Cristo falava por parábolas. Bolsonaro fala por slogans. Uma
parábola é um relato alegórico, destinado a fazer pensar e extrair de sua
narrativa uma moral. É um instrumento que se dirige, ao mesmo tempo, à fé e à
razão. Já um slogan é uma afirmação categórica, acachapante, disparada para ser
aceita pelo receptor sem passar necessariamente por seu cérebro. É uma arma dos
publicitários, dos políticos e dos autoritários.
Uma das grandes parábolas de Cristo está em Mateus 7:15-20:
“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestes de ovelha, mas que
por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se
porventura uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Toda árvore boa dá bons
frutos, mas a árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus
frutos, nem uma árvore má pode dar bons frutos. Toda árvore que não dá bons
frutos deve ser cortada e queimada”.
Por falar em frutos, digo, bolsonaros, digo, slogans, o
slogan favorito de Bolsonaro é o martelado “Brasil acima de tudo e Deus acima
de todos”. O “Brasil acima de tudo” cheira ao slogan nazista “Deutschland über
alles” —”A Alemanha acima de tudo”—, mas isso não lhe provoca desconforto. Com
slogans não se discute.
O Brasil de que fala Bolsonaro deve ser o nosso, que ele
reduziu a seu condomínio. Mas a que Deus Bolsonaro se refere? Ao Deus dos
católicos, o velhinho bonachão, de barbas e camisolão, síndico do Céu? Ou ao
Deus protestante, incorpóreo, rigoroso, fiscal de nossos malfeitos aqui na Terra?
A pergunta procede, porque Bolsonaro se diz católico, embora nunca seja visto
com padres ou em seus rituais. Ao contrário, seu território são os templos
evangélicos e seus aliados, os “bispos” de televisão. Bolsonaro servirá a dois
senhores?
Pelos frutos que estão começando a despencar da árvore, Deus
e o Brasil não demoram a pedir dispensa do tal slogan.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de
Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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