O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, orientou os
diretores de escolas a filmarem os alunos perfilados diante da bandeira e ao
som do hino nacional. O comunicado é típico de ditaduras, e não só pelo
ufanismo de almanaque.
Vélez enviou uma carta a ser lida para alunos, professores e
funcionários no primeiro dia do ano letivo. O texto começa com uma exclamação
patriótica (“Brasileiros!”) e termina com o slogan de campanha do presidente
Jair Bolsonaro (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”). Entre uma coisa e
outra, exalta a chegada do “Brasil dos novos tempos”, numa aparente alusão à
posse do chefe.
A circular insta os diretores a filmarem as crianças e
enviarem os vídeos para o gabinete do ministro. Só faltou dizer que as escolas
que descumprirem a ordem ficarão de recuperação — ou receberão menos verbas
federais no ano que vem.
Prócer da ala olavista do governo, Vélez já havia deixado
claro que confunde as tarefas de Estado com a militância ideológica. Em vez de
mirar as deficiências do ensino básico, tem desperdiçado tempo com discursos
contra a suposta influência do “globalismo” e do “marxismo cultural” sobre os
professores.
O ministro é um crítico da “doutrinação”, mas sua circular
representa exatamente o que ele diz combater: a tentativa de despejar conteúdo
chapa-branca pela goela dos alunos. Não chega a ser uma ideia original.
Depois do golpe de 1964, que Vélez já definiu como uma data
“para comemorar”, os militares estimularam o culto à bandeira e a pregação
ufanista nas escolas. Chegaram a impor a disciplina Educação Moral e Cívica,
outra patriotada que o ministro quer ressuscitar.
Antes disso, o Estado Novo obrigou os estudantes a
reverenciarem o chefe do governo e os símbolos nacionais. Na cartilha “Getúlio
Vargas, o amigo das crianças”, editada pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda, o presidente dizia que “é preciso plasmar na cera virgem que é a
alma da criança a alma da própria pátria”.
É assim que pensam as ditaduras, sejam elas de esquerda ou
de direita.
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