A coalizão do 'cabra' marcado por Bolsonaro
A foto ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi postada no Twitter uma semana antes do desembarque na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018. O calendário permaneceu agitado com a informação pública sobre o encontro com seu maior adversário político, outro ex-presidente da República, José Sarney. Em apenas um mês, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) teve conversas com três políticos que governaram o país em fases históricas bem distintas e com matizes ideológicos que oscilam da esquerda à direita. Mas coube ao atual, Jair Bolsonaro, fazer o marketing do que o maranhense costura há meses nos bastidores: a formulação de uma alternativa de poder ao centro em 2022.
A foto ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi postada no Twitter uma semana antes do desembarque na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018. O calendário permaneceu agitado com a informação pública sobre o encontro com seu maior adversário político, outro ex-presidente da República, José Sarney. Em apenas um mês, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) teve conversas com três políticos que governaram o país em fases históricas bem distintas e com matizes ideológicos que oscilam da esquerda à direita. Mas coube ao atual, Jair Bolsonaro, fazer o marketing do que o maranhense costura há meses nos bastidores: a formulação de uma alternativa de poder ao centro em 2022.
Anos antes de virar assunto nacional por conta do áudio que
escapou por descuido dos microfones palacianos na atual gestão, Flávio Dino –
um dos governadores “paraíba”, segundo o presidente, e o “cara” que não merece
ganhar nada do governo federal – já dava demonstrações de como age e o que
pensa da política.
Juiz federal por 12 anos e professor de direito, Dino
elegeu-se governador em 2014 numa luta histórica de décadas contra a oligarquia
Sarney. Esteve bem perto de disputar o segundo turno em 2010, mas levou uma
rasteira de Lula digna de constar nos anais dos ressentimentos políticos que
merecem recordação. Na ocasião, o PT nacional, fechado com o então PMDB de
Sarney, ignorou o aliado histórico, PCdoB. Lula gravou um depoimento para
Roseana Sarney exibir na propaganda eleitoral na TV, ajuda necessária para
derrotar Dino no primeiro turno com 50,08% dos votos válidos. Roseana temia a
derrota no segundo turno.
Em 2018, a coligação que reelegeu Dino reuniu 16 partidos,
um arranjo nordestino com gente comunista e petista, para ficar na linguagem
palaciana atual, e o DEM, partido de direita que integra o governo Bolsonaro
estranhamente sem admitir ser da base de apoio do presidente.
Somente a insensatez explicaria, na visão de Dino, acreditar
que os movimentos de agora vão repercutir em 2022. O governador não se sente
confortável para falar da eleição presidencial tão precocemente, mas crê que
razões de ordem política explicariam o fato de seu nome despertar tamanha
repulsa a Bolsonaro. Faz parte do ethos do presidente, diz, escolher alvos
políticos para atacar. Ele foi só o “comunista” da vez.
O que o governador do Maranhão exibe em sua conta no Twitter
é o antípoda de práticas sectárias da extrema direita e da esquerda. “Ter
amplitude e flexibilidade é virtude. O importante é o clima de convergência e
diálogo para haver alternativa lá na frente. Vou manter essa atuação. Quero
distensionar”, justifica.
Há inúmeras especulações sobre Dino deixar o PCdoB, que não
atingiu a cláusula de barreira no pleito de 2018, e ingressar num partido que o
credenciaria como opção presidencial ao centro, como o PSB. “Não dedico um
minuto do meu tempo pensando nisso”, responde. Se disputar, acrescenta, só vai
tomar a decisão possivelmente no final de 2021 ou no início de 2022. Mas há
diagnósticos que Dino antecipa: será improvável a reedição de 2018, com a
aglutinação inesperada ao bolsonarismo, ancorada pela Lava-Jato. A outra aposta
diz respeito ao seu próprio quintal: haverá, em 2022, convergência da
centro-esquerda.
Os métodos de Bolsonaro provocaram o envelhecimento precoce
de um governo que mal começou e ampliam a falta de expectativas na política e
na economia. É esse imenso vazio que vai unificar forças importantes, na visão
de Dino.
A reunião dos governadores do Nordeste, marcada para
segunda-feira, será contraponto ao governo Bolsonaro não apenas na seara
política, mas na econômica. O Nordeste atacado pelo presidente investe em um
novo arranjo, de consórcio, como fazem os governadores do Sul e Sudeste. Será
apresentado um plano de trabalho para os próximos 12 meses.
Os governadores nomearam um secretário-executivo para o
consórcio, o ex-ministro da Previdência Social Carlos Eduardo Gabas, do PT. A
ideia é conciliar boas práticas administrativas com uma agenda popular. Numa
leitura imediata, os governadores do Nordeste vão investir em parcerias que
gerem emprego e renda. A vocação turística da região é a chave para entender as
primeiras ações conjuntas. Para Dino, trata-se de um arranjo econômico e
político “poderoso” para o futuro. Os resultados não serão produzidos “para
amanhã”, mas parcerias administrativas podem gestar políticas públicas
concretas. “A vantagem operacional do Nordeste é que há hoje afinidade política
e confiança mútua entre todos os governadores. Prefiro me dedicar a isso do que
ficar sonhando”, diz o maranhense.
Prisão de hackers
As prisões temporárias de quatro suspeitos de hackear cerca de mil pessoas, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, ministros do Executivo, do STF e do STJ, e os presidentes da Câmara e do Senado, prometem capítulos emocionantes no Congresso.
As prisões temporárias de quatro suspeitos de hackear cerca de mil pessoas, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, ministros do Executivo, do STF e do STJ, e os presidentes da Câmara e do Senado, prometem capítulos emocionantes no Congresso.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, deu
garantias a autoridades que tiveram a vida devassada que todo o material obtido
pela Polícia Federal será “descartado”. Como chefe da PF, Moro antecipou uma
decisão que cabe ao Judiciário.
Foi dada a largada à disputa sobre os métodos e os
conteúdos, como se viu no vazamento dos grampos do BNDES, em novembro de 1998.
Na época, as investigações da PF duraram três meses, mas os efeitos foram
nefastos para Fernando Henrique Cardoso. Os grampos revelaram bastidores da
privatização da Telebras e atuação do governo para favorecer um dos consórcios.
Aos aliados de Moro interessa lembrar que o site “The Intercept Brasil”
divulgou mensagens obtidas por criminosos. O outro lado quer enfatizar o
conteúdo dos diálogos vazados.
A destruição do material inviabilizaria a perícia, sugerida
pelo próprio Moro, para se checar a veracidade.
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