Bolsonaro não fará falta
Um dia, o presidente Jair Bolsonaro diz que se seu filho
Flávio Bolsonaro “errou e for provado”, lamentará como pai, mas que “ele terá
de pagar o preço por aquelas ações que não temos como aceitar”. Foi em 23 de
janeiro último, em Davos, na Suíça, onde Bolsonaro estava para participar do
Fórum Econômico Mundial.
Em outro dia, Bolsonaro diz que há um abuso do Ministério
Público nas investigações sobre o desvio de dinheiro público que envolve Flávio
e Queiroz e que pode atingir a família presidencial. E que é preciso controlar
o Ministério Público. Foi ontem. E desabafou: “Agora, se eu não tiver a cabeça
no lugar, eu alopro”.
Controlado, Bolsonaro jamais foi desde que, afastado do
Exército por indisciplina entrou para a política e viveu quase 30 anos como
deputado federal. Mas ao fim do seu primeiro ano de governo, ele dá sucessivos
sinais de um descontrole exacerbado, o que levanta dúvidas sobre se terá
condições de completar seu mandato.
Na última sexta-feira, Bolsonaro atacou um jornalista
dizendo que ele tinha cara de homossexual. Nesse sábado, convidou jornalistas
para uma conversa e disse, entre outras coisas, que é “um político tosco” e que
na economia seu patrão é o ministro Paulo Guedes. Desejou Feliz Natal “mesmo
sem carne para alguns”.
Não ficou por aí. Admitiu que está infeliz como presidente
da República porque a vida “é muito sacrificante”. À parte os generais
presidentes da ditadura militar de 64, presidente algum da redemocratização do
país para cá queixou-se tanto do cargo e revelou-se tão pouco capaz de
exercê-lo.
A facada de Juiz de Fora fez muito mal a ele. Mais à cabeça
do que ao resto do corpo. Bolsonaro tornou-se um paranoico. Enxerga ameaças à
sua vida por toda parte. Evita passear na área externa do Palácio da Alvorada
com medo de ser assassinado por um drone. Veste colete à prova de balas. Tem
sempre armas por perto.
“Não dá para saber tudo o que acontece dentro do governo”,
constata. Desconhece que um presidente não precisa saber tudo o que acontece
dentro do seu governo, apenas o principal. Que não precisa entender de tudo,
mas cercar-se de quem entenda. Mas que há de ter bom senso e noção de para onde
quer conduzir o país.
São qualidades que ele não tem. Sua eleição foi um acidente,
resultado de uma conjuntura que não se repetirá. Seu governo é acidental. Parte
dos que votaram nele já se arrependeram. A mais recente pesquisa IBOPE revelou
que cresce a desaprovação ao seu desempenho. A palavra “impeachment” começa a
ser ouvida.
O impeachment parece improvável em um país onde dois
presidentes acabaram no chão no curto período de 23 anos. A adoção do
parlamentarismo como sistema de governo não parece assim tão improvável. Quando
nada porque, na ausência de um presidente funcional, é nessa direção que se
caminha.
A não ser seus devotos mais fiéis e irascíveis, Bolsonaro
não deixará órfãos se cair ou se acabar ficando como um presidente decorativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário