O Natal em família
já foi difícil para o cidadão comum, com brigas políticas e perguntas como
“Cadê o Queiroz?”. “E o Flávio Bolsonaro?”. Imaginem para quem trabalha com
política, é amigo do Queiroz e
pai do Flávio, ou seja, o próprio presidente da República?
pai do Flávio, ou seja, o próprio presidente da República?
Para não aturar tais
aborrecimentos, Bolsonaro aproveitou o tombo
no banheiro para passar o Natal sozinho em casa, longe da família.
Na noite do dia 24,
enquanto comia um miojo natalino temperado com passas, um vento forte abriu as
janelas. Surgiu na sala um fantasma de longa barba branca e capuz
vermelho. “Eu sou o espírito de Natal”, ele se apresentou. “Vim ajudá-lo a
refletir sobre seu governo.”
Para o presidente,
seu primeiro ano tinha sido satisfatório. Estava devolvendo ao país os valores
conservadores e da família —embora, ultimamente, estivesse de saco cheio
da sua.
Com um estalar de
dedos, o fantasma projetou na parede imagens de diferentes lugares do país.
Mostrou escolas danificadas e faculdades sucateadas. “Seu governo cortou
milhões em verba para educação.” O presidente retrucou: “Mas faculdade só
promove balbúrdia. Tem que acabar com isso aí”.
O espírito exibiu
filas de desempregados e famílias em situação de miséria. “Vossa excelência
prega que ações sociais são assistencialismo”, acusou o fantasma. “Chega a
alegar que não existe fome no Brasil.” Bolsonaro discordou mais uma vez,
dizendo que nunca viu uma pessoa magrinha na rua.
Projetou imagens da
Amazônia devastada pelas queimadas, de animais mortos com óleo e indígenas
assassinados. “Seu discurso contra o meio ambiente e a favor dos ruralistas
contribui para tragédias como essas.” O presidente protestou: “É tudo culpa das
ONGs!”.
Se continuar assim,
o espírito advertiu, no futuro, vão se lembrar de Bolsonaro como o pior
presidente da história do país. “Mas quem traça o seu destino é você. O que vai
fazer para mudar isso?”
Bolsonaro refletiu
por um tempo em como gostaria de ser lembrado. Mas logo praguejou: “Esse papo
de história e destino é coisa de universitário maconhista”. E empurrou o
espírito pela janela. “Cai fora do meu Palácio, seu fantasma esquerdopata. Se
quisesse ver retrospectiva, ligava na Globo Lixo, taokey?”
Flávia Boggio
Roteirista e autora
do núcleo de humor da Globo
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