sábado, 27 de julho de 2019

COMENDO BOLSONARISMO PELAS BORDAS

Roberto Dias, Folha de S.Paulo
Doria vai do Datena à China para comer bolsonarismo pelas bordas
"Aqui quem tá do meu lado: o Datenão. Sou fã desse homem." É João Doria na TV anunciando investimento na polícia. "Se o bandido reagir vai pro chão e do chão para o cemitério." Isso foi nesta semana. Na próxima, o tiroteio dará lugar à diplomacia —ele viaja para abrir uma representação paulista em Xangai.
O governador chegou a anunciar que teria companhia presidencial na China, mas isso não mais ocorrerá. Talvez Jair Bolsonaro tenha percebido que não seria muito inteligente comparar-se tão diretamente assim a quem quer sua cadeira.
Porque é justamente no contraste que Doria trabalha. Enquanto o ocupante do Planalto vai torrando seu próprio filme em bate-bocas, o do Bandeirantes procura criar uma imagem menos divisiva e comer o bolsonarismo a partir das bordas, sem atacar seus pilares.
Não só a gravata diferencia o Doria governador do Doria prefeito. Ele cria bem menos espuma do que há dois anos. Não houve farinata nem negativa peremptória sobre plano político. Para que a musculatura partidária trabalhe a seu favor e não contra, tenta atrair de Tabata a Frota ao novo PSDB.
As peças são mexidas de maneira objetiva e sutil. Entrevistado em Londres pela Bloomberg, bateu na tecla de que São Paulo cresce mais do que o restante do país. Aprovada a Previdência, concentrou a congratulação no Congresso, não no governo. No 9 de Julho, a leitura cirúrgica: "A Revolução Constitucionalista demonstrou que, em defesa dos interesses do Brasil, os brasileiros de São Paulo não fugiram à luta".
Só que, como em todo esporte, não existe disputa sem algum confronto. Ele apareceu de maneira aberta no duelo entre Rio e São Paulo pela F-1 —no qual Doria defendeu sua posição "enquanto governador". E emergiu de modo bem mais sutil na final da Copa América. Bolsonaro arriscou o placar de 2 a 0. Terminado o jogo, Doria correu para o vídeo: "Olha aí pessoal, cantei a bola aqui. Falei que o resultado seria 3 a 1".
Roberto Dias
Secretário de Redação da Folha.
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