Mensagens vazadas da Lava Jato indicam favorecimento a
jornalistas aliados
Em setembro de 2018, fiz um pedido banal à assessoria de
comunicação da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba. Tinha lido uma
notícia sobre um processo disciplinar que examinava a conduta do procurador
Deltan Dallagnol e solicitei uma cópia da defesa que ele apresentara. Trechos
do documento já haviam sido publicados, mas eu queria ver a íntegra.
A primeira resposta da assessoria foi que ela não tinha
acesso às explicações do procurador, parte de um procedimento conduzido
sigilosamente pela Corregedoria Nacional do Ministério Público. Quando sugeri
que o próprio Deltan fosse consultado sobre o pedido, disseram que ele estava
em férias e inacessível.
Em junho deste ano, quando a Folha e outros
veículos começaram
a analisar com o site The Intercept Brasil o vasto material recebido
após o vazamento das mensagens
trocadas por integrantes da Lava Jato no aplicativo Telegram, foi
possível saber como o coordenador da força-tarefa reagiu ao ser avisado do
pedido naquela época.
“Sera que passamos?”, escreveu Deltan num dos grupos que
usava para conversar com sua equipe de comunicação no Telegram. “Talvez seja
bom antes passar pra quem está mais alinhado com a LJ”, acrescentou, referindo-se
à Lava Jato pelas iniciais. (A transcrição das mensagens manteve a grafia dos
arquivos originais, incluindo erros de português e abreviaturas.)
Seus assessores argumentaram que não fazia sentido
discriminar um jornalista que estava em busca de uma informação se o procurador
estava disposto a fornecê-la a outros profissionais. Um deles disse que não
podiam ser tão seletivos. Deltan pediu tempo para pensar. O assunto caiu no
esquecimento.
Repórteres aprendem cedo que esse tipo de situação faz parte
do jogo. Todos conhecem os estratagemas que podem ajudar a ganhar a confiança
das fontes de informação e logo deixam de se surpreender com os ardis que elas
usam para despistá-los quando pressentem que eles não estão do mesmo lado.
Ainda assim, examinar o relacionamento entre a Lava Jato e
os jornalistas nos bastidores da operação pode ser revelador. Para repetir uma
imagem que os próprios procuradores usaram com frequência nos últimos anos,
eles se acostumaram a agir como se estivessem em guerra, e os inimigos pareciam
estar em todo lugar.
Num artigo acadêmico publicado
no início da sua carreira como juiz, em que revisitou a história da Operação
Mãos Limpas na Itália, Sergio Moro observou que o “uso da imprensa”
tinha sido essencial para garantir
apoio da sociedade a juízes e procuradores e colocar na defensiva
os políticos
que estavam na sua mira.
“A publicidade conferida às investigações teve o efeito
salutar de alertar os investigados em potencial sobre o aumento da massa de
informações nas mãos dos magistrados, favorecendo novas confissões e
colaborações”, escreveu o atual ministro da Justiça.
“Mais importante: garantiu o apoio da opinião pública às
ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o
trabalho dos magistrados, o que, como visto, foi de fato tentado”, acrescentou.
O artigo foi publicado dez anos antes da deflagração da Lava
Jato, mas parecia oferecer a receita ideal quando o então juiz Moro autorizou
as primeiras prisões do caso, em março de 2014. Garantir ampla divulgação
às ações da operação logo se tornou uma prioridade para a força-tarefa de
Curitiba.
Despachos do juiz, petições dos procuradores, relatórios da
Polícia Federal e depoimentos foram liberados para consulta pública na internet,
no sistema eletrônico de acompanhamento dos processos da Justiça Federal do
Paraná, cuja assessoria de imprensa passou a fornecer as chaves numéricas
exigidas para o acesso ao material.
Jornalistas do país inteiro ganharam assim acesso a uma
enorme quantidade de informações, em condições nunca vistas em coberturas do
gênero, e ainda hoje difíceis de encontrar fora do Paraná. O ritmo trepidante
imprimido às investigações, com novos desdobramentos a todo momento, só fez
aumentar o interesse pelo assunto.
A força-tarefa também criou um site para reunir informações
essenciais do caso, passou a publicar notas com explicações didáticas para cada
etapa das investigações e organizou entrevistas coletivas para anunciar as
ações mais importantes, expondo seus integrantes a questionamentos dos
repórteres.
