Do G1, SP e Brasília
O ex-líder dos governos Lula e Dilma na Câmara dos Deputados
Cândido Vaccarezza, que deixou o PT, foi preso nesta sexta-feira (18) em São
Paulo. Ele é alvo da Operação Abate, uma das duas novas fases da Operação Lava
Jato deflagradas nesta manhã.
A prisão é temporária, válida por cinco dias. Ele deixou seu
apartamento, na Mooca, Zona Leste de São Paulo, por volta das 10h. Acompanhado
de agentes da PF, ele entrou em uma Pajero preta e deve seguir para Curitiba
ainda nesta sexta. A PF afirmou que agentes encontraram R$ 122 mil na casa de
Vaccarezza.
O G1 não conseguiu contato com a defesa de Vaccarezza. O PT,
por meio de nota, afirmou que não tem informações sobre o processo e que espera
que o ex-deputado tenha a oportunidade de esclarecer a acusação.
Principais pontos das investigações
Ações apuram o favorecimento de empresas estrangeiras em
contratos com Petrobras.
Operação Abate investiga fraudes no fornecimento de asfalto
para a Petrobras por uma empresa norte-americana, entre 2010 e 2013.
Funcionários da Petrobras, o PT e, principalmente, Cândido
Vaccarezza teriam recebido propinas que somam US$ 500 mil no esquema da Abate.
Operação Sem Fronteiras investiga o pagamento de propinas
para contratação de armadores (transportadores marítimos) da Grécia, entre 2009
e 2013.
Ao menos 2% dos contratos com as empresas gregas, que superaram
US$ 500 milhões, seriam propina para políticos, funcionários da estatal e
operadores financeiros.
As investigações surgiram da delação do ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto Costa.
O G1 não conseguiu contato com a defesa de Vaccarezza. O PT,
por meio de nota, afirmou que não tem informações sobre o processo e que espera
que o ex-deputado tenha a oportunidade de esclarecer a acusação. O Avante,
antigo PTdoB, atual partido de Vacarezza, divulgou nota afirmando que
desconhece o processo e aguarda esclarecimentos para se manifestar depois. O G1
não conseguiu contato com a empresa Sargeant Marine.
No total, foram cumpridas 46 ordens judiciais distribuídas
em 29 mandados de busca e apreensão, 11 mandados de condução coercitiva e 6
mandados de prisão temporária – incluindo o de Vaccarezza – em São Paulo,
Santos e Rio de Janeiro. Dois ex-gerentes da Petrobras estão entre os alvos dos
mandados de prisão temporária.
Operação Abate
O Ministério Público Federal (MPF) afirma que Vaccarezza
usou a influência decorrente do cargo em favor da contratação da empresa
Sargeant Marine pela Petrobras. No total, a empresa obteve 12 contrato entre
2010 e 2013 que somam US$ 180 milhões.
O ex-deputado, segundo o MPF, foi o principal beneficiário
de US$ 500 mil em propina que eram destinados ao PT. Também foram beneficiados
pelo pagamento de propina o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, que se
tornou delator da Lava Jato.
O MPF aponta ainda que Vaccarezza pode ter recebido propina
e repassado informações confidenciais da Petrobras à empresa Quimbra na
comercialização de tolueno (uma substância obtida do petróleo).
Outras suspeitas contra Vaccarezza
07 de março de 2015
STF divulga lista e autoriza investigação contra 47
deputados mencionados em delações premiadas na Operação Lava Jato. O nome de
Cândido Vaccarezza aparece pela primeira vez como suspeito por desvio de
recursos da Petrobras.
17 de junho de 2015
Vaccarezza foi à Polícia Federal depor sobre acusações de
que teria recebido propina quando atuava na Petrobras. Na ocasião, o petista
afirmou que as acusações contra ele eram inconsistentes.
03 de setembro de 2015
Polícia Federal conclui investigações contra Vaccarezza e
afirma que haviam indícios de que Alberto Youssef, ex-doleiro do PP, pagou
propina ao ex-deputado petista durante campanha eleitoral de 2010.
12 de janeiro de 2016
Em sua delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor
Cerveró relata que foi indicado à diretoria financeira da BR Distribuidora por
gratidão do PT com ele, após reunião com Vaccarezza e outros políticos.
15 de março de 2016
TRE-SP rejeita contas da campanha eleitoral de 2014 de
Cândido Vaccarezza. Segundo o tribunal, o petista deixou de informar despesas
realizadas que foram encontradas pela Justiça Eleitoral.
