Tiago Bronzato, VVEJA
Ele já foi o herói dos coxinhas e o vilão dos mortadelas,
mas, desde que foi voto decisivo na libertação do ex-ministro José Dirceu, as
torcidas mudaram de arquibancada. Ele garante que, como juiz, convive
perfeitamente bem com isso. Gilmar Mendes, 61 anos, há quase quinze no Supremo
Tribunal Federal (STF), é o ministro que mais fala. Fala tanto que já foi
apelidado de “comentarista do STF” — e vive envolvido em alguma polêmica. Na
mais recente, foi alvo de um inédito pedido de impedimento. O procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, solicitou a anulação da decisão de Mendes de
libertar o ex-bilionário Eike Batista. O motivo: a mulher do ministro,
Guiomar, trabalha no escritório de advocacia que representa o empresário. Em
entrevista a VEJA, Mendes defende sua atuação no caso Eike, diz o que pensa
sobre o comando do Ministério Público (“um órgão sindicalista”) e critica a
postura de alguns procuradores da Lava-Jato.
“Acho excelente o processo de investigação da Lava-Jato.
Lamento que a gente tenha demorado tanto para descobrir esses fatos e que os
órgãos de controle não tenham tido efetividade para impedi-los. Agora, estado
de direito não comporta soberanos”, diz Mendes. Quem são os soberanos? “A gente discute desde 2009 uma lei de abuso de
autoridade, que é muito necessária. Aí vêm os procuradores e dizem que ela não
pode ser aprovada porque vai afetar a Lava-Jato. Esses mesmos procuradores
propõem as tais dez medidas contra a corrupção. Se o Congresso não as aprova, é
um ataque à Lava-Jato. Algumas daquelas medidas permitiam o aproveitamento de
provas ilícitas. É um viés fortemente autoritário de alguém que tem uma visão
de mundo que não corresponde à nossa tradição liberal”, responde o ministro.
“Quando a gente está defendendo direitos, não está defendendo direitos do
colarinho-branco, está defendendo direitos de todo mundo. Essa gente que está
batendo panela e protesta pode acabar sendo alvo amanhã de atentados aos seus
direitos. Cria-se uma insegurança geral, um tipo de fascismo vulgarizado,
generalizado.”
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