A primeira madrugada do Corujão da Saúde, mutirão lançado
pelo prefeito João Doria (PSDB) para zerar a fila de cerca de 500 mil exames na
capital, teve equipamento quebrado e atrasos, mas todos os pacientes
conseguiram fazer os procedimentos que haviam sido agendados. O Hospital Oswaldo
Cruz, na Bela Vista (região central), foi a única das oito unidades que
aderiram ao Corujão a atender na madrugada.
A assistente de gestão de Políticas Públicas Daiane Cristina
Costa, 42 anos, esperou por quase três horas e meia para fazer uma tomografia
no ombro. O exame, agendado para à 1h40, só foi feito perto das 5h. "A
máquina quebrou no momento em que eu estava lá dentro. Por uma hora eles
tentaram duas vezes fazer o exame, mas não deu certo.
Como não conseguiram, tive que entrar na fila da outra
máquina, que também estava sendo usada por pacientes do Corujão", disse
Daiane. Ela estava na fila desde setembro. "Apesar do transtorno, saio
aliviada porque consegui fazer esse exame."
A atendente Ana Luiza Braz Marques, 52 anos, estava com o
procedimento agendado para a 1h20 na unidade, mas só foi atendida às 2h50,
também por causa do problema na máquina. "Cheguei faltando dez minutos
para a 1h porque a recomendação é chegar meia hora antes, mas só fui atendida
quase duas horas depois", disse a atendente.
Já a aposentada Zelma Graumo, 77 anos, tinha um pedido de
tomografia de tórax com contraste, mas fez o exame sem. "Os funcionários
disseram que o contrato do hospital com a prefeitura é apenas para a tomografia
sem contraste. Como a minha mãe já era de mais idade, eles optaram por fazer
sem contraste mesmo", disse a filha de Zelma, a artesã Lúcia Souza
Queiroz, 47 anos.
Para não esperar a madrugada até o transporte público voltar
a funcionar, os pacientes com exames para depois da meia-noite foram de carro
ou contaram com a ajuda de amigos. Moradora de Itaquera (zona leste), a dona de
casa Deise Santos Cruz da Conceição, 54 anos, chegou às 4h para fazer o exame
de tomografia no ombro direito.
"Eu e o meu marido levantamos às 2h40 para chegar no
horário", contou. Eles foram de carro. Já a auxiliar de atendimento Karina
Soares, 33 anos, em tratamento do nervo ciático, pediu carona para amigas.
"A ideia do programa é boa, mas é preciso providenciar transporte."
Após aguardar oito meses, a dona de casa Cicera Maria da
Silva Rocha, 65 anos, não se incomodou de fazer a tomografia de tórax pouco
depois da 1h. Ela foi de carro com o marido. "Só de saber que vou ter um
diagnóstico já fico aliviada."
Já eram 4h50 de quarta-feira (11) quando a aposentada Joana
Faustina Ferreira, 90 anos, chegou ao Hospital Oswaldo Cruz para passar por um
exame de tomografia da coluna, marcado para as 5h20. Na fila há seis meses,
encaminhada pela UBS Jardim Grimaldi, em Sapopemba (zona leste), a idosa contou
com o apoio da nora Sueli Silva Rosa, 46 anos, e de um sobrinho para ir de
casa, no mesmo bairro, à unidade.
"Eu acordei às 3h porque tenho uma filha deficiente e
tive de deixar tudo pronto para ela acordar", disse a idosa que, apesar da
hora, levou a experiência com bom humor. "Eu trabalhei na roça a minha
vida toda. Já estou acostumada a madrugar."
Sueli disse que também levantou às 3h para encontrar o
sobrinho, que se prontificou a dirigir e ir buscar Joana. "A família toda
se mobilizou para trazê-la ao exame porque ela sofre com muitas dores nas
costas."
A Prefeitura de São Paulo, da gestão João Doria (PSDB),
disse que a falha do equipamento de tomografia foi uma "situação pontual
de quebra de máquina, que pode ocorrer". Afirmou que a paciente Daiane
Cristina Costa fez o exame agendado.
Sobre o transporte de pacientes, disse que analisa as linhas
de ônibus que atendem os hospitais que participam do Corujão da Saúde e, a
partir do estudo, poderá colocar novas linhas noturnas durante o programa. A
prefeitura considerou "altamente satisfatório" o início do programa
Corujão da Saúde. No hospital Oswaldo Cruz, foram realizadas todas as
ressonâncias agendadas e 73% das tomografias computadorizadas.
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