Muitas vezes, vi-me em tempos de travessia. Em alguns deles,
acreditei ter luzes no outro lado do rio. Agora, com toda a energia necessária
para continuar remando, tomei a decisão sobre o futuro da minha vida política,
encarando a realidade de frente, para poder seguir com coerência, ousadia e
coragem.
Anuncio que não concorrerei à reeleição a senadora da
República pelo Estado de São Paulo e comunico a minha desfiliação do Movimento
Democrático Brasileiro (MDB).
Não é novidade que os partidos políticos brasileiros, de
forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político. Não mais
conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem
tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave
crise de suas histórias. Orientam suas movimentações políticas pela lógica
exclusiva de fazerem crescer suas bancadas parlamentares com o objetivo
perverso e mesquinho de fortalecerem-se na divisão e loteamento de cargos e
espaços de poder.
A relação de grande parte dos partidos e de parlamentares
com o Executivo na base de nomeações e vantagens levou ao insuportável “toma lá
dá cá”, afrontando todos os padrões de dignidade e honradez da sociedade. Esse
sistema faliu e precisa ser, urgentemente, reformado.
O Congresso Nacional, hoje, na sua maioria, não tem se
colocado a favor das causas progressistas, fundamentais para o avanço da
sociedade. Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da
sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as
pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a
respeitar os direitos individuais do ser humano.
Quero agradecer aos 8,3 milhões de paulistas que me deram a
oportunidade de, nos últimos 8 anos, trabalhar como senadora defendendo as
bandeiras que me levaram à vida pública: o combate às desigualdades e às
injustiças sociais, a militância pelos direitos de cidadania das mulheres e da população
LGBTI e pela igualdade de oportunidades para todos.
Neste momento, creio que poderei contribuir mais para
mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento.
Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de
2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao
lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo
empoderamento das meninas e das mulheres.
Estou convencida de que o Brasil precisa de um projeto
nacional de desenvolvimento estruturado que abranja setores fundamentais para o
crescimento do país. Temos de aumentar, significativamente, a produção e a
riqueza. Isso possibilitará todo brasileiro e toda brasileira terem educação de
qualidade, saúde, segurança e um emprego para trabalhar e viver com dignidade.
São Paulo, 03 de agosto de 2018.
Senadora Marta Suplicy
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