15 de junho de 2016
Delator da Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado afirmou aos investigadores que Vaccarezza recebeu R$ 500 mil de propina
desviada da Petrobras.
12 de abril de 2017
Relator da Lava Jato no STF, o ministro Edson Facchin pede
abertura de inquérito contra Cândido Vaccarezza e mais 38 deputados. A suspeita
é de que o ex-deputado do PT tenha pedido propina à Odebrecht em troca da
aprovação de um investimento pela Previ, o fundo de pensão dos funcionários do
Banco do Brasil.
Perfil
Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza, 61 anos, foi duas vezes
deputado estadual em São Paulo e outras duas deputado federal. Nos quatro
mandatos era filiado ao PT. Em Brasília, foi líder do governo dos ex-presidente
Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff. Ganhou fama de articulador hábil e
ecumênico, com trânsito nas bancadas de partidos que tradicionalmente fazem
oposição ao PT.
Vaccarezza ganhou espaço nas articulações do PT em Brasília
a partir do vácuo provocado derrocada do ex-ministro José Dirceu, a partir do
escândalo do mensalão, em 2005. O então deputado foi apontado como figura
decisiva nas negociações que levaram o petista Arlindo Chinaglia (SP) à
presidência da Câmara dos Deputados, em 2007.
Apesar da carreira política construída em São Paulo,
Vaccarezza nasceu na Bahia. Natural de Senhor do Bonfim (BA), iniciou a
militância política no movimento estudantil. Participou da União Nacional dos
Estudantes (UNE) e concluiu o curso de medicina na Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Atuou nos primórdios do PT em seu estado e migrou para São Paulo,
na década de 1980, para fazer a residência médica. Fixou a nova morada e, a
partir dos anos 2000, conquistou seus mandatos eletivos.
Ex-secretário da Cultura Esportes e Lazer da cidade de Mauá
(SP), chegou à Assembleia Legislativa como suplente. Em 2001, assumiu cadeira
na Casa em razão de parlamentares petistas que ocuparam secretarias na gestão
de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo. Em 2002, Vaccarezza ganhou a vaga
de titular nas urnas. Em 2006 e 2010 elegeu-se deputado federal. Tentou um
terceiro mandato em 2014, mas não conseguiu a nova reeleição.
O fracasso nas urnas acelerou o distanciamento de Vaccarezza
do PT e ampliou as críticas dirigidas pelo político ao governo de Dilma
Rousseff. Ele deixou o partido em 2016, após 35 anos de militância. Na
oportunidade, anunciou apoio ao candidato do PRB à prefeitura de São Paulo,
Celso Russomanno.
Disposto a reconquistar o mandato, Vaccarezza filiou-se ao
PTdoB e assumiu o diretório estadual da legenda, que recentemente mudou de nome
para Avante.
Operação Sem Fronteiras
Também na manhã desta sexta-feira, a Polícia Federal
deflagrou outra operação ligada à Lava Jato. A outra fase, chamada de Sem
Fronteiras, tem como foco irregularidades envolvendo executivos da Petrobras e
grupo de armadores estrangeiros, que obtiveram informações privilegiadas para
fechar contratos milionários com a empresa brasileira.
Segundo as investigações, Paulo Roberto Costa ajustou com o
cônsul honorário da Grécia no Brasil, Konstantinos Kotronakis, um esquema de
facilitação de contratação de navios gregos. O operador Henry Hoyer de
Carvalho, que foi alvo da 13ª fase da Lava Jato, teria efetivado o esquema entre
2008 e 2010. Depois, quem assumiu o comando foi uma empresa de brokeragem
constituída na Inglaterra e pertencente a Georgios Kotronakis, filho de
Konstantinos.
O MPF afirma que os grupos Tsakos e Aegean, dos quais
Konstantinos Kotronakis é, respectivamente, diretor e sócio-administrador, além
das empresas Dynacom Tankers Management, Galbraiths e Dorian Hellas, com as
quais o cônsul grego tinha vínculos indiretos, formalizaram contratos de
afretamento com a Petrobras, entre os anos de 2009 a 2013, em valores que
superam US$ 500 milhões.
De acordo com as investigações, ao menos 2% desses valores
era destinado ao pagamento de propina a funcionários públicos, operadores
financeiros e políticos. Costa já tinha afirmado ao MPF que recebeu US$ 530 mil
em propina de Konstantinos Kotronakis.
A defesa de Konstantino e Georgios Kotronakis disse que os
clientes têm total interesse em esclarecer os fatos e contribuir com a Justiça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário