Em outros governos, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, o mais desprestigiado no Palácio do Planalto, já teria pego o boné e
ido embora; e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, o mais criticado por
causa das trapalhadas na pasta, já teria sido exonerado. Mas, no governo
Bolsonaro, ninguém é demitido por pressão externa, as críticas parecem ser uma
espécie de salvo-conduto para permanecer na Esplanada. Tem até ministro que
briga com a imprensa e o Congresso para agradar ao presidente da República e se
segurar no cargo. Ninguém pede para sair.
Ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), às
vésperas da retomada dos trabalhos legislativos, fez duras críticas ao ministro
da Educação, cuja gestão classificou como um desastre. “O ministro da Educação
atrapalha o Brasil, atrapalha o futuro das nossas crianças, está comprometendo
o futuro de muitas gerações. Cada ano que se perde com a ineficiência, com um
discurso ideológico de péssima qualidade na administração, acaba prejudicando
os anos seguintes. Mas quem demite e quem nomeia ministro é o presidente”,
afirmou Maia, que participou de um seminário sobre desenvolvimento em São
Paulo.
Weintraub é um casca-grossa da turma do confronto do
governo, Bolsonaro gosta do estilo e prestigia seu ministro, mas os fatos são
teimosos. Os erros administrativos se repetem, o desgaste do governo na
Educação aumenta. O ministro tem a seu favor a implantação das escolas
militares, mas isso é muito pouco diante dos desafios da educação no país.
Entretanto, a narrativa de combate ao método Paulo Freire, adotado em todo
mundo para erradicar o analfabetismo, e as críticas ao chamado “marxismo
cultural” vão mantendo o ministro no posto, mesmo havendo, dentro do próprio
governo, crescente insatisfação com seu péssimo desempenho. Como a Educação é
uma área muito sensível do ponto de vista político, vai ser difícil para o
ministro sobreviver ao bombardeio que virá do Congresso. As declarações de Maia
foram a senha para que os demais deputados passem à ofensiva contra Weintraub.
Esvaziado definitivamente na Casa Civil, com a decisão do
presidente Jair Bolsonaro de tirar o Programa de Parcerias Publico-Privadas e
Investimentos (PPI) da pasta, o ministro Onyx Lorenzoni ainda está em férias e
ninguém sabe o que pretende fazer quando voltar. É possível que reassuma seu
mandato de deputado federal na Câmara, aproveitando o começo do ano legislativo,
para se reposicionar na bancada do DEM, da qual já foi líder. Lorenzoni foi um
dissidente do seu partido nas eleições passadas, com o governador de Goiás,
Ronaldo Caiado, que também apostou na eleição de Jair Bolsonaro e levou.
Parcerias e investimentos
Colega de Câmara e aliado de primeira hora de Bolsonaro, o ministro da Casa Civil foi seu coordenador político de campanha e liderou a equipe de transição do governo. Na divisão do bolo, porém, a parte do leão ficou com o ministro da Economia, Paulo Guedes; Lorenzoni teve que dividir o poder político com os militares, que acabaram esvaziando completamente sua pasta e afastando-o do Estado-maior do governo.
Colega de Câmara e aliado de primeira hora de Bolsonaro, o ministro da Casa Civil foi seu coordenador político de campanha e liderou a equipe de transição do governo. Na divisão do bolo, porém, a parte do leão ficou com o ministro da Economia, Paulo Guedes; Lorenzoni teve que dividir o poder político com os militares, que acabaram esvaziando completamente sua pasta e afastando-o do Estado-maior do governo.
O papel de articulador político do Planalto foi passado ao
ministro Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, que é general e
amigo de Bolsonaro. A Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ), que analisa a
viabilidade jurídica dos atos assinados pelo presidente, foi transferida para a
Secretaria-Geral, comandado pelo ministro Jorge Oliveira Ramos. O último trunfo
de Onyx era o Programa de Parcerias Público-Privadas e Investimentos (PPI), que
estava tocando com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, uma
unanimidade no Congresso.
Ocorre que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está em
rota de colisão com a Câmara quanto ao novo marco regulatório das concessões e
privatizações, cuja negociação estava passando muito mais pela Casa Civil do
que pela equipe econômica. A crise com o então secretário executivo da Casa
Civil, Vicente Santini, que foi de Davos, na Suíça, a Nova Délhi, na Índia, num
jatinho da FAB, utilizando como pretexto as negociações envolvendo o PPI, foi a
deixa para Guedes pôr as mãos no programa, que sempre quis gerenciar. Santini
era o principal responsável pelo PPI na equipe de Lorenzoni.
Há uma expectativa de que Lorenzoni antecipe a volta das
férias e desembarque ainda hoje em Brasília. Fala-se na possibilidade de Onix
ir para a Educação e Abraham Weintraub, para a Casa Civil. As duas pastas são
territórios povoados por gente ligada aos filhos de Bolsonaro, o senador Flávio
Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Os dois ministros também são
alinhados com o guru ideológico do clã, Olavo de Carvalho.
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