Não é pouca coisa o fato de que a crítica mais cortante ao
caos no Ministério da Educação tenha partido do presidente da Câmara. Nem que o
presidente do Senado tenha feito circular uma ameaça de retaliação ao governo
diante do desmanche da Casa Civil. O Planalto já não tem apoio firme no
Congresso, mas a situação sempre pode piorar.
Jair Bolsonaro assiste a disputas de poder em postos-chave
de sua gestão, envolvendo diretamente os interesses de caciques políticos que
podem facilitar ou dificultar sua vida. O presidente amplia o risco de
turbulências a poucos dias do retorno das atividades parlamentares.
Dirigentes de siglas alinhadas à agenda do governo ficaram
atônitos com a humilhação pública a que Bolsonaro submeteu Onyx Lorenzoni nos
últimos dias. A decisão de esvaziar ainda mais a já debilitada estrutura da
Casa Civil reacendeu insatisfações com o trabalho desastrado de articulação
política do Planalto.
A fritura do ministro foi atribuída a um consórcio de
diversos integrantes do primeiro escalão —entre eles o general Luiz Ramos,
chefe da Secretaria de Governo. Onyx nunca foi unanimidade entre os líderes do
Congresso, mas o militar também acumula desafetos. Sua relação é especialmente
ruidosa com Davi Alcolumbre, presidente do Senado.
Em dezembro, Ramos descreveu o Planalto como “um
serpentário”. “Quanto mais próximo do presidente, mais você é alvo. Assim, se
você me atinge, atinge o presidente”, disse. Sua analogia será testada agora.
O governo também produziu atritos quando o ministro da
Educação demitiu, sem aviso prévio, um aliado de Rodrigo Maia do FNDE —órgão
com orçamento de R$ 55 bilhões. O presidente da Câmara aproveitou as
barbeiragens do Enem e disse que Abraham Weintraub é “um desastre”.
Perturbações como essas certamente não ajudam a agenda que
Bolsonaro gostaria de aprovar na Câmara e no Senado. Aos poucos, o Planalto
perde o controle da reforma tributária e vê suas medidas de aperto fiscal
andarem com lentidão.
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