Para os procuradores, a transparência ajudava a cumprir
vários objetivos. Ela permitia prestar contas do trabalho da força-tarefa,
pondo à prova a correção dos seus procedimentos, e parecia ser a melhor forma
de levar ao conhecimento do público informações sobre os esquemas de corrupção
desvendados.
Além disso, Deltan e seus colegas achavam que assim
conseguiriam o apoio necessário para promover transformações mais profundas,
convencendo o Congresso a aprovar um pacote de medidas desenhadas para corrigir
falhas no sistema judiciário e endurecer as penas previstas para crimes de
colarinho-branco.
Para que a estratégia fosse bem-sucedida, no entanto, era
preciso também que a mensagem que os procuradores desejavam transmitir tivesse
força para se contrapor a narrativas alternativas alimentadas por críticos da
operação, de advogados dos investigados a jornalistas que questionavam a
atuação da Lava Jato.
O poder das empreiteiras
atingidas pelas investigações foi o primeiro foco de atenção. Em julho
de 2015, Deltan sugeriu à Procuradoria-Geral da República a formação de um
grupo capaz de organizar uma defesa mais vigorosa da operação, que publicasse
artigos em jornais do país inteiro para responder às críticas que advogados das
empresas vinham fazendo.
“Nessa guerra de mídia em que vivemos, eles tentam também,
com seus meios, gerar pressão sobre os tribunais”, argumentou. “É uma
avalanche... Uma guerra na imprensa em que precisaríamos ter um corpo de
colegas do nosso lado escrevendo e divulgando coisas para balancear e manter a
força de imprensa da atuação”.
A ideia acabou não sendo levada adiante, mas preocupações
desse gênero se tornaram constantes, mesmo depois que as maiores empreiteiras
decidiram cooperar com as investigações, negociando acordos bilionários para
voltar a fazer negócios com o setor público e garantir
penas mais brandas para seus executivos.
Em setembro de 2016, Deltan recorreu às mesmas imagens ao
pedir ajuda à assessoria de imprensa para responder a uma ação de danos morais
movida contra ele pelo ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), logo após a denúncia criminal apresentada
pela força-tarefa contra o líder petista no caso do tríplex de Guarujá (SP).
O ex-presidente queixou-se da forma como as acusações foram
divulgadas, numa entrevista coletiva transmitida ao vivo pela televisão, em que
Deltan usou uma
apresentação de PowerPoint para apontar Lula como centro de uma
organização criminosa beneficiada pelo esquema de corrupção descoberto na
Petrobras.
“Seria mto bom se pusessem descrever que há nesse caso uma
guerra de comunicação, um batalha por versões, e que é importante esclarecer a
população com informações oficiais”, escreveu Deltan a um dos assessores. “Se
puderem descrever por cima a força de mídias e blogs que desvirtuam fatos para
usá-los politicamente seria ótimo”.
Dois meses depois, o procurador voltou ao tema ao discutir
com a equipe de comunicação a resposta que dariam a um levantamento do site
BuzzFeed que apontava uma proliferação de notícias falsas sobre a operação nas
redes sociais. “Isso é grave porque a Lava Jato não tem outra proteção que não
a sociedade, que é seu escudo”, disse Deltan ao site.
“Essas críticas, mesmo infundadas, já que ninguém tem tempo
para ir checar cada coisa que escuta, podem fazer a sociedade colocar o pé
atrás em relação à Lava Jato e abrir uma espécie de rachadura nesse escudo de
proteção, permitindo que os ataques sangrem a operação”, acrescentou.
Se havia inimigos em toda parte, alguns pareciam camuflados.
“Odebrecht está pagando de todo lado a imprensa pra nós ferrar”, escreveu
Deltan a uma assessora em julho de 2015, um mês após a prisão do empresário
Marcelo Odebrecht.
“Há notícias de jornalistas pagos e mais de um jornalista já nos contou sofrer
pressão na redação”.
Em fevereiro de 2016, ele reagiu com incredulidade à notícia
de que a Folha aceitara o patrocínio da empreiteira para
um seminário organizado em comemoração ao aniversário de 95 anos do jornal.
“Tive que ver com meus olhos”, afirmou num grupo do Telegram que reunia
procuradores e policiais federais.
O jornal acabara de publicar uma reportagem reveladora sobre
a participação da Odebrecht nas
obras do sítio de Atibaia (SP) que Lula frequentava, mas a
força-tarefa viu o patrocínio como prova de que a Folha estava
comprometida com o inimigo. “Por isso q eles no perseguem”, disse o procurador
Diogo Castor de Mattos no Telegram.
