Enquanto tenta organizar a resistência parlamentar e popular
às reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer, o PT é
obrigado a enfrentar o seu próprio ajuste fiscal.
Nas últimas duas semanas, o Diretório Estadual do PT de São
Paulo, o maior e mais importante do partido, demitiu 13 funcionários. Com isso,
o número de empregados, que chegou a ser de 55, em 2014, hoje está reduzido a
oito trabalhadores.
Das três faxineiras, sobrou apenas uma. A vigilância, que
antes era 24 horas, agora funciona das 9 às 21 horas. Quase todos os
secretários estaduais tiveram de demitir assessores. O presidente estadual do
partido, Emídio de Souza, que tinha quatro funcionários à disposição, agora tem
só um.
Além disso, o PT-SP renegociou o valor do aluguel de sua
sede na capital de R$ 23 mil para R$ 16 mil mensais, cortou viagens, verbas de
hospedagem e recursos para atividades de formação política, entre outras.
O principal motivo é uma dívida de R$ 25 milhões
remanescente da campanha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha ao governo
de São Paulo, em 2014. Segundo o presidente estadual, o pagamento da dívida da
campanha consome 40% do orçamento do diretório regional, que hoje é de
aproximadamente R$ 500 mil mensais.
Segundo Emidio de Souza, a principal dificuldade foi a
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir doações empresariais a
partidos e candidatos, o que era permitido até as eleições de 2014. “A dívida
foi contraída numa lógica, e esta lógica foi abolida logo depois da eleição”,
diz o dirigente.
Emidio isenta Padilha de culpa pela situação. “Ele está
ajudando como pode”, afirma.
De acordo com ele, no início de 2015, o PT-SP fez seu
primeiro ajuste fiscal, demitindo mais de 20 funcionários (parte deles
contratada só para o período eleitoral).
Sem as contribuições empresariais, a dívida se tornou
praticamente impagável. No primeiro momento, o PT tentou renegociar as
pendências financeiras, mas, com o passar do tempo, os credores foram perdendo
a paciência e passaram a mover ações de cobrança judiciais contra o partido.
As sentenças de execução legal começaram a pipocar no ano
passado, as contas bancárias do diretório sofreram diversos bloqueios por ordem
da Justiça, um deles por mais de dois meses, e a única saída encontrada foi
cortar radicalmente as despesas para cumprir os acordos com os credores.
Dívidas de candidatos a deputado assumidas compulsoriamente
pela legenda somam outros R$ 10 milhões.
Dízimo. Além do saldo da campanha de Padilha, o PT-SP sofreu
no bolso o resultado da derrocada eleitoral nas eleições de 2014 – quando a
bancada estadual caiu de 23 para 15 deputados – e de 2016, ano em que o número
de prefeituras governadas pelo partido caiu de mais de 70 para 11.
Com menos deputados e prefeitos eleitos, houve uma redução
considerável das receitas provenientes do chamado dízimo, a contribuição
obrigatória que detentores de cargos eletivos e ocupantes de postos de
confiança na adminstração são obrigados a pagar ao partido.
A onda de demissões provocou fortes reações internas. Alguns
dos demitidos tinham mais de 20 anos de serviços prestados à sigla e eram
confundidos com dirigentes partidários.
Em um grupo de petistas no WhatsApp, uma dirigente estadual
comparou as demissões no diretório ao ajuste fiscal que a presidente cassada
Dilma Rousseff fez no início do segundo mandato. “Esse ajuste do PT foi pior do
que o ajuste da Dilma: cortou de quem ganhava quase nada para poder continuar
bancando o privilégio de todos”, escreveu a dirigente.
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