Do UOL
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello
decidiu nesta terça-feira (14) manter no cargo o ministro da Secretaria-Geral
da Presidência do governo Temer, Moreira Franco (PMDB-RJ), ao negar pedido de
liminar dos partidos Rede e PSOL para que a nomeação fosse suspensa.
Em sua decisão, Celso de Mello afirma que a indicação para o
cargo de ministro não leva à obstrução ou paralisação de eventuais
investigações.
No início da noite, o porta-voz do Palácio do Planalto,
Alexandre Parola, declarou que Michel Temer "recebeu com tranquilidade a
decisão de Celso de Mello".
Mello é o relator no STF de dois mandados de segurança,
impetrados pelas legendas. Elas pediam a suspensão da nomeação de Moreira
Franco para o recém-criado ministério da Secretaria-Geral da Presidência da
República, alegando que a atitude do presidente Michel Temer teve como único
objetivo garantir foro privilegiado ao colega de partido, que foi citado na
delação de um ex-executivo da Odebrecht. Como ministro, é investigado apenas
pelo STF, e não pelo juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira
instância do Judiciário.
"A mera outorga da condição político-jurídica de
Ministro de Estado não estabelece qualquer círculo de imunidade em torno desse
qualificado agente auxiliar do Presidente da República, pois, mesmo investido
em mencionado cargo, o Ministro de Estado, ainda que dispondo da prerrogativa
de foro "ratione muneris", nas infrações penais comuns, perante o
Supremo Tribunal Federal, não receberá qualquer espécie de tratamento
preferencial ou seletivo, uma vez que a prerrogativa de foro não confere
qualquer privilégio de ordem pessoal a quem dela seja titular", diz o
ministro do STF em seu despacho.
Celso de Mello também rejeitou o argumento dos partidos de
que haveria desvio de finalidade na nomeação de Moreira Franco. Segundo ele, a
explicação do presidente Temer foi suficiente neste sentido.
"Não constitui demasia assinalar, neste ponto, que o
decreto presidencial ora impugnado, à semelhança de qualquer outro ato estatal,
reveste-se de presunção "juris tantum" de legitimidade, devendo
prevalecer, por tal razão, sobre as afirmações em sentido contrário, quando
feitas sem qualquer apoio em base documental idônea que possa infirmar aquela
presunção jurídica", justificou o ministro, citando o "atributo da
legitimidade e da veracidade".
Mello havia dado um prazo de 24 horas a Temer para prestar
esclarecimentos sobre a nomeação de Moreira Franco. O presidente atendeu ao
pedido do ministro na sexta-feira (10). Ele enviou ao STF uma longa
justificativa elaborada pela AGU (Advocacia Geral da União) e pela Casa Civil.
A explicação do presidente entregue ao STF sustentava cinco
razões para que Celso de Mello não acatasse os mandados de segurança: o direito
da Presidência de criar e extinguir ministérios; a inexistência de desvio de
finalidade na nomeação; a diferença do caso de Lula; as qualidades de Moreira
Franco para o cargo; e a manutenção da ordem pública administrativa com a nova
pasta.
Ao longo do texto, a AGU defendeu que Moreira Franco já
fazia parte do governo e que em seu novo cargo ele não só seguirá com as
antigas funções, como assumirá novas tarefas. A explicação justifica que a
criação de um novo ministério fez parte da reorganização do governo.
O relatório, inclusive, cometeu uma gafe com o sobrenome do
aliado peemedebista por duas vezes, confundindo Franco com Alves. Moreira Alves
foi ministro da Suprema Corte.
A decisão de Celso de Mello se sobrepõe e põe fim a uma
guerra de liminares na Justiça Federal em torno da indicação de Moreira Franco.
Ao todo, três cassavam a nomeação e outras três liberavam. A primeira delas foi
dada pelo juiz federal Eduardo Rocha Penteado, da 14ª Vara Federal do Distrito
Federal, que suspendeu na quarta-feira (8) em decisão liminar (provisória). Já
Alcides Martins Ribeiro Filho, do TRF-2, no Rio, manteve a nomeação, mas
retirou a prerrogativa do foro. Como o STF é a mais alta instância da Justiça,
a decisão de Celso de Mello se sobrepõe às demais e Moreira volta a ter foro
privilegiado.
Caso Lula
A decisão de Celso de Mello vai de encontro ao que foi
definido pelo próprio STF em 2016. No dia 18 de abril, o ministro Gilmar Mendes
suspendeu a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministério
da Casa Civil, feita pela então presidente Dilma Rousseff.
Na ocasião, Mendes citou conversas telefônicas de Lula
interceptadas pela Polícia Federal, entre elas a que a presidente disse que
enviaria o termo de posse ao antecessor para que usasse "em caso de
necessidade", e argumentou que o ex-presidente foi nomeado para evitar sua
prisão.
Em documento formulado pela AGU (Advocacia Geral da União) e
pela Casa Civil e enviado pelo Planalto ao STF, Temer negou qualquer semelhança
entre os casos de Lula e Temer. O presidente alegou que seu ministro já fazia
parte do governo e não estava sendo investigado, diferentemente do que ocorria
com Lula.
"Naquele caso, tratava-se de ato de nomeação de um
cidadão, no momento sem qualquer vínculo formal com o governo, para um
Ministério há muito existente na estrutura da Presidência da República. No
presente caso, como se abordará mais a frente, trata-se de uma impugnação a um
ato de nomeação de ocupante de cargo de natureza especial em razão de
reestruturação da organização ministerial", disse o texto assinado por
Temer.
'Angorá'
Moreira ocupava no governo Temer o cargo de
secretário-executivo do Programa de Parceria para Investimentos e foi nomeado
como ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência três dias depois de a
presidente do STF, Cármen Lúcia, homologar as delações dos 77 executivos da
Odebrecht que fizeram acordo de colaboração premiada com a Lava Jato.
Um dos principais líderes do PMDB e amigo de Temer, Moreira
é citado na delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de
Relações Institucionais da Odebrecht. O novo ministro, apelidado de
"Angorá" pelos executivos da empreiteira, teria pedido doações de
recursos para o PMDB, segundo o relato de Melo Filho, que diz ter contribuído
na expectativa de que a empreiteira fosse beneficiada por decisões do governo.
Moreira Franco nega ter cometido irregularidades.
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