Do G1, MT
A Justiça de Mato Grosso determinou, na segunda-feira (9), o
bloqueio de até R$ 4 milhões em bens do ministro da Agricultura, Blairo Maggi,
e de outras oito pessoas acusadas de usar dinheiro público para comprar uma
vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT) para beneficiar o
ex-deputado estadual Sérgio Ricardo, que também é réu na ação. A decisão tem
caráter liminar e é cabível de recurso.
O ministro disse, em nota, ter ficado surpreso com a
decisão, pois não houve nenhum fato novo no processo que tramita na esfera
federal, no qual era investigado pela mesma nomeação, e alegou consciência
tranquila. "Estou pronto para prestar todos os esclarecimentos à Justiça
e, recorrer da medida, por entender não ter sido justa a decisão proferida,
ainda que liminarmente", declarou.
Na mesma decisão, o juiz da Vara Especializada em Ação Civil
Pública e Ação Popular, Luiz Aparecido Bortolussi Júnior, determinou o
afastamento de Sérgio Ricardo do cargo de conselheiro do TCE-MT. Sérgio Ricardo
e o TCE-MT informaram, por meio de assessoria, que ainda não foram notificados
da decisão.
Acusado de improbidade administrativa e dano ao erário,
Blairo Maggi teria participado das negociações com o então conselheiro Alencar
Soares para que ele se aposentasse e abrisse espaço para que Sérgio Ricardo
pudesse assumir o cargo que é vitalício, em maio de 2012, de acordo com o
Ministério Público Estadual (MPE-MT). Alencar Soares também é réu no processo,
sob acusação de ter recebido R$ 4 milhões para se aposentar antes do prazo.
Na sentença, o juiz cita trechos da ação sobre a
participação de Blairo Maggi no esquema. "[Ele] concordou com a pretensão
espúria de Éder Moraes e Sérgio Ricardo, participou de reuniões e ordenou
devolução de dinheiro, tendo também ordenado pagamentos, retardando e depois concretizando
compra de vaga do TCE, inicialmente segurando e depois forçando a aposentadoria
antecipada de Alencar Soares, com o firme propósito de abrir a oportunidade de
ingresso de protegidos, em negociata realizada na surdina", destacou. O
então secretário de estado, Eder Moraes, também teria a pretensão de ocupar uma
vaga no órgão.
Segundo o magistrado, quando governador, Maggi também teria
supostamente ordenado o então secretário de estado, Eder Moraes, a fazer um acerto
imoral, "através de repasses extraídos da 'conta corrente', ou seja, de
conta alimentada e mantida com recursos públicos desviados, oriundos de esquema
montado e alimentado com dinheiro público", alvo da Operação Ararath,
deflagrada em 2013 pela Polícia Federal.
O pagamento da vaga teria sido feito por meio de uma
factoring do empresário Júnior Mendonça, tido como operador de um esquema de
lavagem de dinheiro desviado dos cofres estaduais. Mendonça firmou acordo de
delação premiada com a Justiça e, em um dos depoimentos prestados durante as
investigações, disse que a negociação da vaga entre Maggi e Soares teria
ocorrido durante uma viagem dos dois à África do Sul, em 2009.
Além de Blairo Maggi, o bloqueio atinge Sérgio Ricardo,
Alencar Soares, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB), que está preso desde
2015, o ex-conselheiro do TCE-MT e ex-deputado, Humberto Bosaipo, o
ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), José Geraldo
Riva, o empresário Gércio Marcelino Mendonça, o Júnior Mendonça, Leandro Valoes
Soares, filho de Alencar Soares, e o ex-secretário de estado, Eder Moraes. Os
nove são réus nessa ação.
A defesa de Eder Moraes informou que o cliente ainda não foi
notificado da decisão e que irá apresentar defesa no prazo legal. Já o advogado
de Júnior Mendonça alegou que ainda não tomou ciência da decisão e alegou que,
como colaborador premiado, ele vem cumprindo integralmente todas as condições
impostas pela Justiça. Por sua vez, a defesa de Silval Barbosa informou que só
se manifestará sobre o caso após ter conhecimento da decisão. O G1 não
conseguiu manter contato com José Riva, Humberto Bosaipo, Alencar Soares e
Leandro Soares até a publicação desta reportagem.
Inicialmente, conforme o magistrado, a vaga, que estava
reservada para alguém indicado pela Assembleia Legislativa, teria sido
negociada por R$ 12 milhões. No entanto, houve comprovação do pagamento de R$ 4
milhões, segundo a decisão.
Para o magistrado, Sérgio Ricardo lesou o erário público ao
colaborar e causar a perda do patrimônio público com desvio e apropriação
indevida de dinheiro público. "[Sérgio Ricardo] comprou a vaga (cadeira)
do TCE-MT (lugar ocupado por Alencar Soares), com o pagamento de propina,
estando comprovada a transferência para ele, (...) tudo para forçar a
aposentadoria antecipada de Alencar Soares, atendendo a seus interesses e em
cumprimento a decisão espúria tomada em reunião com autoridades do alto escalão
de governo", diz trecho da sentença.
Negociações
No começo de 2009, segundo a decisão, houve uma reunião com
autoridades do alto escalão do governo para tratar do preenchimento de duas
vagas no TCE, sendo definido que uma seria de Sérgio Ricardo e outra de Eder
Moraes. Teriam participado da reunião Maggi, Riva, Silval, Sério Ricardo,
Humberto Bosaipo e Éder Moraes, conforme o magistrado.
Outras reuniões foram realizadas com o conselheiro do TCE,
Alencar Soares, e o filho dele, Leandro Soares.
A pedido de Blairo Maggi, Eder teria supostamente
providenciado o pagamento de R$ 4 milhões ao conselheiro Alencar para que este
devolvesse ao deputado Sérgio Ricardo o valor por ele pago, servindo o restante
para complementar o pagamento de uma das vagas que seriam abertas.
Tanto que, certa vez, conforme a ação, Eder Moraes e Júnior
Mendonça foram até o gabinete do conselheiro Alencar Soares para honrar o
compromisso do governador, entregando-lhe um cheque de R$ 2,5 milhões, da
Amazônia Petróleo, uma das empresas de Júnior Mendonça.
Além disso, a pedido de Alencar Soares, o cheque foi
substituído por três transferências bancárias e depósito de vários cheques em
favor de uma empresa indicada pelo então conselheiro do TCE-MT, o que, segundo
o magistrado, pode ser constatado por meio de comprovantes de transferências e
extratos bancários.
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