As celebridades arrependidas pelo apoio a Bolsonaro
Danilo Gentili costumava inflamar a tropa
bolsonarista com suas piadas e pregações marcadas pelo antipetismo e grande
afeição às ideias do presidente. Por essa fidelidade, ganhou uma boa
recompensa: em 30 de maio, Bolsonaro se tornou o primeiro
chefe do Executivo a aceitar ser entrevistado por Gentili em seu
programa, The Noite, no SBT. A conversa rolou em clima de
camaradagem. Mas o humor bolsonarista mudou depois que Gentili iniciou uma
escalada de críticas ao presidente, principalmente em razão da decisão de
indicar o filho Eduardo ao posto de embaixador em Washington. Em 17 de julho,
seis dias após essa intenção vir a público, o humorista afirmou na TV que
achava boa a iniciativa, porque seria um “Bolsonaro a menos para atrapalhar o
governo”. E exibiu montagem de Eduardo com um boné em que se lia “make
mamata great again”(“tornar a mamata grande de novo”), trocadilho com um
slogan de Donald Trump. Eduardo reagiu, eles trocaram farpas pelo Twitter e o
exército bolsonarista nas redes sociais se inflamou contra o apresentador.
O episódio acabou por engrossar a lista de celebridades
arrependidas do apoio dado ao presidente. Um dos mais barulhentos fãs de
Bolsonaro na época das eleições, o roqueiro Lobão pulou fora
da tropa em meados de maio — fazendo também um grande barulho em torno disso.
“Não tem capacidade intelectual para gerir o Brasil”, declarou em uma
entrevista. De uns tempos para cá, passou a chamar o presidente de “Bolsomico”
e se dispôs até a trabalhar pelo impeachment. Mais discreto, o cantor Fagner —
que diz ter apoiado Bolsonaro porque desejava “mudança” — assumiu publicamente
o arrependimento em entrevista ao programa Conversa com Bial, da
Globo, em junho. “Parece que ele continua na campanha. Passa uma impressão de
amadorismo”, afirmou.
Em meio aos desiludidos famosos, há um contingente de
anônimos que também expressam seu descontentamento nas redes sociais e inspiram
os memes de perfis no Twitter como Jair Me Arrependi (140 300 seguidores) e
Bolsominions Arrependidos (95 600). A desilusão encontra eco em pesquisas — na
última, feita em julho pelo Datafolha, 61% responderam que Bolsonaro “fez pelo
país menos do que se esperava”. Assim como Gentili, não estão achando mais
graça alguma no governo.
Publicado em VEJA de 21 de agosto de 2019, edição nº 2648
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