A direção do jornal afirmou na época que não tinha motivo
para discriminar anunciantes ou patrocinadores de eventos e que não havia
nenhuma interferência da Odebrecht na organização do seminário. Jornalistas de
outros veículos que tinham aceitado participar dos debates desistiram após a
divulgação do patrocínio da empreiteira.
As mensagens vazadas mostram que a força-tarefa de Curitiba
também manteve distância de publicações cuja linha editorial era favorável à
Lava Jato, porque algumas eram consideradas partidárias e os procuradores
temiam se associar a elas num ambiente político radicalizado, o que tornaria a
Lava Jato vulnerável a novos ataques.
“Vc deve evitar unir sua imagem a questões políticas”, disse
a procuradora Anna Carolina Resende em meados de 2015, quando era responsável
pela área de comunicação na Procuradoria-Geral da República e sugeriu que
Deltan recusasse um pedido de entrevista. “Temos q estar sempre atentos p sua
exposição nao ser interpretada de forma equivocada”.
Os arquivos recebidos pelo Intercept mostram que Deltan
guardava na agenda do telefone contatos de pelo menos 68 jornalistas. Metade
deles nunca recebeu uma resposta do procurador no Telegram. A maioria só
conseguiu chamar sua atenção por esse meio ocasionalmente.
Muitos jornalistas usaram outros aplicativos para falar com
Deltan, e vários obtiveram entrevistas com ele após a intermediação de sua
assessoria, sem procurá-lo diretamente. Mesmo profissionais que eram vistos com
desconfiança tiveram dúvidas respondidas e foram recebidos em algumas ocasiões.
Embora as mensagens vazadas representem apenas uma parte das
interações entre a imprensa e a força-tarefa, tudo indica que o Telegram era
considerado por jornalistas e procuradores um meio seguro para conversas que exigiam
maior discrição, e isso as torna particularmente relevantes.
Nomes e outros detalhes não serão revelados aqui, porque sua
divulgação representaria uma violação do sigilo assegurado pela Constituição às
relações entre jornalistas e suas fontes de informação, essencial para o
exercício da profissão e para garantir a todos os cidadãos o direito de acesso
à informação.
Os diálogos examinados pela Folha mostram
diversas situações em que procuradores ajudaram repórteres de sua confiança a
chegar na frente dos rivais na corrida pela notícia, ou a encontrar documentos
que, mesmo liberados para o público no sistema da Justiça Federal, tinham
passado despercebidos.
A princípio, não há nada de errado nisso. É o tipo de coisa
que governos, políticos e empresas fazem o tempo todo para garantir exposição
favorável e evitar a divulgação de informações contrárias aos seus interesses.
Da mesma forma, a busca dos jornalistas por acesso privilegiado e exclusividade
é natural no ambiente extremamente competitivo em que trabalham.
No contexto da Lava Jato, no entanto, muitas vezes os
procuradores colocaram em xeque o compromisso assumido com a transparência de
suas ações ao agir dessa maneira e usaram seus contatos na imprensa para
garantir que a visão do Ministério Público prevalecesse na cobertura do caso e
assim ganhasse influência dentro e fora dos tribunais.
As mensagens documentam pelo menos duas ocasiões em que,
após levantar o sigilo dos autos de um processo, Sergio Moro segurou a
divulgação da chave numérica para permitir que os procuradores a fornecessem
primeiro a repórteres de sua escolha, que assim teriam acesso à informação
antes de outros veículos.
Como o juiz tornara públicos os autos, seria impróprio falar
em vazamentos ilegais nesses casos. Mas é claro que, ao segurar a divulgação
das chaves que davam acesso ao material, Moro garantiu uma vantagem para os
jornalistas selecionados pela força-tarefa em detrimento da promessa original
de transparência.
Em dias em que novas fases da operação foram deflagradas,
com prisões e buscas realizadas pela Polícia Federal pela manhã, Deltan
informou alguns jornalistas com antecedência sobre as ações, encaminhando cedo
a eles pelo Telegram as notas oficiais que só foram distribuídas aos outros
jornalistas mais tarde.
O compromisso era que só publicassem as informações quando
toda a imprensa tivesse recebido as notas, mas o procedimento deu a esses
jornalistas uma vantagem importante nos dias de hoje, permitindo que colocassem
a notícia no ar antes que os concorrentes tivessem tempo de ler as notas.
