Após críticas a Bolsonaro, Marina Silva é alvo de boato
falso sobre desmatamento
Uma imagem divulgada nas redes sociais acusa falsamente a
ex-ministra Marina
Silva de ser casada com “um dos maiores desmatadores da Amazônia”,
dono de 6 mil toras de mogno apreendidas, com valor estimado em R$ 8 milhões. A
peça de desinformação é antiga, mas voltou a circular após críticas de Marina
contra a gestão ambiental do governo Bolsonaroem
meio aos incêndios
na Amazônia.
O boato teve início em 2011, após troca de farpas entre
Marina Silva e o deputado federal Aldo Rebelo (então
no PCdoB), relator do Código
Florestal (PL 1876/99) em discussão na Câmara dos Deputados. No
dia 11 de
maio, Rebelo apresentou parecer às emendas do plenário e, pelo
Twitter, Marina afirmou
que o parlamentar havia encaminhado um texto “com novas pegadinhas”.
No plenário, Rebelo afirmou que Marina disse na rede social
que o parecer era “fraudado”. “A fala infeliz do deputado Paulo Teixeira deu
razão a que a ex-senadora Marina Silva postasse no Twitter que eu fraudei o
texto”, discursou,
na época. “Quem fraudou contrabando de madeira foi o marido de Marina
Silva, defendido por mim nesta Casa quando eu era líder do Governo.”
O deputado se referia a uma investigação do Tribunal de
Contas da União, de 2004, sobre a doação de 6 mil toras de mogno apreendidas
pelo Ibama para a ONG Fase, ligada ao Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), do
qual Fábio Vaz de Lima, marido de Marina, era fundador. O TCU apurava o repasse
da madeira pela ONG à madeireira Cikel, que ficou responsável pela comercialização
do mogno no exterior.
Ao todo, a venda totalizou R$ 7 milhões. Descontados os
custos do processo, a ONG Fase ficou com R$ 3,5 milhões, que seriam destinados
a um fundo destinado à “promoção da proteção ambiental”. O
TCU apontou “falhas” no rigor da escolha da madeireira, elaborando
documento com recomendações mais rigorosas ao Ibama sobre como proceder em
situações semelhantes. O
documento, no entanto, não cita o marido de Marina Silva nem
suposto envolvimento com contrabando.
Após a declaração de Rebelo, o caso do TCU voltou à tona
e Marina
divulgou nota afirmando que seu marido havia trabalhado no GTA
entre 1996 a 1999, “de onde saiu para trabalhar no governo do Acre, na gestão
de Jorge Viana”. A doação do mogno, portanto, ocorreu quatro anos após a saída
de Fábio Lima da entidade.
Marina também solicitou ao Ministério Público Federal uma
investigação contra ela mesma e Fábio Lima pelo suposto contrabando de madeira.
Em 2013, o então procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel,
afirmou não ter encontrado “fato delituoso” a ser investigado em relação ao
casal. O processo foi arquivado.
“Quanto às acusações feitas contra Fábio Vaz de Lima, não há
um único elemento que confira foros de verossimilhança aos fatos noticiados
pela imprensa”, afirma Gurgel, em decisão de 23 de julho de 2013. “Como disse a
representante [Marina Silva], à data que assumiu o Ministério do
Meio Ambiente o seu marido já não mantinha vínculos com as entidades que
integram o Grupo de Trabalho Amazônico – GTA, não havendo a indicação de um
fato concreto que o vincule à FASE na época em que foi feita a doação do
mogno”.
Entrevistas. O boato antigo voltou a circular
após declarações de Marina Silva contra a política ambiental da gestão
Bolsonaro. Em entrevista
ao site El País Brasil, a ex-ministra afirmou que o Brasil
voltou “a uma situação ambiental pior do que na década de 80”. À BBC Brasil,
disse as queimadas na Amazônia sempre ocorreram, mas “nunca incentivadas pelo discurso
de um presidente”.
O caminho da verificação. Para verificar este
boato, o Estadão Verifica localizou o tweet de Marina Silva por meio
de busca
na rede social e consultou a transcrição
dos discursos no plenário da Câmara dos Deputados do dia 11 de maio de 2011.
O Estadão Verifica também acessou o acórdão
601/2004 do Tribunal de Contas da União por meio de consulta
processual no site da Corte (usando os termos “Cikel, Fase, Ibama”).
A nota divulgada por Marina Silva sobre o caso em 2011 foi recuperada por meio
da ferramenta Wayback Machine, que registra captura telas de sites na internet.
A íntegra da decisão do procurador-geral Roberto Gurgel pelo
arquivamento das investigações é encontrado no site de Marina Silva, em nota
feita para desmentir o mesmo boato.
Este boato foi selecionado para checagem por meio da parceria
entre o Estadão Verifica e o Facebook. O AosFatos,
o Projeto
Comprova e o Boatos.org também
desmentiram este boato. Para sugerir verificações, encaminhe o boato para o
WhatsApp (11) 99263-7900.
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