José Aníbal, Blog do Noblat
Uma sociedade civilizada e justa depende de uma política
decente. Não há vida em sociedade sem um Estado eficiente. As ruas, o trânsito,
as escolas, os postos de saúde: como garantir que tudo isso funcione sem
coordenação, sem diálogo, sem arbitrar interesses e desejos e direcionar as
coisas para o bem-estar de todos?
Desde a fundação, meu partido – o PSDB – aponta um norte:
manter distância das benesses e regalias do poder e, principalmente, nunca
deixar de sentir e reverberar, em ações concretas, o pulsar das ruas. Missão
difícil e que só voltará a ser plenamente cumprida quando resgatarmos a
decência na política.
Max Weber, considerado o pai da sociologia moderna, disse em
célebre conferência de 1918: “Somente quem tem a vocação da política terá
certeza de não desmoronar quando o mundo, do seu ponto de vista, for demasiado
estúpido ou demasiado mesquinho para o que ele lhe deseja oferecer. Somente
quem, frente a tudo isso, pode dizer ‘Apesar de tudo’ tem a vocação para a
política.”
Não poderia soar mais atual no Brasil de 2016. O lamaçal que
cobriu o noticiário, cujos efeitos são sentidos em nossas casas, nas conversas
de amigos, no ambiente de trabalho, jamais deve justificar a negação da
política. Somente pela atividade política e pelo resgate de valores e
compromissos pelo bem comum reencontraremos o caminho de uma sociedade mais
justa e menos desigual.
A recente eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, nos
surpreendeu. O discurso repleto de argumentos preconceituosos e propostas
superficiais chocou o mundo. Foi uma vitória com base num sentimento escondido
pela volta a um passado de segregação, divisão e rancor que não cabe mais no
século 21. Há um consolo: as instituições democráticas, a lei e o espírito de
República dos EUA são fortes e tendem a impor limites a um projeto tão
anacrônico.
Há também um ensinamento nesse episódio. O risco de eleger
aventureiros pode crescer aqui também. Temos de evitar esse caminho, e a única
alternativa é tirar a política da lama. Precisamos de seriedade, valores e
compromissos. É o mínimo.
O governo do presidente Michel Temer está recolocando o país
nos trilhos, a começar pela proposta de fixar um limite claro e transparente
para o avanço dos gastos públicos. Em seguida, virá a reforma da Previdência.
Vamos adequar nossa realidade ao que ocorre no resto do mundo para que nossos
filhos possam desfrutar de uma aposentadoria justa, e não corram o risco de ver
o sistema simplesmente falir.
Mas isso não basta. Precisamos reformar o sistema
educacional, encaminhando com rapidez as mudanças para o Ensino Médio. São
necessárias medidas que tornem o estado mais eficiente e eficaz para os muitos
que dependem de suas políticas públicas, e deixe de ser usado como fonte de
privilégios de uma pequena elite burocrática. Temos de buscar uma política
econômica mais voltada ao crescimento, com juros menores e mais investimentos
em infraestrutura.
Negar a política é negar a possibilidade de uma nova chance,
de um recomeço. É pela política que podemos ter mais educação, saúde,
segurança, transportes, emprego e renda. É a luta política que garante
instrumentos à sociedade para restaurar um ambiente propício ao bem comum.
Se algumas laranjas podres quase contaminaram a cesta toda,
vamos ao replantio! Não podemos nos contentar com a visão pessimista (ainda que
compreensível) de que tudo está errado e de que não há saída. É nosso o dever
de restaurar a decência da atividade política, sobretudo quando ela se apresenta
no ponto máximo de hostilidade e repugnância.
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