Efemérides são oportunidades para se resgatar boas lembranças,
aprender com a experiência do passado para não repetir erros no futuro e
ensinar às novas gerações os valores que são permanentes e jamais devem ser
esquecidos.
Celebrar os 100 anos de nascimento do senador Teotônio
Vilela, símbolo de uma luta movida pelo respeito à liberdade e pelo combate ao
autoritarismo, serve de inspiração em encruzilhadas como a do Brasil de hoje:
não pelo contexto, bastante diverso do que o visto nos estertores do regime
ditatorial, mas pelo quanto precisamos da serenidade, firmeza e
responsabilidade como as que moviam o Menestrel das Alagoas.
É impossível definir em uma única palavra este homem nascido
em 28 de maio de 1917 que foi vaqueiro e industrial, orador de primeira linha e
contador de causos, senador e vice-governador que fundou a UDN em Alagoas,
passou pela Arena e encerrou a trajetória na política e na vida filiado ao
MDB/PMDB.
A história do apoiador do golpe militar de 1964 que se
tornou o maior defensor da anistia política de 1979 soaria contraditória, não
fosse as convicções e a coerência que o moveram nessa trilha.
Em ambos os momentos, Teotônio Vilela guiou-se pelo
compromisso maior de defensor da liberdade e posicionou-se contra o que
considerava autoritário e antidemocrático, seja vindo de civis, seja vindo de
militares. Quem viveu aqueles tempos e os dias atuais aprendeu que a
arbitrariedade tem múltiplas roupas e pode vestir terno, farda ou camiseta. Não
agiu por mero impulso em nenhum momento: sempre soube iniciar as caminhadas
ciente de quais seriam os passos seguintes.
Ainda que a anistia aprovada não fosse de seu completo
agrado, sabia ser a anistia possível, e que o almejado fim do autoritarismo
viria conforme prosseguisse sua toada política em nome da volta da democracia e
de um novo regime constitucional, condições fundamentais para o Brasil mais
justo com o qual sempre sonhou.
Em uma de suas frases mais célebres, parte de um discurso de
junho de 1979 relembrada no especial produzido pelo Instituto Teotônio Vilela,
o senador recém-filiado ao MDB definia a “realidade brutal” da época como
“carência generalizada, vai do feijão à Constituição”.
Passadas quase quatro décadas, a falta de comida no prato do
brasileiro não é mais um problema crônico, ainda que a queda do emprego e a
desigualdade de renda continuem como desafios não resolvidos, e desde 1988
temos uma Carta pautada pela cidadania, pelo respeito aos direitos civis,
políticos e sociais de todos, embora a estridência dos que lhes viram as costas
por conveniência e proselitismo ecoe até em ouvidos bem-intencionados, porém
descuidados.
Sendo assim, por que ainda passamos por momentos agudos e
incertos como os de hoje?
Por que, a despeito dos avanços econômicos desde a concepção
e implementação do Plano Real, da maturidade no trato com a coisa pública que
pautou a Lei de Responsabilidade Fiscal, do combate às desigualdades iniciado
pelo Bolsa Escola e consolidado pelo Bolsa Família, ainda enfrentamos
resistências à óbvia necessidade de reformarmos o Estado e as regulações do
mercado, a fim de criarmos condições para um crescimento econômico consistente
e sustentável?
As forças do atraso, imiscuídas entre profetas do caos e
vozes de mau agouro, são inegavelmente resistentes, mas precisam ser
enfrentadas e derrotadas no legítimo embate político, regido pelas regras
constitucionais.
A exemplo do que fez Teotônio Vilela, diante das
resistências à abertura defendida pelo próprio regime militar, é preciso
perseverar com serenidade, firmeza e responsabilidade.
O compromisso com a construção de um país menos desigual,
com pleno respeito às leis, é a bússola que deve guiar a todos nos momentos
mais difíceis. Soluções fáceis, como mostra a recente e histórica recessão, são
inevitavelmente fadadas ao insucesso e deixam consequências ainda piores que a
conjuntura inicial.
Serenidade significa ter plena consciência do que deve ser
feito, sem açodamento nem voluntarismos de qualquer tipo. Firmeza é o que nos
manterá unidos nos maiores infortúnios e fortes na hora em que for preciso agir
em nome de um ideal.
Responsabilidade é colocar o futuro do Brasil acima de
quaisquer interesses, individuais ou de segmentos, e respeitar a Constituição,
base de qualquer sociedade democrática.
A conjunção desses valores é a chave para construirmos as
soluções mais adequadas para as crises mais complexas.
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