Deltan nunca foi o único integrante da força-tarefa a
conversar com jornalistas, mas as mensagens vazadas mostram que ninguém devia
falar sem que ele ou o procurador
Carlos Fernando dos Santos Lima soubessem. Eles tinham entre as suas
atribuições a coordenação da assessoria de comunicação e a orientaram a lhes
submeter todas as demandas recebidas.
“Deixem-me saber de tudo que acontece de imprensa”, disse
Deltan à equipe de comunicação em fevereiro de 2016. “É importante estar
situado e pensar juntos na mensagem global a ser passada”.
Mas até jornalistas que eram julgados confiáveis foram
tratados com frieza quando sugeriram pautas que a força-tarefa achava
negativas, arriscadas ou embaraçosas. Vários procuraram Deltan no Telegram para
obter informações sobre acordos de delação premiada quando as negociações com
os colaboradores estavam em curso e ficaram sem resposta.
Os diálogos examinados pela Folha mostram
também que, em busca de aproximação com a força-tarefa, alguns jornalistas que
mantiveram contato com Deltan pelo Telegram ignoraram balizas de natureza ética
e usaram a discrição oferecida pelo aplicativo para passar informações aos
investigadores em caráter sigiloso.
Em março de 2015, por exemplo, um editor escreveu a Deltan
para dizer que o filho de um ministro do Supremo Tribunal Federal estava
vendendo facilidades no mercado. O jornalista afirmou que o procurador podia
contar sempre com sua colaboração, porque tinham objetivos comuns.
Na mesma época, três repórteres procuraram o chefe da
força-tarefa para contar que assessorias de comunicação que trabalhavam para
empreiteiras investigadas pela Lava Jato estavam alimentando as Redações com
informações sobre disputas internas na Polícia Federal.
Um desses repórteres chegou a encaminhar ao procurador e ao
próprio Moro um email que recebera de uma assessoria. Como escreveu no
Telegram, ele achava que as empresas estavam tentando manipular os jornais e
entendia que não devia permitir que elas continuassem fazendo isso.
O mesmo jornalista relatou a Deltan nessa época uma conversa
que tivera com advogados de uma empresa e o que descobrira sobre a estratégia
que eles desenvolveram para enfrentar a operação. O repórter contou que tinha
gravado o encontro e disse que poderia mandar uma transcrição.
É comum que jornalistas troquem figurinhas com suas fontes,
mas tudo indica que os envolvidos nesses casos cruzaram a linha ao transmitir
às autoridades informações sensíveis sem a devida comprovação e ao revelar
comunicações mantidas com outras fontes que acreditavam estar protegidas por
sigilo quando falaram com eles.
Vários jornalistas escreveram para parabenizar os
procuradores por resultados obtidos pela operação. Dois recolheram em suas
Redações assinaturas de apoio às medidas anticorrupção patrocinadas pelo
Ministério Público no Congresso, e um deles insistiu com Deltan para
entregá-las pessoalmente em Curitiba.
Alguns repórteres submeteram ao coordenador da força-tarefa
os textos de suas reportagens antes da publicação, para que apontasse erros ou
imprecisões. Outros concordaram em publicar entrevistas que Deltan respondeu
por escrito, inclusive com o acréscimo de perguntas que não tinham sido feitas.
“O repórter deu liberdade para fazer novas pergutnas, desconsiderar
o que entendesse impertiennte, criar”, disse o procurador aos assessores certa
vez. “Temos na nossa mão o que queremos para dar o foco em que quisermos... as
perguntas que criarmos aparecerão como dele, mas temos que manter é claro
sigilo sobre isso rs”.
Alguns meses depois, Deltan ficou contrariado com o
aproveitamento de suas declarações por um jornal estrangeiro que o
entrevistara. Pediu à assessoria que solicitasse a gravação ou sugerisse ao
jornalista a publicação da íntegra da conversa, mas desistiu depois que lhe
explicaram que a proposta seria ofensiva à independência do profissional.
Embora a força-tarefa contasse com aliados nas Redações,
eles sempre pareceram insuficientes. Em junho de 2017, num momento em que as
críticas à Lava Jato se intensificaram por causa do impacto
político da delação dos donos da JBS,
Deltan fez uma reflexão amarga sobre a atuação da imprensa, numa conversa com
os assessores no Telegram.
