Quando se julgavam esgotados os epítetos, afrontas e apodos
dirigidos a Jair Bolsonaro —nunca um presidente da República se prestou tanto a
ser desqualificado—, eis que ele próprio acrescentou à sua galeria o título que
lhe faltava. O vídeo produzido por sua equipe e protagonizado por um leão
identificado com o seu nome, acossado por hienas marcadas com os logotipos de
seus supostos inimigos, não deixa dúvida. Ele é o rei dos animais.
Essa repentina majestade, no entanto, não o livrará de
continuar a ser tratado com casca e tudo, inclusive pela turma com quem andava
antes de chegar ao Planalto. Outro dia, seu próprio colega de partido, um certo
Delegado Waldir, chamou-o de “vagabundo” e “essa porra”
—quase fazendo o colunista sair em defesa da porra, injustamente
rebaixada a Bolsonaro.
Turma aquela que, de tão íntima, parece na iminência de lhe
custar caro. Fabrício Queiroz, seu ex-boy, ex-motorista, ex-oficial de
gabinete, ex-coordenador de contratações escusas e ex-amigo, ressuscitou
em áudio esta
semana, dando dicas a “Jair” sobre como melhor conduzir o poder e se queixando
de que, alvo de um processo perigoso, está sendo abandonado pelos cúmplices,
digo colegas. O vocabulário de Queiroz não é dos mais ricos. Consta de dez ou
doze palavras, metade das quais, palavrões. Mas é injusto tirar as crianças da
sala quando se sabe que ele vai falar na TV. Todo o governo Bolsonaro justifica
que se tirem as crianças da sala.
Ao escalar o time de hienas que hostilizam o leão, Bolsonaro
arrolou uma nova instituição ao seu rol de inimigos imaginários: o STF. O fato
de o vídeo ter sido “apagado” e, como sempre, Bolsonaro ter se “desculpado”
—desta vez, 24 horas depois—, não impede o vídeo de continuar no ar, atingindo
milhões de pessoas. E, em todas as exibições, lá está o insulto: o STF é uma
hiena.
Resta ver se o STF fará jus à descrição.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen
Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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