Diante da evidência de que Jair Bolsonaro já está em
campanha para 2022, como ele mesmo admitiu nesta terça-feira, 6, e de que não
há alternativas no centro e à esquerda a ele, adversários começam a discutir
meios de reduzir o estoque de combustível eleitoral que vão dar ao presidente
falastrão.
As reformas já estão precificadas, mas a ideia de um grupo
amplo de parlamentares é não dar “dinheiro novo” que irrigue a economia
rapidamente e dê gás a Bolsonaro.
Nesse quadro, é a pauta de privatizações, sobretudo as mais
ambiciosas, que entra na mira. Haverá resistência a empreitadas como a venda da
Eletrobrás, uma das prioridades de Paulo Guedes.
“É loucura imaginar que o Congresso vai facilitar o plano de
Bolsonaro para aniquilar não só os adversários, mas a política”, disse à coluna
um dirigente de uma das siglas do que se convencionou chamar de centrão.
Para avançar na agenda pós-Previdência, inclusive no sentido
de unificar os esforços na reforma tributária, Guedes não terá a mesma
facilidade de transitar como se fosse um corpo estranho liberal num governo de
corte autoritário.
A escalada de palavras e ações de Bolsonaro aumenta na
Câmara o desejo de resguardar as prerrogativas do Legislativo, inclusive
limitando a edição de medidas provisórias, e também reduz a disposição de
manter a “separação” entre a política econômica e o resto. “À medida que
Bolsonaro usa Guedes como Cavalo de Troia para invadir a cidadela da
democracia, temos de nos opor”, observa um parlamentar.
TERMÔMETRO:
Recesso sem protestos deu tranquilidade a deputados
Recesso sem protestos deu tranquilidade a deputados
A volta às chamadas bases eleitorais tranquilizou deputados
logo após a votação da reforma da Previdência. Na volta a Brasília, o que mais
se via eram rodinhas de parlamentares de várias siglas um tanto espantados com
a acolhida receptiva que observaram ao fato de terem referendado a medida, algo
inimaginável há alguns anos. Isso facilitou os acordos para liquidar logo a
fatura do segundo turno, até para que os deputados possam se debruçar sobre a
pauta própria do parlamento.
ACABOU A MAMATA?
Oposição vai enfatizar contradição com discurso da nova política
Oposição vai enfatizar contradição com discurso da nova política
Além do fim da boa vontade generalizada com a agenda
econômica do governo, a estratégia ainda incipiente de uma oposição totalmente desarticulada
para conter Bolsonaro deverá ser focar mais nas evidentes e crescentes
contradições da prática de governo com o discurso moralista da “nova política”
vendido na campanha.
A avaliação é que os arroubos politicamente incorretos têm
menos potencial de estrago na estrutura de apoio ao presidente que episódios
como a nomeação de parentes no atacado nos gabinetes da família, a nomeação do
filho para a Embaixada de Washington, o uso do helicóptero da FAB para
transportar a primaiada, o fantasma Fabrício Queiroz, que segue pairando como
um estigma apesar do refresco dado pela decisão de Dias Toffoli e todo o
chorume que ele pode trazer à tona quanto a ligações do clã com as milícias no
Rio de Janeiro.
Começarão a ser frequentes os discursos chamando o Ministério
Público do Rio à responsabilidade de não aceitar que o caso Queiroz seja
abafado.
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