
uma igreja fanática, emotiva, preocupada, com problemas, ela vai dar a luz a
filhos também com problemas. (...) Deus é lógico, (está) no bom senso, nas
coisas sensatas, razoáveis, sem radicalismos, sem dramas, sem desequilíbrios
que tem sintomas graves na vida social, na existência das pessoas.”
A nota afirma ainda que “não é a primeira vez em que, na
reta final das eleições, os adversários tentam explorar a religiosidade do
candidato Marcelo Crivella com o objetivo de desgastá-lo diante de parte da
opinião pública. Os eleitores já perceberam.”
Sem comentários. Questionado por jornalistas sobre a
repercussão dos vídeos, na manhã desta sexta-feira, 21 Crivella disse que
"só comentaria assuntos municipais". Ele participou de um encontro
com instituições e lideranças ligadas a pessoas com deficiência, no Hotel
Windsor Guanabara, no Centro, com o adversário no primeiro turno e agora
aliado, Carlos Osório (PSDB).
Nenhum comentário:
Postar um comentário