Da ÉPOCA
Com relatórios de tráfego na internet à mão e algoritmos
capazes de propagar narrativas nas redes sociais, o publicitário Daniel Braga
coordena a menos visível linha de defesa do presidente Michel Temer. Egresso da
equipe do prefeito de São Paulo, João Doria, do PSDB, Braga divide seu tempo
entre a sede da Isobar, agência que presta serviços para o governo e foi
instada a contratá-lo, e o gabinete do ministro Moreira Franco, da
Secretaria-Geral, onde é traçada a estratégia de comunicação digital do governo
nestes dias de crise aguda. Acuado pela renúncia ou pelo impeachment desde a
divulgação da delação premiada do empresário Joesley Batista, do grupo JBS,
Temer – e sua equipe – preocupa-se sobremaneira com a guerra digital. Foi com
base em relatórios diários da empresa e na orientação dos poucos conselheiros
que lhe restam que Temer atacou em entrevistas os benefícios aos delatores da
JBS, foi agressivo com Joesley – até outro dia recebido com amabilidade –,
questionou a validade da gravação que o deixou em maus lençóis e exaltou fatos
positivos da economia nos últimos dias.
Sob pressão nas ruas, na política e no Judiciário pelo
avanço da Operação Lava Jato, o presidente Michel Temer busca formas de se
segurar no cargo e superar os reveses que se acumulam. Na semana passada
entraram no jogo as manifestações e Temer teve seu primeiro teste negativo nas
ruas. Brasília terminou a quarta-feira, dia 24, em chamas após atos de
vandalismo ocorridos durante um protesto convocado por centrais sindicais
contra a reforma trabalhista e para pedir a renúncia de Temer. Havia cerca de
45 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, cooptadas por sindicalistas, muito
menos gente do que nos protestos de 2013 ou 2014. Contudo, alguns criminosos
presentes, mascarados, destruíram banheiros químicos, montaram barricadas,
jogaram paus e pedras em policiais e atearam fogo no térreo do prédio de três
ministérios. Num flagrante de despreparo, policiais militares dispararam tiros
contra um grupo de manifestantes. Na avaliação do Palácio do Planalto, no
entanto, do ponto de vista de opinião, a repercussão da violência foi maior e
virou o cenário em favor do presidente.
Durante a crise da quarta-feira, Temer deu seu maior passo
em falso até agora. No auge da tensão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do
DEM, pediu ao Planalto um reforço de segurança, a ser feito por homens da
“Força Nacional”, uma reunião de policiais militares de todo o país. Maia temia
que os manifestantes chegassem ao Congresso, onde já havia uma briga de
engravatados com mandato no plenário da Câmara. Temer editou um decreto sobre
Garantia da Lei e da Ordem, instrumento pelo qual convocou as Forças Armadas
para policiar as ruas em Brasília. Colocar militares nas ruas após um protesto
contra o governo evocou o atraso dos tempos sombrios da ditadura militar.
Rapidamente, Rodrigo Maia eximiu-se de culpa ao publicar, em rede social, a
cópia do ofício. Deixou Temer arcar sozinho com o desgaste.
Em menos de 12 horas, Temer recuou e revogou o decreto. Nem
bem desciam dos caminhões na Esplanada na manhã de quinta-feira, os soldados
subiam de volta, em direção aos quartéis. Mas a fragilidade do presidente ficou
clara. É na mesa do presidente da Câmara dos Deputados que repousam 13 pedidos
de impeachment recentemente protocolados. O mais robusto deles foi apresentado
na quinta-feira, dia 25, pelo presidente da OAB (Ordem dos Advogados da
Brasil), Claudio Lamachia (leia a entrevista de Lamachia). Na peça, a entidade
aponta que Temer cometeu crime de responsabilidade ao proceder de modo
incompatível com o decoro do cargo e pelo possível exercício da advocacia
administrativa. Cabe unicamente ao presidente da Câmara decidir se aceita os
pedidos, o que deflagraria o início do processo de afastamento, mas o
presidente só é retirado do cargo depois que o plenário da Casa aprova a admissibilidade
e o Senado a ratifica. A interlocutores, Maia diz que pretende seguir os
pareceres da consultoria legislativa e que, caso a área técnica considere
cabível algum pedido, não será ele o responsável por impedir o andamento do
processo. O fato de Maia ter se descolado de Temer na iniciativa de chamar
militares transmitiu um claro sinal ao meio político de que Temer perde, a cada
dia, a força de manter coesa sua base de sustentação.
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