Na avaliação do procurador, a explicação para os
questionamentos dos jornalistas deveria ser buscada nas ligações dos veículos
que representavam com grupos interessados na estabilidade do governo Michel
Temer (MDB). “Há capitalismo de compadrio”, disse. “O problema é que a imprensa
é dominada por elite política e econômica.”
O coordenador da força-tarefa achava necessário expor essas
relações e lamentava as dificuldades que, na sua opinião, impediam isso de
ocorrer. “Será difícil mudar um estadode compadres, ainda mais quando não há
autocrítica da imprensa”, escreveu aos assessores. “Os compadres usarão
imprensa para manter poder sempre.”
Para Deltan, era como se os questionamentos da imprensa
fossem incompreensíveis, como se repórteres e editorialistas não estivessem
cumprindo um papel legítimo ao examinar com independência e olhar crítico as
ações da Lava Jato. Era como se a imprensa só existisse para ser usada, como
Moro havia escrito em seu artigo sobre a Mãos Limpas.
Outra onda de críticas atingiu a operação no início deste
ano, antes do vazamento das mensagens do Telegram, após o anúncio do acordo que
entregava a uma fundação
controlada pelo Ministério Público a gestão de uma multa bilionária
acertada pela Petrobras com autoridades dos Estados Unidos em 2018.
O acordo
acabou revisto depois que a Procuradoria-Geral da República recorreu
ao Supremo Tribunal Federal para suspendê-lo, mas acirrou tensões nas relações
entre a cúpula do Ministério Público Federal e a força-tarefa, provocando novas
reflexões sobre a estratégia de comunicação do grupo.
Em abril, os procuradores de Curitiba se reuniram para rever
sua atuação e definir metas com a equipe de comunicação. Uma das propostas era
buscar um diagnóstico aprofundado sobre a imprensa e sua relação com a Lava
Jato. “Inspirar, ouvir críticas, esclarecer fundação”, anotou Deltan numa
mensagem aos assessores. “Pedir apoio sobre objetivos de médio e longo prazo.”
Para o chefe da força-tarefa, um objetivo era emergencial.
“Paz para trabalhar, cuidar da imagem e neutralizar riscos”, escreveu no
Telegram. As mensagens vazadas, que começaram a ser publicadas pelo Intercept
em junho, não permitem saber como esse debate terminou, mas é certo que o
vazamento tornou essa meta mais difícil de alcançar.
FORÇA-TAREFA DIZ QUE OBJETIVO ERA DIVULGAR INFORMAÇÕES
CORRETAS E ESCLARECER DÚVIDAS
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba afirmou que suas
comunicações com a imprensa desde o início das investigações tiveram como
objetivo assegurar a divulgação de informações corretas e o esclarecimento de
dúvidas dos jornalistas.
“Diversas vezes fatos foram deturpados e a força-tarefa
sempre buscou esclarecê-los, assim como assegurar que a informação fosse
transmitida de modo fidedigno, mediante notas e também por meio de contatos com
jornalistas”, disse, por meio de nota.
“A grande maioria dos pedidos da imprensa, dos mais variados
veículos, foi atendida dentro do prazo solicitado mediante notas,
esclarecimentos verbais e entrevistas coletivas e individuais de procuradores”,
afirmou.
“Cabe ao veículo ou ao jornalista optar por fazer por
escrito eventual entrevista, já tendo sido recebidas questões escritas de
diferentes veículos, inclusive de jornalista da Folha de S. Paulo”,
acrescentou.
Os procuradores reiteraram que não reconhecem a
autenticidade das mensagens vazadas, “que têm sido usadas, de modo
descontextualizado ou deturpado, para fazer acusações que não correspondem à
realidade”.
Informado sobre o conteúdo das mensagens, o ministro
da Justiça, Sergio Moro, disse que elas não permitem afirmar que ele ou os
procuradores da Lava Jato tenham privilegiado jornalistas no acesso aos
processos da operação. Na sua opinião, a Folha fez uma
“interpretação falsa” dos diálogos.
“Ainda que se tivesse escolhido divulgar a informação a um
jornalista em detrimento de outro, não haveria qualquer ilícito ou
irregularidade”, acrescentou o ministro. Ele reiterou que não reconhece a
autenticidade das mensagens e disse que a Folha faz
sensacionalismo ao divulgá-las.
Ricardo Balthazar é repórter especial da Folha,
onde foi editor de Poder e Mercado.
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