Nos últimos três meses o Banco Central ficou mais otimista.
No relatório que divulgou ontem, o BC fez uma revisão para cima da projeção de
crescimento deste ano e do próximo e indicou que a alta será puxada pelo
investimento e pela melhora na construção civil. Acha que a inflação ficará num
nível “confortável”, o que permitirá juros em níveis baixos por um longo
período. O mercado de crédito está crescendo 6,9% este ano e no ano que vem vai
se ampliar mais 8,1%. Tudo isso se vê no Relatório de Inflação, divulgado a
cada três meses, e que na verdade é uma avaliação geral sobre a economia.
Em crescimento, a diferença não é tão grande, mas nestes
tempos bicudos qualquer número depois da vírgula já se comemora. O BC subiu de
0,9% para 1,2% a estimativa para o PIB deste ano e de 1,8% para 2,2% a de 2020.
O problema mais sério da economia continuará sendo o mercado de trabalho, que
terá queda gradual da taxa de desemprego.
Em novembro, foram criadas 99 mil vagas formais, segundo
divulgou o Ministério da Economia. O número veio acima das projeções de mercado
e é o melhor novembro em uma década. Isso ajudou a impulsionar o Ibovespa, que
bateu mais um recorde e chegou a 115 mil pontos. No acumulado do ano, o país já
gerou 948 mil vagas com carteira assinada, um pouco mais que os 858 mil do
mesmo período de 2018. Mas que ninguém se iluda. A recuperação é lenta e tem
números oscilantes tanto no Caged quanto no IBGE. E dezembro, no emprego
formal, costuma ser negativo. Essa geração de vagas que houve até agora em 2019
não é suficiente para absorver nem o aumento anual da força de trabalho. A
última Pnad apontou aumento de 1,4 milhão de pessoas na força de trabalho em 12
meses e mostrou que o emprego informal é o que mais cresce nesta recuperação.
Na visão do diretor de Política Econômica do Banco Central,
Fábio Kanczuk, o PIB vem ganhando força, ainda que haja disparidade entre os
setores da economia. Enquanto o comércio já vem melhorando há mais tempo, os
serviços têm dados mais fracos, e a ociosidade da indústria continua muito
elevada. A boa notícia aconteceu na construção civil, que teve estimativa de
crescimento deste ano revisada de 0,1% para 2,1%. Kanczuk acha que essa melhora
deixou de ser apenas em São Paulo e já acontece em vários estados do país.
— As séries não contam uma história só, elas são um pouco
diferentes, algumas já mostram uma tração, outras ainda andam de lado. O
importante é ter visão global. Há essa divergência, mas a economia está
acelerando desde o segundo trimestre — disse Kanczuk na apresentação do
Relatório.
O presidente Roberto Campos Neto acha que a construção civil
ganhou impulso pelas mudanças feitas pelo BC no financiamento imobiliário, com
o uso do IPCA para a correção dos contratos. Segundo ele, em algumas linhas
mais baratas já houve redução em mais de 25% no valor das prestações. Se todos
os contratos forem renegociados, Campos Neto aposta que até R$ 2 bilhões podem
ser liberados no orçamento das famílias. Ele acredita que os bancos vão querer
negociar taxas mais baixas para não perder clientes porque a portabilidade está
crescendo.
O comércio internacional tem revisões para baixo. Para se
ter uma ideia, a previsão que o BC faz de exportação para este ano caiu US$ 7
bilhões desde o relatório de setembro. E para o ano que vem encolheu em US$ 11
bilhões. O déficit em transações correntes será de US$ 51 bilhões este ano e de
US$ 57 bilhões em 2020.
O Relatório deu poucas pistas sobre os rumos do Copom e o mercado
continua em dúvida se haverá novo corte, e, havendo, se será de 0,25 ponto ou
meio ponto. O BC pregou novamente “cautela” na condução da política monetária e
reforçou que precisará acompanhar a evolução dos dados.
Os números do relatório estão melhores, mas é bom ter em
mente que 1,2% é praticamente o mesmo crescimento do PIB do ano passado e do
ano anterior. Esse triênio 2017-2019 termina com uma taxa pífia do PIB. O Banco
Central e os bancos voltam a apostar que em 2020 o ritmo de expansão da economia
não apenas será maior como será o começo da retomada. Que desta vez tenham
razão.
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